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Catherine Classic - Análise - Um verdadeiro clássico

Ainda hoje é singular e excêntrico.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
O material original de Classic é suficientemente encorpado e de uma colheita singular, mesmo 8 anos depois e sem as novidades de Full Body.

Poderá ser difícil de acreditar, mas estamos perto de celebrar 8 anos desde o lançamento original de Catherine na Xbox 360 e PS3 - esse irreverente clássico multi-facetado que deixará o teu comando em constante estado de perigo.

Catherine é um título incrivelmente peculiar e a constante sensação de singularidade que emana é visível desde os seus alicerces. Catherine foi imaginado por Katsura Hashino, produtor/director em jogos como Persona 3, Persona 4 e Persona 5, que liderou uma equipa na perseguição de um jogo diferente no catálogo da companhia.

Muito mais importante do que isso, foi a busca por um jogo adulto cujas temáticas sensuais são apenas uma das inúmeras facetas que apresenta. Catherine poderá ser visto como um jogo sobre sedução, traição ou até sexo, mas como descobrirás ao entrar no mundo de Vincent Brooks, existem muitas outras lições e valores que são transmitidos neste especial da Golden Playhouse (uma espécie de Twilight Zone que quebra a quarta dimensão).

Não é à toa que Catherine está repleto de decisões para tomar, de conversas que podes ter ou deixar de ter, não apenas para alcançar um dos vários finais possíveis, mas para servir a sua temática em que sentirás que estás constantemente a ser testado. Para isso, Catherine divide-se em três fases distantes: as cutscenes com os momentos principais, os quebra-cabeças na forma de enormes torres de blocos que terás de escalar, e o tempo que passas no bar a conversar com outras pessoas.

Sim, Catherine é verdadeiramente um jogo diferente e muito próprio, que enverga todo o estilo da equipa responsável por Persona e onde encontrarás pequenos elementos que viriam a ser usados em Persona 5.

Já passaram quase 8 anos desde o lançamento do original

A peculiar história de Catherine poderá ser encarada como uma análise ao actual estado da sociedade e de como encaramos compromissos como o casamento e até a relação com outra pessoa. Vincent Brooks é o teu avatar nesta série de desventuras e quando a sua namorada lhe diz que está na hora de dar um passo e casarem, as dúvidas e o pânico instalam-se. As coisas ficam ainda piores quando encontra uma mulher mais nova e passa uma noite com ela.

Através da sátira e humor, com a ajuda de alguns clichés, a Atlus parece olhar novamente para a sociedade Japonesa e mistura real com fantasia, sempre oscilando entre o pertinente e a fantasia. É uma receita que fez sucesso na série Persona. Vincent vê-se em mais apuros quando dá por si envolvido com uma amante e quando é forçado a lutar pela sobrevivência nos seus pesadelos.

Vincent entra numa realidade paralela e o que pareciam ser pesadelos são na verdade frenéticas escaladas contra o tempo em que terá de usar os blocos das torres para chegar ao topo. São autênticos quebra-cabeças onde terás de conciliar precisão e velocidade de uma forma totalmente inesperada. Catherine pode ser devastador para o teu ego e o gameplay aparentemente simples é um autêntico engano.

Existem diversas técnicas para te ajudar e contornar as diversas armadilhas que vão sendo adicionadas ao longo dos níveis, mas os quebra-cabeças de Catherine são do mais viciante que há. Dificilmente aceitarás a derrota e com a ajuda do botão "Undo" poderás repetir movimentos até acertar, mas as regras do jogo e desafios são tantos que o comando poderá voar a qualquer momento.

O ritmo e dificuldade de Catherine podem ser de tal forma alucinantes que o teu pobre cérebro terá dificuldade em acompanhar. Não te admires se à noite, a tua mente não te deixar dormir porque estás a pensar nos blocos e como não conseguiste passar uma secção. Talvez seja por isto que a Atlus usa ovelhas para representar os outros humanos presos com Vincente naquele mundo.

Quando não estás nos pesadelos de Vincent a empurrar bloco, puxar bloco, criar escadas de blocos para chegar ao checkpoint, a pensar em como evitar blocos de gelo e como mandar blocos para o abismo pode colapsar outros e criar uma escada, estarás no bar a beber ou a conversar com (inicialmente) estranhos.

Uma escalada contra o tempo, com blocos, armadilhas e criaturas aterrorizadoras, assim é este Catherine

Se no mundo dos pesadelos Catherine é um frenético quebra-cabeças cronometrado que vai enfurecer o teu cérebro, no bar tens uma espécie de simulador de interacção social que te ajudará nos pesadelos. Desde beber ou enviar mensagens a Katherine (namorada) ou Catherine (amante), podes jogar Rapunzel na arcade (quebra-cabeça de blocos virtual dentro de um mundo virtual) e conversar com os outros clientes - algo que se revelou inesperadamente interessante.

A Atlus sabe bem criar histórias para personagens secundários e no caso de Catherine, Vincent poderá salvar muitos NPCs através das conversas dentro e fora dos pesadelos. Consoante os dias passam e sobrevives aos pesados, as conversas desenvolvem e o mistério intensifica-se. Catherine leva mesmo até ao fim os seus segredos e terás de resistir para descobrir tudo.

Quando estás no bar, desfrutarás de um ambiente relaxado, com várias situações de humor e mistério. Ao conversar com os NPCs poderás descobrir pistas para o que se está a passar e até para saber mais do que Vincent pensa. Nestes momentos, o charme de Catherine sobressai e é difícil não admirar a Atlus pela pura audácia de implementar segmentos como este e especialmente pela capacidade em os tornar numa parte tão importante da experiência.

Não sei se o tinha dito, mas Catherine é um jogo duro e implacável, onde os quebra-cabeças são verdadeiramente impiedosos. Quando estás no bar, estás relaxado e em pleno contraste com essa violência psicológica das torres de blocos. Catherine é um jogo extremamente difícil que exigirá imenso de ti nas escaladas, mas quando consegues, a sensação de triunfo não tem igual.

Este excêntrico jogo de quebra-cabeças vai testar a tua paciência e a sensação de triunfo no final será incrível

Apesar de todos os méritos desta produção da Atlus, Catherine Classic demorou 8 anos a chegar e o momento escolhido apenas torna ainda mais confusa a sua situação. A SEGA demorou muito tempo a apresentar esta versão de um jogo sensacional, mas a iminente chegada de Catherine: Full Body deixa-nos a pensar que podia ter esperado mais alguns meses.

Catherine Classic não terá quaisquer problemas em fascinar uma nova audiência, mas como poderás constatar facilmente ao jogar a demo de Full Body, existem imensas novidades nesta nova versão que não estão aqui presentes. Sem esquecer que as secções de quebra-cabeças não correm a 60fps, uma oportunidade perdida. Full Body apresenta uma nova personagem, mais história, gameplay evoluído, novas cenas e mais desafios, prometendo ser muito mais do que um mero remaster para a PlayStation 4.

É pena não ter isto na versão Steam e terás de esperar por uma eventual versão PC de Full Body, mas por enquanto tens Catherine Classic - um jogo sem igual. O gameplay demoníaco, o seu charme, personalidade, banda sonora, humor, personagens e o simples facto de não existir nada parecido fazem dele um grande clássico.

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