Child of Eden
Ácidos no paraíso.
Child of Eden é certamente um dos jogos mais esperados desta segunda fornada para o Kinect da Xbox 360, versão que já está à venda nas lojas. A possibilidade de podermos interagir com um mundo virtual, ao estilo do fantástico Rez e saborear todo o aspeto altamente psicadélico, com música sempre a bombar é algo que poucos jogos conseguem fornecer. Apesar do conceito não ser novo, podemos referir a obra de Tetsuya Mizuguchi, Rez, como o mais natural antecessor a Child of Eden. Jogar com o Kinect é uma experiência que traz muitas recompensas para o jogador, apesar de ser possível jogar com o comando normal.
Child of Eden transporta-nos para o interior de uma rede virtual, o Eden, onde muitos anos antes foi concebido o primeiro bebé/memória virtual para gerações futuras, chamada de Lumi, que foi a primeira criança nascida numa estação espacial. Mas nem tudo é um paraíso, pois o Eden é atacado por um vírus (serão os hackers?), fazendo com que as memórias de Lumi sejam fragmentadas. O nosso objetivo é entrar nesta rede virtual e, num formato de shooter, conseguir destruir todas as ameaças e poder restaurar Lumi.
Apesar de parecer um banal shooter, Child of Eden consegue distanciar-se do formato normal, pois recorre em grande parte a um sistema on-rails, apesar de podermos olhar em diversos ângulos. A história é contada por diversas cinemáticas, todas elas recorrendo a uma beleza rara, misturando imagens reais com arte digital. Sim, é difícil para qualquer pessoa não considerar arte Child of Eden, onde estamos constantemente perante aguarelas psicadélicas.
O jogo divide-se por cinco níveis, ou no fundo podemos dizer ambientes. Cada ambiente tem as suas particularidades que, em suma, se resumem à forma de construção e sua relação com a música. Os ambientes representam locais abstratos, com nomes de Matrix, Evolution, Beauty, Passion e Journey. Existem três níveis de dificuldade, mas conforme jogamos e repetimos os níveis, os mesmos se "transformam" de acordo com a nossa eficácia. No fim de cada nível temos bosses que são no fundo um tipo de escudo que bloqueia as lembranças do Project Lumi.
Como já devem ter reparado Child of Eden é um jogo extremamente abstrato, onde os conceitos normais em termos gráficos e ambiente são quebrados de todas as formas. Não existe uma ligação de espaço, que possamos dizer "Aqui é a terra e aqui é o céu". Por isso contem com uma viagem onde as referências reais serão construídas muitas vezes na nossa mente.
A jogabilidade é um dos pontos altos do jogo. Penso que se colocarmos Child of Eden apenas como jogo de comando, toda a lógica e formato é perdido. Se têm uma Xbox 360 deverão ter este jogo com o Kinect. Com a mão direita direcionamos uma mira azul, que ao passar pelos inimigos vai selecionando as zonas onde podemos disparar. Depois de selecionar as zonas, temos que disparar por efetuar o movimento para a frente com a mão e braço, como se estivéssemos a fazer um "kamehameha" só com uma mão.
Depois temos a mão esquerda que funciona como arma de tiros diretos, com a cor rosa. Neste caso teremos que navegar com a mira por mexer a mão, direcionando assim os tiros que são disparados de forma automática e seguidos. O mais interessante deste formato é que tudo funciona bem. Não existe qualquer problema na troca de mãos, onde rapidamente trocamos de formato de disparo, consoante o tipo e local do inimigo.
Falar de Child of Eden é também referir a sua música, criada pelo grupo de Tetsuya Mizuguchi, os Genki Rockets. Como pormenor interessante, a personagem virtual Lumi é proveniente deste mesmo grupo, onde fez capa do seu álbum de 2008. E claro, não esquecer a ligação direta com outro jogo de Tetsuya Mizuguchi, o Lumines. Como referido, cada ambiente tem o seu estilo. Uns mais na onda do Chill out e outros mais virados para a música eletrónica, como acid e trance, embora não tão pesado como gostaria. A música é alterada conforme jogamos, os disparos e as explosões reagem em termos musicais, criando de certa forma a nossa própria banda sonora.
Mais que um jogo, Child of Eden é uma experiência, que pelo seu aspeto abstrato poderá afastar a maioria dos jogadores habituados a jogos mais diretos. Por outro lado o jogo é parco em termos de longevidade. Existem diversas coisas para desbloquear e claro não esquecer as tabelas online que controlam os tempos dos níveis, o nível de sucesso e itens desbloqueados. Para alguns poderá também ser irritante ter que começar cada nível de novo sempre que morremos. Jogar contra o último boss e morrer mesmo no último segundo e ter que repetir todo o nível novamente, parece-me um pretexto escusado em termos de longevidade.
Child of Eden vence muito pelo uso do Kinect, onde considero que seja a melhor aplicação em jogos depois de Dance Central, mas que diferente deste não nos incentiva à repetição. Poderão repetir os níveis, tentar ter tudo a 100%, mas não é em si uma experiência que mude muito da anterior. Child of Eden é uma lufada de ar fresco mas que vive pela experiência imediata, e dificilmente se torna num jogo para ser jogado diversas vezes. Para isso prefiro um bom CD e Chill Out deitado.