Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition - Imensos asteriscos
Um fenomenal JRPG numa versão difícil de defender.
Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition soou como um sonho quando foi anunciado em fevereiro. Tornou oficial a possibilidade de jogarmos um dos maiores clássicos de culto da Squaresoft para a PS1. Lançado em 1999, Chrono Cross não chegou à Europa e até a revelação deste anúncio era visto como uma das maiores mágoas dos adeptos do género no velho continente. Até agora, a forma mais legalmente possível de o jogar passava por criar uma conta dos Estados Unidos na PS3 ou PS Vita e comprar a versão PS1, algo que certamente muitos fizeram com todo o gosto.
A chegada da Radical Dreamers Edition parecia então esse sonho, especialmente porque inclui Radical Dreamers, uma aventura em texto que aprofunda este peculiar universo. Não consegue em pleno o efeito pois não cumpre com o que esperavas de um remaster, mais parece um port HD com pouco do qual se pode gabar. Como provavelmente já sabes, o desempenho não é o melhor e nem sequer temos um jogo otimizado para 60fps. Não consegue sequer consegue 30fps perfeitos.
O título é uma maravilha e uma das maiores obras primas do género que tive o prazer de descobrir (joguei a versão PS1 numa PS Vita há muitos anos atrás). A banda sonora composta por Yasunori Mitsuda é dos melhores trabalhos de sempre nesta indústria, o sistema de combates é cativante, sentes vontade em conhecer o elenco e toda a trama em torno de dimensões paralelas é simplesmente memorável. Estes elementos combinam com graciosa sintonia para formar uma das mais majestosas experiências vindas do Japão.
Sim, Chrono Cross é assim tão bom e, apesar de menos conhecido do que o igualmente magistral Chrono Trigger, merece todos e quaisquer elogios que já ouviste sobre ele. Imaginar em 1999 jogar um JRPG focado na viagem entre dimensões paralelas, com grandes diferenças de uma para a outra (um personagem que podes recrutar numa dimensão está morto ou nem existe na outra, por exemplo), sem esquecer que atos numa dimensão podem ter impacto direto na outra, certamente se torna compreensível como espalhou brilho no imaginário dos jogadores que apostaram nesta proposta da Squaresoft, que na altura cavalgava com toda a força sobre o sucesso de Final Fantasy no ocidente.
Se Chrono Trigger se focou nas viagens no tempo, Cross focou-se no cruzar de dimensões e o resultado é um jogo encantador e apaixonante. Mesmo nos dias de hoje, mesmo nesta versão, é fácil ficar encantado com o conceito do jogo, as suas temáticas e as cargas dramáticas que sentirás ao longo da jornada de Serge, um jovem que sem querer cruza para uma dimensão paralela na qual morreu quando era mais novo. Tudo começa de forma muito inocente e com aquele espírito aventureiro e livre, mas rapidamente surgem as reviravoltas de contornos sombrios que te deixam boquiaberto.
Com um sistema de combate por turnos (não são aleatórios pois os inimigos estão visíveis nos cenários) focado na Stamina, que determina o número de golpes que podes executar no mesmo turno, Chrono Cross é um jogo diferente e mesmo hoje em dia é difícil encontrar algo exatamente igual a esta arrojada aposta da Squaresoft. Elementos herdados de Chrono Trigger, como combinar ataques especiais, também ajudam a tornar este sistema de combate num dos seus melhores elementos, mesmo tantos anos depois da versão original ter chegado às lojas.
A própria forma de evoluir os personagens é um atestado da peculiaridade deste Chrono Cross. Ao terminar as batalhas não ganhas pontos de XP para subir de nível, ganhas a possibilidade de melhorar atributos específicos que desejas. No entanto, existe um limite para o número de melhorias e terás eventualmente de derrotar mais um boss e desbloquear mais uma vaga de melhorias. É uma forma pensada para diferenciar Chrono Cross dos outros JRPGs da altura e permitir alguma personalização na evolução dos personagens. Essa linha de pensamento também se aplica aos Elementos que dão acesso à magia. Tens de evoluir o personagem para equipar magias mais poderosas e desta forma tens uma constante e forte ligação entre progresso narrativo e evolução de personagens.
Chrono Cross é um dos meus jogos favoritos de sempre, uma verdadeira paixão que transporto comigo há vários anos e que tive imenso prazer em descobrir mais uma vez. Agora numa versão com percetíveis melhorias gráficas. No entanto, esta nova versão não é tudo o que esperas de um remaster. Sim, jogar um jogo destes numa TV 4K de grande tamanho resulta numa experiência um pouco estranha e provavelmente combina melhor com a Switch em modo portátil, mas ainda assim é possível sentir o encanto de Chrono Cross numa consola caseira. O problema está no desempenho, como já ouviste inferior ao da versão PS1 original, e na qualidade geral das atualizações.
Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition devia ser um sonho tornado realidade, um clássico de culto que ostenta das mais exuberantes qualidades colocado perante o olhar de todo o mundo como deveria ter acontecido em 1999. Consegue-o apenas em parte, pois o desempenho é mesmo uma grande lacuna. Os novos modelos 3D conseguem um bom efeito para o atualizar; os cenários também, mas em menor medida. A banda sonora continua divinal e podes perceber o deslumbre do original através desta versão. É uma pena que a Square Enix não se tenha esforçado para ir mais além do que um produto que, quase parece uma emulação glorificada, e não um remaster com melhorias significativas.
Prós: | Contras: |
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