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Consolas nas escolas para ocupar os tempos livres

Estudo da investigadora Maria José Araújo abre discussão.

Há um desfasamento evidente, contrastante, como se uma coluna censuradora e inquisitória disparasse cada vez que alguém se propõe enunciar sentidos programáticos, consoantes com a realidade em que estamos inseridos. É um factor incontornável que a indústria dos jogos está a crescer ano após ano, principalmente no ocidente, pelo que se revelam merecedores de acolhimento os estudos que ponderam formas adequadas para promover uma abordagem à utilização dos jogos. Mas o espelho imediato das consequências de uma notícia desta dimensão revela que “lá fora” – além comunidades dedicadas, sites, revistas e bloguers – vive-se um certo esquecimento, uma cortina de ferro que impede o esclarecimento devido sobre os vários aspectos que se vertem num videojogo, desde a linguagem, pólo agregador de culturas, música, cinema e design.

Seja com uma Playstation One, Two e três, Xbox 360, ou Nintendo Wii (todos em movimento no Wii Sports) há que aceitar o convívio com as tecnologias e entretenimento digital do nosso tempo. Com regras, disciplina e monitorização sobra tempo para despoletar um conjunto de actividades extra-curriculares compatíveis com o desenvolvimento e formação pessoais. E tenho que esta proposta, da inclusão dos videojogos nas escolas, nem é assim tão inédita. Lembro-me que nos meus tempos de liceu já existia lá na escola um espaço onde se jogavam títulos da Mega Drive, Saturn e Playstation.

A vantagem das consolas mais antigas é que exibem jogos baratos, aditivos e que podem ser desfrutados a partir de um pequeno televisor. E consomem menos energia.

Essa sala de entretenimento e preenchimento de vagas livres no intervalo partira do âmbito de alguns funcionários e directores, que num apelo aos alunos para disponibilizarem consolas e jogos encostados por casa, se propuseram facultar um local de convívio, com bancos, mesas e pequenos televisores para uns momentos de divertimento e relaxe nos intervalos de almoço e até pós aulas, na espera do próximo autocarro de regresso.

É discutível a opção do Estado enquanto fornecedor destes equipamentos, ainda algo dispendiosos, até porque abriria de imediato uma concorrência desmesurada entre editoras para se apurar qual a vencedora do concurso de fornecimento. Numa perspectiva de recolha de material encostado à prateleira por casa, em ligação entre pais, professores e monitores, é algo profundamente viável desde que aplicado com regras, sensatez e vigilância.

O que não se pode é continuar a fechar os olhos ao fenómeno dos jogos, em ascensão há mais de 30 anos, e tomá-lo à partida como desprovido de sentido e redutor, coisa de nicho, quando pode e tem aspectos merecedores de estudo por todos os participantes nas suas mais diversas e amplas funções.

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