CoolPaintr VR - Análise - Mão firme
Paint 3D.
Suponho ser sensato começar esta análise afirmando que não sou uma pessoa artisticamente dotada. Gosto de desenhar, gosto de arte, mas daí até criar algo remotamente interessante, vai um passo de gigante. Não sendo propriamente proficiente na área, tirando um ou outro rabisco, é bom que saibas de antemão que não encontrarás um van Gogh em mim. Ou um Picasso. E muito menos um da Vinci. Aliás, considero extremamente ingrato o facto de, na minha mente, as figuras possuírem uma beleza extrema, com incríveis detalhes, fantásticos realces e um realismo, no mínimo, extraordinário mas, quando tento transpor aquilo que o meu cérebro imaginou para a tela, acabo por ficar com uma reminiscência daquilo que pensei originalmente, fazendo-me praguejar contra a minha mão por não ser capaz de seguir os comandos necessários para que a minha obra de arte se materialize.
De todos os jogos para a Playstation VR que já joguei, CoolPaintr VR é sem dúvida o mais... estranho. E também o mais simplista. Como já deves ter desconfiado, este título da Playstation VR é um jogo que coloca a tua criatividade à prova, permitindo-te desenhar. É, no entanto, um pouco difícil apelidar CoolPaintr VR de jogo já que a linha que o separa de uma mera aplicação é deveras ténue - o primeiro pensamento que tive assim que liguei o software relacionou-se com as semelhanças que o mesmo tem com o clássico Paint da Microsoft, onde tanto tempo passei quando era mais novo, algo que se nota não só pelas opções que o jogo oferece mas também na aparência dos menus. Então, qual a principal diferença entre um e outro?
A linha que separa CoolPaintr VR de uma mera aplicação é deveras ténue.
Bem, este software funciona num ambiente 3D - os desenhos tradicionais que estás habituado a fazer em papel, no telemóvel ou no computador não irão resultar tão bem aqui, podendo mesmo culminar numa valente salganhada caso não sejas cuidadoso. Podes fazê-los, claro, mas não é esse o intuito de CoolPaintr VR e rapidamente te aperceberás disso.
CoolPaintr VR não perde tempo com apresentações: mal inicias a aplicação, ficarás perante o ambiente de trabalho que será casa das tuas criações, local esse onde ficarás por toda a duração do jogo, juntamente com breves mensagens que aparecem de quando em vez que te explicam os controlos do mesmo. Quer sejas uma pessoa com queda para este tipo de artes ou um novato que tirou 3 a EVT, CoolPaintr VR não te julga e irá atirar-vos de forma igual aos lobos. A partir daqui, é pegar no pincel e começar a pintar.
Os controlos são simples de interiorizar e, mais importante do que isso, são super responsivos.
Como podes imaginar, o jogo oferece-te várias opções que te permitem transcrever a tua visão para o plano 3D: podes escolher diferentes cores através de uma palete, seleccionar entre três tipos de pincéis, trabalhar com efeitos de partículas animadas (neve, estrelas, fogo de artifício) usar um conta-gotas, criar polígono 3D, entre outras. O sistema de CoolPaintr VR é, felizmente, simples o suficiente para ser manipulado com os controlos de movimento do Comando Move mas oferece opções igualmente suficientes para concretizares aquilo que pretendes fazer. Um equilíbrio que torna o jogo acessível para miúdos e graúdos, não assoberbando o jogador.
O maior ponto a favor que tenho a realçar sobre este jogo são certamente os controlos. Como disse anteriormente, os mesmos são simples de interiorizar e, mais importante do que isso, são super responsivos - algo fundamental para um tipo de jogo como este em que estarás a saltar de uma opção para a outra e queres fazê-lo da forma mais rápida e fluida possível. Usando o comando Move da Playstation, podes intercalar entre dois esquemas de controlos - um que diz respeito à parte da pintura, e outro para movimentares as tuas criações. Enquanto que, no primeiro esquema, poderás encontrar todas as opções que referi anteriormente e usar o botão traseiro do comando para fazeres o traço, cuja grossura será definida pela pressão que exerces no mesmo, o segundo esquema permite-te movimentar a tua obra ou mesmo fazer zoom in e zoom out. Tudo nesta aplicação é bastante imediato, e isso é essencial para um jogo como este em que cada rabisco pode ser essencial para a tua criação.
Foi uma oportunidade perdida não terem incluído outros tipos de modos.
Foi, no entanto, uma oportunidade perdida não terem incluído outros tipos de modos em CoolPaintr VR. O jogo dá-te total liberdade, o que suponho será bem-vindo para muitas pessoas, mas tutoriais iniciais que te explicassem aquilo que podes fazer com este software seriam uma óptima adição, seguindo a veia dos títulos Art Academy que foram tão populares nas consolas da Nintendo. Para quem é artisticamente debilitado, como eu, seria uma grande ajuda um modo "aulas" em que o jogo te explicaria passo-a-passo como executar uma determinada obra-de-arte, ensinando-te diferentes técnicas e permitindo-te melhorar as tuas capacidades ao longo do tempo.
O jogo possui ainda outras características que, apesar de não serem essenciais, podem ser bastantes úteis para quem quer fazer uma obra decente dentro do software. Para além de poderes fotografar as tuas criações e criar planos simétricos, podes também importar imagens e usá-las como inspiração ou mesmo guia, colmatando um pouco a falta de "ajuda" por parte do jogo para aqueles que não estão tão voltados para as artes. Todavia, é sempre importante ter em mente que, apesar de ter usado o Paint da Microsoft como referência, tudo o que fazes dentro deste software é em 3D, colocando camadas sobre camadas de tinta, resultando num processo ligeiramente diferente àquele a que estás habituado. Isto obriga-te também a seres ligeiramente mais cuidadoso já que, devido à Natureza dos desenhos, os mesmos podem apenas funcionar a partir de um determinado ângulo: ou seja, basta movimentares-te um pouco que tudo irá ficar automaticamente desalinhado e deixará de fazer sentido.
É um bocado difícil não ficar com a impressão que CoolPaintr VR se trata de um jogo muito "vazio".
CoolPaintr VR é um jogo divertido, que não haja dúvidas sobre isso, e os momentos iniciais em que te apercebes que consegues fazer rabiscos a toda a tua volta possuem tanto de deslumbrante como de hipnotizante. É um bocado difícil não ficar com a impressão que se trata de um jogo muito "vazio" e, para quem não gosta ou não tem uma queda particular para o desenho, ficará certamente um pouco à deriva e sem saber o que fazer. No entanto, é também estranhamente terapêutico e, durante o tempo que estiveres a jogar, irás esquecer-te certamente dos teus problemas - mesmo que as tuas obras não sejam propriamente material para museus.