Crash Bandicoot N.Sane Trilogy - Análise
Bem-vindo de volta!
Anunciada em junho de 2016, depois de quase um ano em que a Sony andou a brincar com as expectativas dos fãs, Crash Bandicoot N. Sane Trilogy não é um novo jogo original mas representa o aguardado regresso do icónico marsupial criado pela Naughty Dog. Enquanto a questão sobre os direitos da personagem e da trilogia original continua altamente confusa, a Sony uniu-se à Activision e confirmou que os primeiros três jogos do marsupial seriam renovados e apresentados na PlayStation 4. Desde Mind Over Mutant de 2008 que Crash Bandicoot não surgia num jogo de plataformas para consolas dedicadas e assistir ao regresso do personagem num pacote que presta homenagem à trilogia que o colocou no pedestal do qual os fãs o recusam tirar, é algo que deixa qualquer um entusiasmado.
Apesar do lançamento em setembro de 1996, Crash Bandicoot começou a ser imaginado em 1994 e o conceito na sua origem é inacreditavelmente simples. Jason Rubin e Andy Gavin começaram a construir o seu jogo a partir de uma ideia muito precisa: "o traseiro de Sonic". Numa era em que os jogos de plataformas eram desenvolvidos em 2D, esta dupla procurou criar um jogo em 3D com uma perspectiva nas costas do protagonista. Isto permitiu desenvolver um jogo de plataformas que refrescava as ideias e conceitos que foram explorados ao longo de uma década. A diferente perspectiva dava um novo significado a valores como distância e profundidade, sem esquecer o timing e precisão exigidos para ultrapassar alguns obstáculos.
Mas isso são curiosidades sobre o que foi feito no passado quando o mais importante é o que está a ser feito/apresentado agora. A trilogia original da Naughty Dog permanece como um atestado à sua qualidade, a validação de um estúdio que procurou sempre superar-se e criar algo inovador. Agora temos é de olhar para o trabalho da Vicarious Visions e descobrir se honram Crash Bandicoot como merece.
"Esta trilogia original de Crash Bandicoot é diabolicamente difícil e podes perder uma quantidade incrível de vidas a repetir o mesmo segmento, quanto mais num nível completo. Abençoado sejas caixa com um "C".
Muitos provavelmente já nem se lembram mas os jogos Crash Bandicoot da Naughty Dog não têm qualquer misericórdia pelo jogador. Num momento podes estar com 11+ vidas, e num só segmento perdes 10 vidas.....sem conseguir terminar o nível. Esta "nova" perspectiva, promovida por uma indústria que começava a explorar o 3D, tornava a sensação de profundidade num dos valores mais importantes do gameplay, a par do timing dos saltos. Especialmente quando te troca as voltas e te coloca a correr em direcção à câmara, enquanto foges de um qualquer objecto e sem ver os obstáculos que estão à tua frente. Só mesmo quando estás perante eles é que os vês. Exigentes níveis que exigem grandes reflexos e precisão de ti. Ou então muita paciência e vidas.
Jogar a N. Sane Trilogy por ordem é também descobrir as evoluções que a Naughty Dog foi conseguindo a nível gráfico e do gameplay. A Vicarious manteve-se muito fiel ao trabalho original e além da renovação gráfica que impressiona, actualizou o gameplay sem remover a sua identidade. Pequenos ajustes para suavizar e melhorar, mas não duvidem, é como jogar os originais. Isto significa secções/níveis que demoram horas para terminar e inúmeras ocasiões em que vais ficar a pensar 'estava quase lá'. O que interessa é que Crash Bandicoot continua tão divertido hoje quanto o era há 20 anos atrás. Mesmo com as explosões de nervos pelo meio.
Ao falar de um remake, um dos aspectos mais importantes é a qualidade visual. É um dos elementos que mais atenções vai chamar na hora de comparar com os originais e a Vicarious Visions está de parabéns. Apesar de alguma geometria mais básica à distância em alguns cenários (especialmente ao voar para aceder aos níveis bónus), esta N. Sane Trilogy consegue momentos impressionantes que dão um toque fresco e actualizado aos clássicos. Quanto mais recente o jogo, melhor a sua qualidade visual, mas isto está relacionado com o próprio trabalho feito nos originais. Crash 3 foi lançado em 1998, dois anos depois do original, numa fase em que a Naughty Dog havia aprimorado o seu motor de jogo, Além de mais movimentos e gameplay melhorado, o terceiro jogo permite efeitos climatéricos e uma quantidade maior de elementos no ecrã ao mesmo tempo. Isto sem esquecer a maior variedade de locais.
"Imagina jogar sem o analógico e sem as melhorias nos controlos! Estes jogos impressionaram pela perspectiva e pelos desafios."
Apesar das boas melhorias em Crash 2, Crash 3 revela bem o salto na qualidade visual para o original. Detalhes como a chuva que escorre pela câmara, o pelo de Crash ou o cabelo de Coco (a irmã de Crash que é jogável em todos os três jogos agora), sem esquecer a vegetação espalhada pelos níveis, o trabalho da Vicarious Visions leva a novos patamares a qualidade visual dos clássicos. Se existe departamento no qual a Vicarious merece parabéns, é por todo o seu empenho na qualidade da renovação gráfica vista nestes remakes.
Se a ideia da Activision é utilizar esta N. Sane Trilogy como barómetro para medir o interesse dos fãs em Crash Bandicoot, então resultou em pleno. A qualidade da trilogia e o preço de venda dão a este pacote um valor incrível e relembram o quão divertidos os jogos eram. As músicas icónicas que identificamos quase de imediato, a enganadora simplicidade deste gameplay singular e o incrível desafio que apresenta, fazem com que Crash Bandicoot surja rejuvenescido e igualmente relevante. O único problema é mesmo o tempo de espera até conseguires começar a jogar. O jogo demora quase 1 minuto até te permitir escolher um dos três clássicos renovados.
Crash Bandicoot N.Sane Trilogy é muito mais do que uma prenda para os nostálgicos que estavam lá quando a PlayStation nasceu, é uma devida homenagem a um personagem cujo potencial desperdiçado ainda hoje confunde os fãs. A Vicarious Visions consegue um resultado altamente respeitável, conseguiu equilibrar muito bem a experiência e entrega uma sólida trilogia de remakes. Colocada na balança, esta N.Sane Trilogy mantém tudo o que precisa dos originais, a identidade está toda lá, mas aplica uma incrível melhoria gráfica que confere a estes 3 jogos um aspecto actual. A sensação é a de estar a jogar os originais com gráficos actualizados. Em alguns momentos é uma poderosa sensação e as pequenas melhorias no gameplay e controlos ajudam imenso.