Cris Tales - review - o cristalino homenagear do passado
Feito à imagem dos clássicos, mas com ideias próprias.
Cris Tales é o mais recente filho de atual face da indústria, na qual pequenos estúdios conseguem desenvolver jogos de apelo mundial. Neste caso específico, é direcionado para quem cresceu na década de 90 e assistiu à explosão de popularidade dos JRPGs no ocidente. Se fazes parte desse conjunto, certamente vês com bons olhos que tantos anos depois, as crianças e jovens adultos da altura estejam agora a preparar homenagens aos maiores mestres japoneses. É precisamente isso que tens das colombianas Dreams Uncorporated e SYCK, que decidiram criar uma espécie de carta de amor a jogos como Valkyrie Profile, Chrono Trigger e Final Fantasy 6, mas com design visual atualizado e com mecânicas próprias. A receita perfeita para uma era moderna em que os alunos frequentemente ensinam os mestres.
No entanto, Cris Tales não se fica pela homenagem direta e até olha para referências contemporâneas, como Persona 5 e Bravely Default, como inspirações para uma personalidade mais excêntrica e eclética. Isto cria um híbrido de ideias capaz de introduzir uma estética muito própria, maravilhosa diga-se, com direito a elementos tradicionais dos JRPGs da década de 90 (como um mapa mundo visto de cima e a dada altura uma nave para viajar por ele). Um dos maiores trunfos desta tentativa de recapturar a essência dos clássicos de outrora está mesmo nos seus visuais, um estilo artístico singular e uma inspiração na Colômbia ajudam imenso a diferenciar Cris Tales de praticamente qualquer outro jogo que já viste.
Com uma estética visual sumptuosa, começarás a descobrir como Crisbell, uma jovem mulher que vive num orfanato numa pequena localidade, é na verdade uma maga do tempo que terá de ajudar a salvar o mundo. Para isso, terá de visitar locais específicos onde se encontram cristais capazes de aumentar o seu poder. Para conseguir isso, precisará da ajuda de diversos companheiros e assim se resume a jornada de Cris Tales. Como é apanágio nos JRPGs da década de 90, ela percorrerá cidades encantadoras, o mapa mundo e masmorras repletas de encontros aleatórios. No entanto, se Cris Tales tem a alma de um clássico num aspeto moderno, o sistema de combate é a melhor forma de o posicionar como um interessante híbrido.
Ao passear pelos locais do jogo vês o ecrã dividido e tens a oportunidade de ver o passado, presente e futuro na mesma imagem. É estranho inicialmente, mas é muito engenhoso. Especialmente porque nas missões secundárias vais conseguir ver os efeitos das tuas ações no futuro. Um dos primeiros exemplos é um músico de rua que se lhe deres dinheiro ele no futuro não se torna num mendigo, mas sim num músico de sucesso apaixonado pela sua arte. Podes dar um salto até ao passado ou futuro para obter mais informações que te ajudem, obter itens ou até descobrir de que formas criaste alterações no tempo. É mesmo muito interessante e ajuda imenso a conferir charme ao jogo.
O sistema de combate também desfruta desta mecânica temporal e sinto que Cris Tales é uma mistura de Chrono Trigger com Valkyrie Profile. A tua equipa de 3 personagens ataca por turnos (seja a atacar ou quando és atacado, pressionar o botão no momento certo ajuda a aumentar ou reduzir o dano, respetivamente) e usar os ataques de elementos mais eficazes é essencial. Podes combinar habilidades e até existem os especiais em dupla como em Chrono Trigger. Além disso, as mecânicas temporais também são usadas nas batalhas e Crisbell pode mandar adversários à esquerda no campo de batalha para o passado e os que estão à direita para o futuro. Isto pode mudar a sua forma, força ou causar estados de elemento. Imagina envenenar um inimigo e depois mandá-lo para o futuro, faz com que o veneno atue mais cedo e com mais força. Isto é apenas um exemplo. Além disso, esta mecânica é essencial nas boss fights.
Um dos lados mais fascinantes deste Cris Tales é mesmo a banda sonora, composta por Tyson Wernli. Confesso que tive de pesquisar na internet para descobrir quem é o compositor pois a sonoridade é de tal forma épica e reminiscente dos trabalhos esperados dos JRPGs da década de 90 que pensei estar a escutar trabalhos de um conceituado mestre japonês. Ao escutar os diversos temas, poderias ficar a pensar em nomes como Yasunori Mitsuda, Nobuo Uematsu e Koji Kondo, mas na verdade estamos perante uma majestosa homenagem de Wernli que certamente conquistará a atenção de outros estúdios, além do coração dos jogadores que vão entrar nesta fantasia de Cris Tales.
Cris Tales consegue em pleno tudo o que pretendia. É uma homenagem aos clássicos da era 90 e ainda introduz ideias mais recentes do género JRPG, sem esquecer a sua própria mecânica, o uso do tempo nos combates e exploração. Com um design visual cativante e uma banda sonora que nos conquista de imediato, é um jogo com uma alma doce e muito coração. Pena o design das masmorras e a sensação de repetição no seu design visual. Os controlos também beneficiariam com uma pequena afinação, mas no geral é um jogo para consumir sem qualquer reserva pelos apaixonados pelos JRPGs.
Prós: | Contras: |
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