Days Gone não é The Last of Us
Aqui estão cinco grandes diferenças.
O fim do mundo é um dos temas mais badalados da ficção, seja na literatura, cinema ou videojogos. Assim de repente, estou seguro que cada um é capaz de pensar facilmente num punhado de obras que imaginam o que acontece depois do mundo como o conhecemos terminar. Com Days Gone, a Sony Bend quer deixar a sua marca neste tema e partilhar a sua interpretação pós-apocalíptica do planeta terra. Com um tema tão explorado como este, há inevitavelmente elementos em comum com outras interpretações, mas a balança é equilibrada com um protagonista pouco usual e elementos de jogabilidade que não encontramos em outros jogos do género.
Por mera coincidência, Days Gone é um dos jogos mais cobertos pelo Eurogamer Portugal desde que foi revelado. O Ricardo Madeira teve a oportunidade de assistir a uma apresentação à porta fechada quando o jogo foi revelado na E3 2016. Em Maio de 2018, o Bruno Galvão viajou até Madrid para jogar pela primeira vez, e uns meses depois Vítor Alexandre experimentou a nova versão disponível na Paris Games Week. Será que ainda existe alguma coisa para dizer sobre Days Gone neste fase pré-lançamento que já não tenha sido dita?
Uma questão que ainda não está completamente esclarecida, e que preenche as secções de comentários sempre que se fala neste jogo, é a comparação com The Last of Us. Tendo jogado uma versão já quase finalizada durante quase 3 horas, sinto-me capaz de colocar referir uma série de diferenças entre os dois e que são, ultimamente, experiências distintas pela força da jogabilidade, a navegação pelo mundo e a forma como este está construído, e pelo protagonista. O que há de facto em comum entre os dois são o cenário pós-apocalíptico pintado por um vírus que transformou os seres humanos em Freakers, criaturas sedentas por sangue que quando alertadas soltam um berro e chamam outros Freakers, havendo o perigo de formarem uma manada.
A mota
É impossível falar de Days Gone sem referir a mota de Deacon St. John já que é uma parte essencial da jogabilidade e que distingue o jogo da Sony Bend de outros tantos. A mota é personalizável mecânica e visualmente e permite percorrer as grandes distâncias do mapa. Quão grande é o mapa? Bem, em quase 3 horas, não deu para explorar quase nada. É por isso que a mota é tão importante, é impensável percorrer estas distâncias sem um veículo motorizado. Mas não penses que isto é um GTA pós-apocalíptico. Acima de tudo, Days Gone é um jogo de sobrevivência e não podes andar a passear de mota a custo zero. Eventualmente terás que parar, vasculhar casas e sítios abandonados na esperança de encontrar combustível para encher o depósito.
Conduzir a mota é um pouco estranho, principalmente nas curvas. Sentes que é um veículo pesado e não propriamente muito ágil, mas compreende-se esta particularidade se souberes que este tipo de motas não foram desenhadas para serem rápidas a curvar. O que é importante é teres imenso cuidado na condução. Se fores contra alguma coisa com a mota, esta ficará danificada e precisarás de gastar valiosos recursos a reparar o motor. O mesmo é válido para atropelamentos. Ir contra um Freaker a toda a velocidade pode parecer uma boa ideia, mas o que vai acontecer é que serás cuspido com o impacto e a mota ficará altamente danificada.
Um mundo com enorme liberdade
Se há coisa que distingue Days Gone de The Last of Us é a estrutura do mundo. De uma experiência linear passas para um jogo de sobrevivência com uma enorme liberdade. Há evidentemente uma estrutura delineada pela Sony Bend através de missões de história ou de objectivos secundários, mas podes ignorar isso e explorar o mapa sem nenhum propósito em mente. Pode haver recompensas ao virar da esquina na forma de mais recursos que te permitem fazer crafting de coisas como curativos, cocktails molotov e outras coisas úteis neste mundo devastado, mas também vais encontrar perigos. Na minha experiência, um Freaker isolado não é grande perigo, mas assim que se começam a juntar, são devastadores. Ficam furiosos, rápidos e a única solução é correr para a mota e tentar escapar.
Um mapa grande não significa grande coisa a não ser que tenhas actividades para te manteres entretido. Naturalmente, quase 3 horas não chegam para explorar devidamente um jogo deste tamanho, mas nesse período, encontrei actividades diferentes como exterminar os ninhos de Freakers, emboscadas a acampamentos de inimigos humanos, missões de Bounty Hunter, e claro, missões de história. As missões de história têm uma progressão tipo RPG, ou seja, a missão não fica completa de uma assentada. Em vez disso, a missão vai progredindo por fases, com um novo objectivo a aparecer sempre que terminas uma fase. Isto permite-te que entre as missões de história faças outras actividades.
Deacon St. John, uma personagem refrescante
Uma personagem faz um jogo e sem um bom protagonista uma narrativa não tem a mesma força. Deacon St. John é uma personagem multifacetada e refrescante por várias razões. Apresentando como um membro dos Mongrels MC, um clube de motoqueiros, é um homem rijo cuja cara e atitude revelam que passou por bastante na vida. Não é uma personagem vil e há missões em Days Gone que mostram um lado bondoso, mas está disposto a fazer o que tem de fazer para sobreviver. No mundo de Days Gone, em que a linha que separa o certo do errado está esborratada, Deacon é um homem com as habilidades e experiência para navegar entre o caos e continuar a sobreviver um dia de cada vez.
É possível tecer algumas comparações com Joel de The Last of Us, mas ultimamente são personagens com origens diferentes. Sim, ambas passaram por um acontecimento trágico. Joel perdeu a sua filha e Deacon St. John perdeu a sua mulher Sarah no meio da confusão causada pelo surto. No entanto, com a humanidade em vias de extinção, é perfeitamente normal de qualquer ser humano ainda não infectado pelo vírus tenha passado por um acontecimento traumático. Já agora, aproveito para referir que o actor português Filipe Duarte fez um bom trabalho na dobragem de Deacon. O problema da dobragem portuguesa está nas outras vozes, que não encaixam nas personagens e até parecem forçadas.
Muitas habilidades para desbloquear
Sobreviver ficará mais fácil com o tempo em Days Gone a julgar pela grande quantidade de habilidades que tens para desbloquear. O jogo apresenta-te três árvores de habilidades nas quais podes progredir através da experiência que vais ganhando completando as actividades. Existe uma árvore focada nos ataques corpo-a-corpo, outra no ataque a longas distâncias e, por última, uma para a sobrevivência. As habilidades consistem em coisas como reparar armas com recursos, recarregar armas de longo alcance enquanto corres, melhor precisão enquanto corres e disparas, acesso ao Focus Shot (abrandar o tempo enquanto estás a apontar as armas), entre outras coisas. A quantidade de habilidades para desbloquear é um indício de que Days Gone será um jogo bastante extensivo. Não estejas à espera de uma experiência que terminará em apenas algumas horas.
"Deacon St. John é uma personagem multifacetada e refrescante"
Não são zombies, são Freakers!
George A. Romero foi o criador do zombie moderno e a partir daí surgiram inúmeras variações, incluindo a de Days Gone. O que é inovador em Days Gone no que diz respeito ao conceito de zombies são as hordas. As hordas são enormes grupos de Freakers que vais encontrar e é interessante a forma como actuam. Emmanuel Roth, Senio Animator da Sony Bend, explicou-nos que os Freakers vão agir de forma diferente. Se subires para um camião ou outro obstáculo, a horda vai rodear-te e haverá Freakers que te vão atacar de frente, enquanto outros vão tentar flanquear. Emmanuel Roth também referiu hordas compostas por 300 Freakers e que será possível juntar uma horda com outra para formar uma horda ainda maior. O único jogo comparável é Dead Rising, que tinha uma grande quantidade de zombies no ecrã, mas ainda assim, estes não tinham o comportamento descrito por Emmanuel Roth.
Como podes constatar, Days Gone é uma experiência completamente diferente de The Last of Us (não desmerecendo obviamente o trabalho da Naughty Dog) e de qualquer outra propriedade intelectual no catálogo da PlayStation. É um jogo de sobrevivência em mundo aberto que pega em elementos já conhecidos, mas não se limita a fazer o mesmo que outros jogos já fizeram. A Sony Bend criou uma propriedade que através de uma nova interpretação de temas e elementos já conhecidos oferece uma experiência diferente. Days Gone será lançado a 26 de Abril para a PlayStation 4. Fica atento ao Eurogamer Portugal para não perderes a nossa análise.