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Dead Island 2 - Um jogo que parou no tempo

Zombies à solta em Los Angeles.

Desmembrar zombies com um leque variado de armas é divertido, mas no resto, Dead Island 2 é um jogo com pouco valor.

Uma das coisas que costumo dizer quando estou a falar de análises e critérios de avaliação é que os jogos não existem num vácuo. Com isto quero dizer que um jogo e o respetivo impacto dependerá sempre do contexto em que é lançado. Querem um exemplo? Em 2017, quando o género dos jogos em mundo aberto estava em saturação, a Nintendo lança Breath of the Wild com uma nova abordagem. Qual foi o resultado? A maioria considerou o jogo uma lufada de ar fresco e conquistou tanto críticos como jogadores.

Quando Dead Island 2 foi anunciado na E3 2014, numa altura em que os jogos de zombies ainda estavam no pico da popularidade, a vontade de jogar foi imediata. Aquele trailer do jogger a correr no passeio de Venice, enquanto o caos se espalhava à sua volta, até que se transformar num zombie, é brilhante e memorável. Quase 9 anos mais tarde, após um longo período no chamado "inferno do desenvolvimento", a sequela finalmente será lançada. Após tanto tempo, será que é ainda capaz de ter o impacto daquela altura?

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Sobrevive ao apocalipse zombie

Apesar de ser uma sequela, não precisas de jogar o primeiro Dead Island para perceber o que está a acontecer. Dead Island 2 dá uma perspectiva diferente do mesmo apocalipse zombie, desta vez não numa ilha, mas na região de Los Angeles. Logo no início do jogo, tens que escolher o sobrevivente com o qual vais jogar, existem 6 opções (eu escolhi a Carla). Cada sobrevivente tem estatísticas associadas: uns são mais fortes, com mais resistência, outros são mais rápidos e ágeis.

A progressão funciona por acumulação de XP e subida de nível (os próprios zombies também têm nível associado). À medida que progrides, desbloqueias cartas de habilidades e mais espaços para elas. As cartas de habilidades permitem-te escolher de que forma queres jogar. Uma das cartas aumenta o dano da personagem se bloqueares vários ataques seguidos. Outra carta aumenta a quantidade de fúria por cada desmembramento (o modo fúria é uma coisa que desbloqueias já mais perto do fim).

Na prática, Dead Island 2 não é tanto um jogo de sobrevivência em que tens de fazer uma gestão cuidada. Estás sempre a apanhar recursos em todas as esquinas. Existem inexplicavelmente barras e bebidas energéticas espalhadas por todos os sítios, além de outros materiais. É um design que considero antiquado, sem lógica, e que acaba por quebrar a sensação de estar no meio de um apocalipse de zombies. Na realidade, nada tem uma consequência. É estranho entrares na casa de personagens vivas e poderes apanhar tudo o que está ali.

A história não cativa

Dead Island 2 tem algumas qualidades, mas a história não é uma delas. A personagem que escolhi, a Carla, tem uma personalidade que parece ter saído num pacote de batatas fritas. Não se cansa de "cuspir" frases estúpidas com ego inflado. Foi desenhada para parecer fixe à força toda (visualmente é), mas não resulta. O resto não é muito melhor. Personagens com profundidade de uma poça de água à mistura com acontecimentos sem sentido que prolongam a história desnecessariamente. O jogo não é muito longo, mas é repetitivo.

No total, existem 24 missões da história, com mais 33 missões secundárias (há também outras missões, chamadas Perdidos e Achados para encontrar pessoas que desapareceram). Foquei-me sobretudo nas missões principais, principalmente porque o jogo torna-se tão repetitivo que não tive vontade de explorar o resto. É possível acabar a história principal em cerca de 15 horas. Apesar da jogabilidade continuar a evoluir até ao final devido ao sistema de cartas de habilidades, a sensação de novidade esgota-se muito antes disso.

A lista de personagens que podes escolher (a Carla é a terceira a contar da esquerda).

Dead Island 2 não é um jogo em mundo aberto

Este jogo de zombies leva-te para Los Angeles e deixa-te explorar múltiplas zonas conhecidas, como as colinas de Hollywood, o paredão em Santa Monica, o passeio de Venice, e os estúdios de cinema. As áreas estão separadas uma das outras por portões de segurança e existe um loading (rápido) de um sítio para o outro. Cada área não é propriamente grande e rapidamente dei por mim a perguntar por que razão Dead Island 2 não é um jogo em mundo aberto.

Não é que todos os jogos tenham de ser mundos abertos, mas neste caso fazia sentido. É um claro sinal de que foi desenhado para as consolas antigas e que nestes quase 9 anos não foram feitas as devidas alterações para o hardware atual. O jogo não é uma maravilha técnica nem tem gráficos de ponta, pelo que neste aspeto, é difícil encontrar argumentos a favor para justificar esta decisão.

O sistema de desmembramento é brutal

Se há coisa que resulta e que Dead Island 2 tem de bom, é o sistema de desmembramento. Podes amputar braços, pernas, cortar cabeças, e até partir um zombie ao meio. As armas com lâmina são melhores para isto, mas também é possível atingir o mesmo resultado com tacos de basebol, golfe, e outros objetos que surgem como possíveis armas. É divertido e dá satisfação desde o primeiro ao último minuto.

O nível de violência é tão extremo que chega a ser ridículo, num nível comparável ao de Mortal Kombat. Dás uma pancada na cabeça de um zombie e vês que ficou com o cérebro exposto ou com um olho de fora. À medida que os zombies vão ficando desmembrados, os seus padrões de ataques também mudam. Arranca uma perna e o zombie já não se levanta mais, terá que se arrastar na tua direção, lentamente. Se arrancares os dois braços, o zombie vai tentar atacar-te com cabeçadas.

Há vários tipos de zombies que vais encontrar, uns mais fortes, outros mais fracos. Os mais fortes são grandalhões musculados, em que fazer o desmembramento é impossível. Há também zombies corredores, que são rápidos a atacar (solução, corta-lhe uma perna), zombies explosivos (que explodem quando chegam à tua beira), zombies que cospem uma gosma corrosiva, e zombies que trazem uma praga de moscas que te atacam.

O combate é satisfatório

Na segunda metade do jogo, finalmente ganhas acesso a armas de fogo, mas em grande parte, Dead Island 2 está desenhado para combate próximo. O sistema é simples: com o gatilho direito atacas (e podes ficar a carregar para fazer um ataque mais forte), e com o L1 / LB bloqueias. Um bloqueio no tempo certo deixa o zombie atordoado, o que te dá a oportunidade de fazer um golpe final. A variedade de armas é imensa e mais tarde podes modificá-las de várias formas com blueprints que vais encontrando.

Todas as armas de contacto têm durabilidade, ou seja, eventualmente partem-se. Podes arranjá-las sempre que encontras uma mesa de trabalho, onde também é possível fabricar balas, kits de medicina, e outras coisas. Em alguns sítios seguros vais encontrar um vendedor para comprar armas, materiais, e fusíveis (são essenciais para aceder a algumas portas fechadas que, tipicamente, escondem uma grande quantidade de itens).

Para além da arma principal, a tua personagem tem acesso a dois objetos que podes atirar. O primeiro que desbloqueias é uma isca de carne, que faz com que os zombies se juntem todos no mesmo sítio. Podes conjugar isto com armadilhas. Vais encontrar bidões de água e de combustível, que podes espalhar pelo chão para criar zonas eletrificadas ou pegar-lhes fogo quando os zombies estiverem a passar por lá.

Um jogo que ficou preso em 2014

É essa a sensação que perdura no final. O sistema de desmembramento é divertido; o combate funciona, ainda que se torne repetitivo. Se jogado em modo cooperativo, é mais engraçado. No resto, Dead Island 2 não tem muito para oferecer. A história é descartável. O design do mapa e da exploração é antiquado. Tecnicamente, não é um jogo da geração atual. Dou mérito à Dambuster Studios e Deep Silver por terem feito o esforço para terminar o jogo, mas para um título que esteve quase 9 anos em desenvolvimento, esperava-se mais. Se gostas de zombies, pode ser interessante numa eventual descida de preço.

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Prós: Contras:
  • Personalização da jogabilidade através das cartas de habilidades
  • Violência divertida e desmembramento de zombies
  • Combate satisfatório com um bom leque de armas
  • Dá para jogar em modo cooperativo
  • Não há justificação para não ser mundo aberto
  • Dá vontade de saltar à história à frente
  • Não dá vontade de explorar o mapa
  • Pode tornar-se repetitivo

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