Dead Nation: Apocalypse Edition - Análise
Mortos à vista.
Depois do espantoso Resogun que marcou a estreia do estúdio Housemarque na PlayStation 4, temos agora um novo esforço dos Finlandeses na mais recente consola da Sony. Há muito que este é um estúdio conhecido pelo seu talento na criação de experiências imediatas, rápidas mas com bastante profundidade para prenderem o jogador. Super StarDust HD foi uma autêntica referência na PSN quando foi lançado para a PlayStation 3 e para qualquer um que compre uma PlayStation 4, Resogun é simplesmente obrigatório. Tornei-me num verdadeiro fã do Housemarque e como tal, presenciar a chegada de uma novidade desta equipa é sempre um momento de especial entusiasmo.
No entanto, tenho que dizer que fiquei ligeiramente confuso quando surgiram os rumores sobre este Dead Nation: Apocalypse Edition. Cerca de 3 meses depois de Resogun, o Housemarque regressa não com um produto inédito mas sim com uma conversão do seu jogo PlayStation 3 lançado originalmente em 2010. Tendo em conta que este foi oferecido a todos os jogadores com acesso ao único meio através do qual pode ser comprado, surgiam questões em torno do jogo que iam muito além da sua qualidade. Estão mais propriamente relacionadas com a validade desta versão e com o timing.
Gráficos melhorados para 1080p e o pacote adicional Road of Devastation são os principais destaques aqui mas e quanto à gameplay? Será que foram feitos quaisquer esforços para assegurar que um produto interessante mas algumas arestas para limar consegue ser algo melhor? Foram estes os meus pensamentos quando a edição foi confirmada e agora está pronta para chegar ao serviço digital numa velocidade relâmpago. Será que o original tem qualidade suficiente para ser recuperado para uma nova consola ou será que os fãs ficariam melhor servidos com algo verdadeiramente novo, como Dead Nation 2?
Dead Nation é um dual-stick shooter que tenta transpor a fórmula clássica para o badalado universo dos mortos-vivos, os zombies, que tanto vão dando que falar nestes últimos tempos. Posso estar errado, e não me recordo em pleno da sensação que tive em 2010, mas atualmente Dead Nation: Apocalypse assumiu-se como uma proposta frágil porque me fez lembrar com mais força as dezenas de experiências casuais no mercado mobile. Isto deu-me ainda mais curiosidade para tentar perceber o porquê de ter sido recuperado.
Tradicionalmente este género está reservado a cenários especiais ou abstratos mas aqui o estúdio insere-nos num mundo pós-apocalíptico no qual a tensão característica de filmes ou séries TV com zombies tão bem tem retratado nos tempos recentes. Esta grande calamidade que afetou o mundo, torna das ruas comuns os níveis de jogo mas isto resulta muito melhor no papel do que na prática. O design de níveis pode muito bem ser a maior traição que o jogo presta a si próprio. Trocamos a nave por um ser humano de arma na mão, que pode ainda desferir golpes físicos, e temos o esquema base tradicional completamente adaptado.
Dead Nation consegue envolver o jogador. O sistema de checkpoints consegue ser um pouco frustrante, mais ainda quando percebemos que os picos de dificuldade, focados numa maior concentração de zombies, servem para disfarçar níveis relativamente pequenos. Mas nesta conversão do género fulgurante e dinâmico para tons mais reais e pausados, será que tudo se encaixa e temos a tal desejada intensidade sem perturbar a gameplay e o consequente desfrutar do jogo? A resposta é sim mas com alguns erros a limar que infelizmente não foram corrigidos.
Jack McReady ou Scarlett Blake, dependendo da escolha do jogador no modo campanha ou os dois no cooperativo, têm uma missão pela frente que envolve muito mais do que a sobrevivência. O enredo existe para colocar objetivos nos níveis e para criar uma trama principal que pretende conferir alguma personalidade aos personagens e tonalidade ao universo. Nada que seja propriamente fascinante ou verdadeiramente interessante diga-se. Dificilmente o jogador criará laços com os protagonistas desta trama e muitos até têm mais probabilidades de criar afeição a uma nave em Resogun do que com um destes solitários guerreiros.
O que fascina mesmo é aprender a dominar as diferentes armas, aprender o timing para as melhor usar, procurar encadear mortes sem sofrer dano para o multiplicador crescer e saber aguentar os momentos de maior sufoco. Estes são os principais fundamentos, as principais razões que nos prendem a Dead Nation. A perspetiva aérea sobre a ação é altamente competente e abrir caminho até ao próximo checkpoint pode ser o mais frustrante que vão conhecer como também poderá ser o mais divertido. A questão será como usar os recursos ao nosso dispor e como utilizar as armas.
O melhor de Dead Nation é toda a gestão que está ligada à gameplay em si, comprar novas armas e melhorar as existentes. Enquanto outros jogos se focam na velocidade elevada dos acontecimentos, aqui é procurada um maior sentido de tática, o ritmo é mais lento e as armas variam imenso. De resto é como controlar uma nave, saber quando avançar, quando recuar, temer a carga de inimigos quando estes vêm de todo o lado e procurar utilizar o cenário a nosso favor. Existem carros ou bombas de gás que podemos utilizar para atrair a atenção dos zombies, depois é vê-los a ir pelos ares.
Dead Nation é um produto divertido, disso não existem dúvidas, apenas não tanto quanto acredita que é. Tendo em conta que estamos perante o Housemarque, qualquer experiência ou derivação dos moldes originais é mais do que bem-vinda mas existem aqui alguns erros que não lhe são característicos. O fulgor do jogo termina rapidamente, instala-se a monotonia e em lado nenhum se encontra aquela sede por mais, aquela vontade de conquistar os troféus, como nos seus outros produtos. Dead Nation interessa e diverte mas convém abordarem o jogo com alguma cautela. Não por ser mau, apenas por não ser melhor.
Assim que compreendemos o que é o jogo e que nada mais temos a aprender ficamos sem a gameplay implacável e extremamente aditiva que se acredita que poderia ter, para recebermos um produto mais pausado e menos inteligente do que desejaríamos. É preciso aprender a jogar Dead Nation é certo, mas não é preciso aquele foco para melhorar os reflexos, não motiva aquela incessante procura para destruir os erros e sermos os melhores. É verdadeiramente aborrecido porque sentimos que com as devidas, e mais do que apontadas, correções, o jogo seria quase imprescindível.
Dead Nation dá a oportunidade ao jogador de comprar armas que consequentemente terá que melhorar com o dinheiro que recebe ao eliminar as criaturas perversas que encontra. Em cada checkpoint, ou final de nível, compramos melhorias para as armas e isto é a essência da gestão no jogo. Apesar de reforçar a agilidade ou defesa estar entregue à procura de novas peças de vestuário espalhadas pelos cenários, as melhorias são conquistadas a pulso duro. Além do comportamento e consequente diferente causar de danos nos adversários, as armas têm todas as suas características específicas que provam que uma escolha bem pensada pode evitar um desfecho antecipado.
Tendo em conta que um dos principais atributos desta versão são os seus visuais a 1080p, seria de esperar que tivesse sido feito mais para elevar o jogo a outros patamares qualitativos mas não. Tal não foi feito e Dead Nation: Apocalypse Edition é um jogo mediano e até desinteressante tendo em conta as expetativas para esta nova geração. Quando esperamos produtos novos e feitos de raiz, quem sabe um Dead Nation 2, temos um produto no qual apenas foi aumentada a resolução e aqui até entramos num tema que podem considerar controverso. Até que ponto nos temos que contentar com conversões de jogos da anterior para esta nova geração, especialmente quando nem sequer são pedidas pelos fãs? Quase dá a entender que o planeamento para os meses pós-lançamento não está assim tão bem estruturado.
Mas isso são questões extra Dead Nation e muito mais importante que os visuais bonitos, que neste jogo nem o são, seria uma resposta rápida e extremamente precisa do jogo, patrocinada por uma experiência a 60fps. Dead Nation consegue uma boa resposta, os controlos são firmes e precisos, mas sente-se que os 30fps não permitem que a experiência tenha o brilho merecido. A todo o momento sentimos que com um ritmo mais rápido o jogo ficaria bem mais interessante e como consequência, especialmente se jogarem a solo, o jogo torna-se rapidamente aborrecido. Disparar de longe sobre os inimigos enquanto recebemos dinheiro torna-se demasiado fácil para evitar e sem dúvida que se torna monótono. Se ao menos houvesse mais motivação para aumentar o ritmo e se o próprio já de si fosse maior.
Jogos como Resogun fazem com que uma gameplay repetitiva deixe de o ser, ou não seja sentida se o preferirem, porque o jogador está demasiado ocupado a absorver tudo o que acontece à sua frente. O ritmo louco, os efeitos especiais de cegar, e a música a 'bombar' fazem com que este tipo de jogos seja muito mais alucinante do que deveria. O problema de Dead Nation é que não o consegue e o tom mais sério até poderia ser bem-vindo mas infelizmente só consegue ir até determinado ponto. Este não é um jogo mau, apenas insuficiente nas suas capacidades para captar o jogador.
Se querem mesmo tirar algo de Dead Nation então terão à força que convidar outro jogador ou jogar em modo online. É mesmo imperativo que partilhem a sessão de jogo com outra pessoa, nem que seja pelo espírito competitivo, mas principalmente para evitarem que grande parte da sensação de frustração ou monotonia se instale rapidamente. Chegar de checkpoint a checkpoint pode tornar-se desnecessariamente difícil e perder por um pequeno erro de cálculo pode forçar a sensação de injustiça. Com ajuda tudo ficará ligeiramente melhor.
Já na PlayStation 3, Dead Nation era um produto bom mas com erros portanto escapa-me por completo o objetivo desta versão pelo menos tal como está. Com algumas boas ideias vítimas de uma execução menos bem conseguida, Dead Nation estava longe do brilho de Super StarDust e agora volta novamente a repeti-lo quando pensamos que sucede Resogun. Fico confuso a pensar qual o objetivo por detrás desta versão especialmente quando se recusa a corrigir os erros do original e não aproveita de forma alguma as novas funcionalidades do comando ou as capacidades da nova máquina.
Dead Nation: Apocalypse é um jogo difícil de recomendar. Para os membros Plus é gratuito e de resto só mesmo para os verdadeiros aficionados do Housemarque. Uma grande parte da família PlayStation já terá jogado o jogo na PlayStation 3 e esta versão não inclui nada que possa justificar uma nova compra. Mesmo como oferta PlayStation Plus não parece afastar a sensação que qualquer um ficaria melhor servido com Dead Nation 2. O desejo seria precisamente esse, uma sequela completa, centrada na melhoria dos principais problemas deste original e com a nova geração já na mente. Tal como está, é o mesmo produto que mostra poder ser mais.