Dead Space (remake) - Corta-lhes os membros
Do melhor que há em terror Sci-Fi.
Finalmente! Chegou um dos remakes mais requisitados dos últimos anos por todos os fãs de Dead Space e não só. Pessoalmente, como fã da saga e do género, estava entusiasmado de uma forma indescritível.
O delicado trabalho de trazer até aos dias de hoje esta pérola ficou a cargo da Motive Studios, estúdio conhecido por Star Wars Battlefront II (estúdio de suporte) e Star Wars: Squadrons. Estúdio esse que desde cedo mostrou total empenhamento em entregar um trabalho digno e que estivesse ao nível do original de 2008. Ao longo do processo de desenvolvimento foram mostrando várias das etapas, seja em comunicados e até em diversos vídeos com um detalhe pouco comum para os padrões atuais.
Ressuscitar títulos que marcam gerações é sempre complicado, e de certa forma, arriscado. Dead Space está no patamar dos videojogos venerados. Conseguiu esse estatuto por mérito próprio, criou os alicerces para projetos que vieram depois, uns com sucesso e outros nem tanto. Podia facilmente ter descarrilado, mas a Motive Studios provou que é capaz, como vão poder comprovar mais à frente na minha análise. É um gosto constatar que foi tratado da forma correta, revigorado e transformado para ser novamente o modelo a seguir num género nem sempre fácil.
Viagem alucinante ao limite dos nossos medos
Já não há segredos na narrativa de Dead Space, mas mesmo assim, vou evitar spoilers para não estragar a experiência a quem nunca jogou o original. Resumindo e relatando apenas informações do conhecimento geral, somos Isaac Clarke, um engenheiro que juntamente com a tripulação da Kellion vai numa missão rotineira ao planeta Aegis VII, mais concretamente à USG Ishimura. Isaac vai também com a premissa de reencontrar a sua namorada, Nicole Brennan, para reatar uma relação deteriorada. Rapidamente constatam que algo de muito tenebroso se está a passar, um verdadeiro pesadelo os aguarda. As ocorrências são um tanto familiares às do filme Event Horizon de 1997. Os produtores fizeram questão de o referir, que serviu de inspiração na criação do ambiente pesado do título original. A demanda é intrigante e totalmente aterradora. Levará Isaac a uma viagem alucinante pelos meandros mais obscuros da sua mente, onde a realidade muitas vezes se confunde com o insano.
O ponto de partida para o que nos aguarda está traçado. Com o refazer deste clássico, as coisas são ainda mais impressionantes e arrebatadoras. A entrada na estação é mais empolgante, tudo elevado pelos fantásticos visuais e uma sonoridade de alto calibre. Após os primeiros passos comprovamos que algo de muito grave e sombrio está a decorrer. Isaac irá tentar desvendar estes tenebrosos eventos, com a ajuda dos outros elementos da Kellion, Zach Hammond e Kendra Daniels, ao mesmo tempo que procura a sua amada Nicole Brennan.
Obviamente, devem ter reparado que este é um dos meus jogos preferidos de todos os tempos, e ter a oportunidade de o voltar a jogar com todas as possibilidades da tecnologia atual é de facto um privilégio. Comprovar as modificações aqui implementadas arrancou-me rasgados sorrisos, fiquei inúmeras vezes a deliciar-me com tamanha qualidade desta apresentação. É um remake gratificante e que faz justiça ao material original, Dead Space remake é extraordinário. Sentimos isso em muitos dos seus aspetos fundamentais, como a jogabilidade refinada e expandida, armas superiormente revistas e adaptadas, mais interação com o ambiente, e até novas possibilidades gameplay, como a deslocação livre em cenários sem força gravitacional (como em Dead Space 2 e Dead Space 3). Está aqui tudo o que se desejava e muito mais.
A equipa foi ao ponto de arriscar e ir mais longe, até onde poderiam ter falhado: a inclusão de voz na personagem principal (no original, Isaac não falava). Esta foi uma das alterações mais discutidas, que dividiu muito a comunidade, mas o resultado final é surpreendentemente glorificante. Certo que já estávamos habituados à voz de Isaac, em Dead Space 2 ele já fala, mas é um acrescento que muito apreciei. A voz é introduzida nos momentos certos, seja em diálogos já conhecidos e até em novos acrescentos. Esta adição ao remake torna a experiência ainda mais cinematográfica, por vezes mais parece que estamos a assistir a um filme Sci-Fi de terror, num mundo longínquo onde a humanidade continua a eterna busca pela salvação.
Armas e mecânicas de jogo ampliadas
As premissas originais são mantidas, mas imensamente elevadas pela adaptação e reformulação. As mecânicas estão a roçar a perfeição, e quando são acompanhadas por um ambiente tremendamente aterrador, estamos perante um dos melhores jogos de terror de ficção científica de todos os tempos. É colossal o que é alcançado em termos de terror, não apenas pela conhecida componente visceral, mas sim pela simbiose entre o visual, sonoro e jogável. O medo está sempre presente, ao virar da próxima esquina ou em cada porta. Os inimigos surgem a qualquer momento, apesar de haver zonas ditas de “seguras” (são poucas), e mesmo em zonas que já passamos somos várias vezes surpreendidos com mais monstros. O jogador é obrigado a estar sempre em estado de alerta. Não existe descanso em Dead Space remake.
Para quem não sabe, em Dead Space deambulamos por corredores e divisões, algumas de enorme dimensão, com monstros a surgir de todos os cantos e esquinas, sobretudo das condutas. Há muito loot para apanhar, locais para gravar a progressão, estações para melhorar o nosso equipamento (armas e fato), e até uma loja onde tudo é gerido (comprar, vender e armazenar). Estas fundações estão de regresso e são a base elementar para todos os mecanismos que estão, como seria de esperar, fantásticos como já o estavam no original.
A gestão de recursos é fundamental, principalmente em dificuldades superiores. Volta a ser fundamental saber que tipo de monstros nos aparecem pela frente. Uns são mais vulneráveis a determinadas armas, torna-se determinante saber quais as zonas críticas do corpo a atingir, pois há que os incapacitar para que se desloquem o mais lentamente possível. Já que estou a falar dos monstros, estão mais assustadores do que nunca. É um trabalho supremo da Motive Studios, conseguiram manter a génese ao mesmo tempo que os tornaram ainda mais aterradores.
Angústia, ansiedade, desespero...
Terror é mesmo a palavra principal aqui. Há outras que poderíamos aplicar, como horror, claustrofobia, angústia, ansiedade, agonia, e desespero. Os sustos que apanhei estão noutro nível, mesmo familiarizado com o que se avizinhava. Confesso que tive vários momentos severamente difíceis em toda a minha jornada, de desespero mesmo, ao ponto de não sabia que fazer. Como exemplo, numa zona interior ampla de grande dimensão, toda a envolvência visual e sonora, com gritos de angústia em origem desconhecida e monstros a caminhar pelas condutas, dei por mim a andar lentamente junto à parede e a suster a respiração, para depois apanhar um valente susto com apenas o apagar da luz. Adivinhem o que se passou de seguida.
É uma entrega fiel ao material original, que amplia em grande medida a narrativa, seja com mais dados sobre a história e até novas zonas a explorar. Temos modificações em vários momentos capitais, adaptados a uma jogabilidade expandida com outras opções, principalmente pela livre deslocação em gravidade zero (voar). Mas também se observam zonas totalmente refeitas, com novas adições ao mapa, desde novos puzzles a várias missões secundárias que recompensam o jogador com upgrades e acesso a conteúdo extra. É uma dilatação de conteúdo que prolonga bastante a longevidade do jogo. Terminei em 18 horas, mas daria para bem mais, não explorei a sua totalidade e algumas missões secundárias ficaram por fazer.
Visual arrebatador no PC. Consolas precisam de ajustes
Este é certamente um dos trabalhos mais complicados que um estúdio pode ter em mãos, pegar num diamante e transforma-lo de forma a não perder o brilho original. A Motive Studios consegue um magnífico resultado final, mas nem tudo está como se desejaria. Joguei principalmente na PlayStation 5 (onde o terminei), também tive acesso à versão PC. Tenho de salientar que na consola da Sony existem questões que tem de ser revistas pelo estúdio. Refiro-me ao grafismo apenas. No PC, não há nada relevante a apontar, está com um aspeto fenomenal. Temos várias opções, de onde se destacam as técnicas DLSS da Nvidia e FSR da AMD, e naturalmente o ray-tracing.
Como referi, nas consolas as coisas complicam-se. Temos duas opções visuais na PS5 (deve ser idêntico na Xbox Series X): modo desempenho com 2K a 60fps; e modo qualidade com 4K ray-tracing a 30fps. No modo de qualidade, é evidente a subida em resolução e as melhorias trazidas pelo ray-tracing, mas o impacto negativo nos fotogramas por segundo tornam esse modo difícil de recomendar, a não ser que se tenha um ecrã com VRR. O modo desempenho, apesar dos sólidos 60 fotogramas por segundo, evidencia muitos problemas de imagem, que não consigo explicar. Temos em muitas partes uma imagem de baixa qualidade no horizonte, e por vezes mesmo ao perto. O fato de Isaac está muitas vezes muito pixelizado, e mesmo alguns objetos em redor sofrem do mesmo problema, pixéis desarmados por todo o lado. Não sei se haverá uma atualização no dia de lançamento, não consegui apurar. Esta questão visual terá de ser abordada pela equipa de programadores da Motive Studios, não é aceitável que o modo desempenho esteja com estas imperfeições visuais.
«Construído com um único objetivo, assustar o jogador. Este Dead Space consegue tudo isso e vai muito mais além»
Apesar das questões referidas sobre os visuais do modo desempenho nas consolas, nada é retirado ao trabalho final em termos de qualidade global. Jogado no PC é um regalo para os olhos, visualizar tremenda construção de um mundo tão aterrador e recheado de pormenores em todas as áreas. Construído com um único objetivo, assustar o jogador, e aí este Dead Space consegue tudo isso e vai muito mais além.
Como resultado, este remake de Dead Space consegue, obviamente, suplantar largamente o original. Dá-lhe uma nova vida e um fenomenal rejuvenescimento. Chega desta forma a uma nova audiência de jogadores sedentos por títulos deste género e com selo de qualidade, mas também gratifica todos os incondicionais seguidores e fãs da franquia. É um jogo que não deve ser perdido, tem de ser jogado e experimentado até ao seu ínfimo pormenor. Um remake quase perfeito, como deve ser. Glorifica o legado construído em 2008, aperfeiçoado posteriormente em 2011 em Dead Space 2. Bem, agora vou de malas e bagagens para o New Game+. Corta-lhes os membros.
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