Deadfall Adventures - Análise
Quando os nazis encontram o Indiana Jones.
Não é que o mercado de jogos de aventura esteja saturado, simplesmente conta com alguns pesos pesados que servem de referência cada vez que surge um título decidido a misturar ação com puzzles, ao longo de uma aventura estilo "Indiana Jones". Este Deadfall Adventures é antes de mais um shooter na primeira pessoa, mas em termos estéticos e funcionais, parece uma mistura de Tomb Raider com Uncharted, ainda que longe de ambos quanto à sua qualidade.
A apresentação é algo forçada, não contribuindo em nada para que desenvolvamos interesse pelo protagonista James Lee Quatermain. Rapidamente nos colocam de revólver em punho na pele de James, antes sequer de termos noção de porque nos devemos importar, quem é a rapariga que nos acompanha, ou porque é que o "guia" fugia de nós como o "diabo da cruz".
Visualmente, a primeira impressão é mais positiva, aliás, inicialmente o jogo até me enganou, julgava que ainda estava na zona de loading, e na verdade o controlo já me tinha passado para as mãos. Os ambientes exteriores são os mais impressionantes, com bons jogos de luz trazidos pelo reflexo do sol nas rochas e na areia do deserto. Infelizmente passamos praticamente 80% do tempo de jogo em zonas interiores, de salão em salão, sempre com pouca ou nenhuma escolha associada.
Os cenários sofrem ainda com algumas problemas técnicos, que de resto nos acompanham ao longo de praticamente toda a experiência. Algumas texturas pobres contrastam com outras de melhor qualidade, o screen tearing é demasiado frequente, os movimentos das personagens são muitas vezes robóticos, as expressões faciais são pavorosas na melhor das hipóteses e para completar, as personagens carregam uma aura em forma de parede invisível que torna os espaços ao seu redor intransponíveis.
O trama envolve a procura de um artefacto pertencente a uma civilização antiga (ora onde é que já vimos isto?), e que supostamente trará o poder da imortalidade a quem o possuir. Para suportar a nossa motivação, outro grupo procura o mesmo poder, nada mais nada menos que os Nazis, esses mesmos, celebrizados na história pelos piores motivos possíveis. Há uma vantagem em utilizar um adversário destes, a sua figura é imediatamente sinónimo de antagonista nas nossas mentes, facto ampliado pelo sotaque Alemão, e pela braçadeira vermelha com um X no lugar da suástica.
Para um shooter, que diga-se, conta com um respeitável número de armas, Deadfall Adventures tem um sistema estranho. Existem basicamente dois tipos de adversários, os Nazis, e umas criaturas mumificadas que vão surgindo ao longo das masmorras. Os primeiros são uma desilusão devido à fraca inteligência artificial do jogo, se por exemplo flanquearmos os inimigos, eles parecem perdidos, não fazendo ideia de onde estamos, é como se apenas se comportassem normalmente se estivermos "onde é suposto".
As múmias são ainda mais ridículas, considerando que as eliminamos utilizando a luz da nossa lanterna. Ora, se a luz do sol é conhecida ao longo da história da fantasia, por ser ela própria um protagonista (que o digam os vampiros), a luz de uma lanterna desintegrar a camada protetora de uma múmia, é simplesmente hilariante. Assim, independentemente da criatura mumificada que enfrentamos, tudo que necessitamos fazer é apontar a lanterna, e eliminá-la com uma simples facada, retirando grande parte da importância de possuir uma arma poderosa e muitas munições.
Isto já é simplista o suficiente para retirar parte do interesse ao combate, no entanto, o facto de os inimigos serem praticamente os mesmos desde o início até ao final do jogo, torna a experiência repetitiva e desinteressante. A ordem de ação varia sempre entre os segmentos de tiroteios, e os momentos das salas de puzzles, que podem demorar mais ou menos tempo, mas que completamos quase sempre com um pouco de "tentativa-e-erro".
Em escala os puzzles são quase sempre de grande dimensão, fazendo lembrar o God of War, mas com um grau de execução francamente inferior ao jogo dos estúdios de Santa Mónica. São assim puzzles de cenário, que precisamos decifrar para conseguir aceder à sala seguinte, saliento uma exagerada utilização dos "setups" com espelhos, onde nos é pedido para redirecionar a luz refletida numa determinada ordem, alturas em que nos é pedido para ativar alavancas, ou outros momentos em que ficamos sem saber o que fazer apenas porque o cenário esconde o objecto que é necessário apanhar.
"É desconfortável partir um vaso para descobrir uma família de aranhas hostis"
A parte mais agradável desta interação com os cenários advém do facto de navegarmos pelo meio de pirâmides e monumentos cheios de labirintos, armadilhas e criaturas perigosas. É assim comum termos que estar sempre com um olho em frente e outro no chão, até porque se não o fizerem, arriscam-se a cair num fosso, ou a despoletar uma das armadilhas nas paredes. Também é desconfortável partir um vaso para descobrir uma família de aranhas hostis, que se estão a marimbar para a lanterna e por isso acabam por ser inimigos mais competentes do que as múmias.
Para decifrar os mistérios Xibalba, James faz uso de um livro de anotações da família, tal e qual Drake nos Uncharted, e para ter a certeza que caminha na direcção certa, tem um compasso que por magia aponta a localização dos tesouros. Estes servem um ligeiro sistema de progressão que aumenta as capacidades do protagonista, um pouco mais de vida ou a capacidade de recarregar a arma mais rapidamente, só para dar dois exemplos.
Digamos que Deadfall Adventures é um jogo com algumas ideias interessantes, um bom "setting", mas uma execução deplorável e uma história banal, com personagens de quem não queremos saber. É direcionado para os fãs de fantasia estilo Indiana Jones, se gostarem dos perigos de escondem as pirâmides do Egipto ou os templos Maya.