Deadpool - Análise
O jogo mais hilariante de sempre!
Deadpool é um jogo-anedota que não mantém a seriedade do princípio ao fim. Quando não está a fazer palhaçadas, está a tagarelar e a fazer piadas (a alcunha "Merc with a Mouth" encaixa na perfeição) sobre os X-Men, de cariz sexual ou até sobre o próprio jogo, as suas mecânicas, e da forma como algumas secções estão desenhadas para prolongar a longevidade. A quarta barreira é quebrada constantemente, e como Deadpool não tem papas na língua, fala sobre tudo: o High Moon Studios, Sean Miller (o diretor do jogo), orçamento e inclusive outros jogos, havendo vários Easter Eggs.
A diversão e o humor estão sempre presentes, mas este tipo de humor não agradará a todos. Se gostam da personagem, é garantido que vão gostar do jogo. A caracterização de Deadpool está brilhante, retendo toda a sua personalidade e forma de agir. Por outro lado, é positivo que jogos destes existam, porque relembra-nos que devem ser divertidos e que não há nada de errado em criar um jogo para a galhofa em vez de apostar na seriedade.
Os trailers apresentados até agora representam bem o tipo de humor que vão encontrar. Pessoalmente, adoro este tipo de piadas e enquanto jogava ri-me à brava. É por isso que descrevo o jogo como uma anedota (no bom sentido), porque não perde uma oportunidade para colocar um sorriso na cara de quem está a jogar. Puro fan service é outra forma de descrever o que temos em mãos. Para quem adora Deadpool, é fácil recomendar o jogo. O problema está em conseguir convencer quem não está familiarizado com a personagem.
Deadpool é uma personagem estúpida por natureza, logo o seu jogo teria que ser igualmente estúpido. O seu objetivo inicial é arranjar dinheiro suficiente para criar o seu jogo, mas Mister Sinister acaba por matar o tipo que ia financiá-lo e Deadpool quer vingança. O enredo não faz muito sentido, seria era estranho se o fizesse, não perdendo uma oportunidade para se desviar da linha condutora.
Este é o lado bom de Deadpool. É um jogo divertido, com um bom humor e muito caótico. Se pelo menos o resto fosse tão bom como algumas piadas elaboradas, teríamos algo memorável, contudo não é o caso. Estamos perante um jogo que claramente sofre na jogabilidade por falta de polimento. Os indícios estavam à vista, quando no início de abril a Activision decidiu despedir parte da equipa dos High Moon Studios, foi dito que a produção já estava terminada, quase três meses antes da data de lançamento planeada.
A personagem tinha potencial para dar mais, mas sem o financiamento e tempo de produção necessários, não se pode fazer milagres. Está longe de ser um desastre completo, mas estaria a mentir se dissesse que era um bom jogo. É daqueles casos em que não é particularmente mau em nenhum aspeto, todavia, não brilha em nenhum, a não ser no humor.
Deadpool é um simples hack and slash com três armas brancas para desbloquear e mais cinco armas de fogo. Todas as armas podem ser melhoradas com os pontos ganhos nos combos (quanto maior, mais ganham), e há ainda habilidades da personagem para desbloquear. A aposta na progressão da personagem é forte, tão forte que precisam de repetir o jogo novamente vez para ter acesso a tudo.
Para evitar os ataques dos inimigos há duas formas: ou saltam, ou carregam no círculo no momento correto. Esta última é mais recomendada porque serve também de contra-ataque, e porque os saltos têm uma física estranha (não é fiável) e mantém a câmera estável, que por vezes teima em assumir ângulos desconfortáveis.
O problema não está na progressão da personagem, mas antes na sua repetitividade. Deadpool torna-se repetitivo rapidamente, e depois de chegarem ao final, não restará apetite para a segunda rodada. O design aborrecido dos níveis e a jogabilidade que pouco evolui ao longo da aventura contribuem em grande parte para essa sensação. De área em área, o jogo manda incansavelmente grupos de inimigos contra nós. Para quebrar a rotina, por vezes surgem puzzles simples e de fácil resolução, e secções de stealth em que Deadpool anda em bicos de pé.
"O que lhe falta em qualidade, Deadpool compensa em gabarolice e nas chamadas dick jokes."
Os bosses também ajudam a quebrar a rotina, e presenciar as cenas de gozo que Deadpool proporciona deixam-nos logo mais animados. Não estejam à espera de vivenciar confrontos épicos, como seria de esperar de super-heróis (Deadpool na realidade é um anti-herói), à semelhança do resto do jogo, estas secções são vulgares e pouco luxuosas. O confronto final só fica na memória pela frustração que causa, com Deadpool a enfrentar todos os bosses anteriores de uma só vez.
É triste ver Deadpool, uma personagem tão animada e cheia de energia, a passear pelos níveis tão pobres visualmente e a combater inimigos genéricos com uma inteligência artificial pouco evoluída que nem sequer chegam a oferecer um verdadeiro desafio. Os produtores fizeram de tudo para que gostemos do jogo, e há momentos em que conseguem, mas na sua maioria são momentos em que não estamos a jogar, porque aí, é enfadonho.
O que lhe falta em qualidade, Deadpool compensa em gabarolice e nas chamadas dick jokes. No final, o anti-herói sempre animadíssimo aclama que este é o "Melhor Jogo de Sempre!" e não podia estar mais longe da verdade. Mas se há elogio que lhe pode ser seguramente atribuído, é o de "Jogo Mais Hilariante de Sempre". Não tenho recordação de me rir tanto durante um jogo, e se é isto que procuram, e dão pouca importância ao resto, Deadpool cumprirá as vossas expectativas.