Deadpool - Análise
Divertido do princípio ao fim.
Se a existência de um filme de Deadpool era improvável, ainda mais improvável era que o resultado fosse um sucesso. Mas de alguma forma, a equipa criativa responsável por adaptar a personagem ao cinema tirou da cartola um filme surpreendentemente equilibrado e fiel às bandas desenhadas. Pode não ter a escala épica dos outros filmes da Marvel, até porque o orçamento era consideravelmente inferior, mas Deadpool prima noutros aspectos.
Antes de mais, convém ir para o cinema de mentalidade aberta. Este não é um aviso necessário para os fãs de Deadpool, mas antes para os restantes. Não estamos perante um filme tradicional de super-heróis, e é por esta razão que é tão refrescante. Deadpool ignora a fórmula e as regras, mostrando nudez, sangue e entranhas, muitas piadas, e claro, quebra por vezes a chamada "Quarta Barreira", em que Deadpool fala directamente connosco, estando consciente que faz parte de um filme.
Em grande parte, o filme é satisfatório devido à excelente prestação de Ryan Reynolds. Depois de uma primeira aparição como Wade Wilson (o nome verdadeiro de Deadpool) no filme X-Men Origens: Wolverine, o actor voltou a vestir a pele da personagem, mas desta vez de uma forma muito melhor e fiel. Aliás, o filme de Deadpool basicamente ignora a aparição da personagem no X-Men Origens, e ainda bem, já que não tinha deixado impressões positivas.
"O filme é satisfatório devido à excelente prestação de Ryan Reynolds"
No papel de Deadpool, Ryan Reynolds está apto para mostrar o seu verdadeiro valor. Após uma má experiência no já referido X-Men Origens: Wolverine, passando pelo filme de Green Lantern, o actor não era visto com bons olhos nos filmes de super-heróis. Contudo, em Deadpool o actor prova que nasceu para vestir a pele da personagem. Desde o jeito como as piadas são ditas à forma como a personalidade de Wade Wilson / Deadpool é retratada, é difícil imaginar que o filme teria sucesso com outro actor no papel.
Neste filme, a origem e a transformação de Wade Wilson em Deadpool são explicadas novamente. Apesar do inevitável tom cómico que o filme normalmente assume, devido à personalidade deste anti-herói, há momentos verdadeiramente dramáticos e emocionais. Quando Wade Wilson descobre que tem um cancro terminal, o que eventualmente o leva a juntar-se a um programa de experiências de mutação em humanos, a comédia é substituída por emoções reais.
Apesar dos cartazes promocionais que prometiam uma "verdadeira história de amor" não oferecerem uma imagem real do filme, não são completamente mentira. O filme consegue-nos convencer que a paixão entre Wade Wilson e Vanessa (representada pela actriz Morena Baccarin) é real. É esta paixão que leva Wilson a alistar-se no programa clandestino. Por um lado, o programa resulta. Wade ganha a habilidade de auto-regeneração, no entanto, fica desfigurado. É a partir deste ponto que a acção começa e que Deadpool nasce.
A sequência inicial de abertura deixa bem claro o tipo de filme que Deadpool é. Tim Miller, o realizador, é mencionado como um "idiota com um salário excessivo", mas este é apenas um dos momentos cómicos ou referências que ocorrem ao longo do filme. Em simultâneo, os primeiros minutos estabelecem o tipo de acção que vamos ver, mostrando um adversário a ficar literalmente espalmado num placar informativo da auto-estrada. Ao contrário dos outros filmes de Super-Heróis, Deadpool não reduziu nem um pouco a sua violência para alcançar uma audiência mais juvenil, até porque censurar um filme de Deadpool seria cortar parte da essência da personagem.
Embora o humor faça parte do filme, o que seria de esperar, visto que faz parte da identidade de Deadpool, as sequências de acção também merecem destaque. Os momentos de acção estão bem orquestrados e dão a sensação de serem orgânicos, sem recorrência excessiva aos efeitos especiais. Aliás, só damos conta dos efeitos especiais quando Colossus e Negasonic Teenage Warhead, dos membros dos X-Men, entram em cena. O primeiro é um gigante metálico extremamente forte e resistente, enquanto a segunda é uma adolescente que consegue causar explosões atómicas com o seu corpo (a versão do filme é completamente diferente da versão da banda desenhada).
"Deadpool é uma excelente combinação de acção e comédia"
Estas duas personagens de suporte combinam bem com Deadpool, gerando uma sinergia invulgar. É hilariante ver Colossus a tentar convencer o anti-herói a juntar-se aos X-Men e a dar-lhe lições de moral, apenas para estes conselhos serem completamente ignorados no momento seguinte. Já a Negasonic Teenage Warhead olha para Deadpool apenas como um idiota, e de cada vez que fala é para o irritar. Ainda assim, em termos de personagens com super-poderes que aparecem no filme, a Negasonic Teenage Warhead é a segunda mais carismática, mas também gostamos da caracterização do Colossus, principalmente o seu sotaque russo.
O ponto mais fraco de Deadpool é o seu vilão, um individuo britânico chamado Ajax que não sente dor. Ed Skrein, que faz o papel de vilão, não faz má figura, mas com um adversário tão carismático como o Deadpool, simplesmente não se consegue destacar. Ainda por cima, Deadpool goza com ele na maioria das vezes, o que ainda diminui mais a sua figura. Por outro lado, o facto do filme não ter um vilão forte permite que Deadpool brilhe e seja o centro das atenções, e já que o anti-herói é capaz de fazer tanto coisas boas como coisas más (daí que não seja considerado um super-herói), um vilão não é um peça essencial, pelo menos neste primeiro filme.
Resumindo, Deadpool é uma excelente combinação de acção e comédia, juntando em 1h48 tudo aquilo que caracteriza a personagem. É um filme extremamente divertido que agradará aos fãs e que serve de porta de entrada para aqueles que não conhecem o Merc With a Mouth. Apesar do orçamento menor, este é um dos melhores filmes do universo da Marvel, tendo uma boa escolha de actores, muita acção, muitas piadas, até algum romance e drama.