Detective Pikachu - Análise - Resolve os mistérios em Ryme City
Este detective tem faísca.
Dada a ausência de Professor Layton e Ace Attorney, nesta fase da 3DS, o quadro dos jogos de investigação e de índole policial ficou estagnado. Para colmatar as significativas ausências, a Nintendo apresentou Detective Pikachu, uma produção do estúdio Creatures, sedeado em Tóquio e filial do grupo The Pokémon Company, detentor de um vasto currículo na série Pokémon. Tendo em conta o potencial desta presente edição que tem como protagonista o detective Pikachu, há uma expectativa positiva em torno da sua performance. O eventual sucesso abrirá as portas a uma sequela. E, em bom rigor, é bem provável que consiga, o que é merecido em função de uma certa frescura que emana deste título.
Nesta obra de abertura, talvez falte a Detective Pikachu a profundidade de um Phoenix Wright: Ace Attorney, ou a riqueza cerebral de um Professor Layton que no seu melhor é aventura para marcar, mas não obstante a ligeireza de muitos momentos que integram a aventura, consegue deixar boas impressões, abrindo a porta a uma futura sequela, porventura mais profunda e menos linear. Não é que seja um jogo talhado para uma audiência infanto-juvenil. Embora vise o público tradicionalmente afecto à audiência Pokémon, nem por isso os mais adultos deixarão de sentir apelo nesta jornada policial a partir do momento que descobrem a voz de um adulto a caminho da meia-idade no rosto de Pikachu, o Pokémon mediático pelos elevados níveis de fofura associado a descargas eléctricas colossais.
É a remoção dessa base mais familiar, em prol de um chapéu de detective em ligação com a sua capacidade para gerar bons diálogos e produzir conversas interessantes, que começa por funcionar e estabelecer uma ligação que há-de durar até ao fim das 10 a 13 horas de jogo que compõem esta jornada de detectives. Aqui o jogador toma o papel de Tim Goodman, um bom-rapaz que um dia descobre que é capaz de estabelecer diálogo com Pikachu (humanos e pokémons co-habitam na mesma cidade), ficando a saber que para além de uma criatura inteligente, ele também é um bom detective, e depressa nos deixará prontos para resolver uma série de casos que involvem criaturas Pokémon desajustadas da realidade. Assim parece.
Ambos depressa acertam agulhas e começam por investigar uma série de situações insólitas. Particularmente interessante, nesta campanha, é o desenvolvimento da investigação. Há sempre umas cinematográficas a garantir o substracto narrativo, mas o fundamental é a investigação no local. O jogo apresenta uma composição em 3D e por isso os cenários podem ser percorridos em profundidade. Chegados a um local onde algo de inusual aconteceu, a primeira tarefa passa por levar a cabo uma exaustiva observação de todos os pontos de interesse. Identificados através de uma lupa, esses pontos revelam detalhes que são depois processados numa imagem descritiva das notas relevantes, no chamado bloco de notas.
Há um processo de memorização, ligado à recolha das declarações das testemunhas e outros indícios registados no local. O alinhamento nessa tabela é fundamental para que possamos progredir para a fase seguinte. O ritmo da investigação é rápido numa primeira fase, através de quadros relativamente simples e fáceis de completar. A dificuldade nem sequer é muito elevada, por comparação com alguns puzzles mais rebuscados de Phoenix Wright. Basta uma atenção às notas e indícios para se completar facilmente um quadro. Nisto, o destaque vai outra vez para a interacção entre as duas personagens.
Há uma eficácia grande nos diálogos e na marcha narrativa, embora a história não seja propriamente das mais estimulantes. Já conhecemos melhores guiões no quadro da investigação. Como policial, é leve e linear, um propósito visado pelos produtores tendo em conta o público para qual a obra parece talhada. Aliás, a adaptação é tão rápida que depressa temos vontade de passar à fase e ao cenário seguintes.
O jogo contém algumas fases de investigação bastante interessantes, mas também pode ser cansativo e exaustivo quando abre cenários de maior largura e nos leva a inquirir muitas personagens que acabam por responder com o típico "chit-chat". É quase impossível passar ao lado estes excertos, até porque se revelam de grande utilidade, mas por vezes tornam-se cansativos. Uma forma de aliviar este peso excessivo de alguns diálogos passa por aceder a um menu onde encontram uma descrição sumária dos apontamentos elaborados com as testemunhas e pessoas suspeitas. A interacção através do ecrã táctil facilita, e a divisão por temas ajuda a ir ao encontro da opção pretendida quando queremos consultar algo de relevante entretanto recolhido, sem ter que passar por nova inquirição.
A apresentação é simples, quase minimalista. Os cenários não são particularmente densos ou rebuscados, o que acaba por facilitar na investigação, mas há detalhes escondidos da vista, que requerem uma observação minuciosa. Todavia, ostenta um design que apesar de não mostrar o nível de detalhe de um Professor Layton ou a identidade de um Phoenix Wright, é bastante diferente do habitual tratamento dado aos jogos Pokémon. Há uma grande simplicidade na construção deste título, e as mecânicas não sendo complexas revelam-se acessíveis.
Para os adultos é a personalidade e vocação de Pikachu para a investigação que melhor funcionam nesta jornada policial, enquanto que para os mais pequenos, a simplicidade e acessibilidade asseguram uma entrada cómoda. A ausência do português, entre as legendas, poderá formar um obstáculo, nada que não possa ser superado através da supervisão de um adulto. Apesar da simplicidade e do menor fulgor por comparação com outras propostas do género, Detective Pikachu consegue deixar uma impressão positiva. Uma aventura fluida e minimamente desafiante. Deixa a porta aberta para uma sequela, mas para já é um óptimo passatempo, de caneta e bloco na mão. O boné é acessório, a cabeça faz tudo.