Detective Pikachu Returns - Desaparecimento sob investigação
Uma chávena de café para despertar os sentidos.
O regresso do Detective Pikachu ao sistema híbrido da Nintendo não é inesperado. Tendo em conta o final deixado em aberto na aventura de estreia deste Pokémon amarelo que veste chapéu à Holmes e bebe tragos de café quente a fim de digerir melhor o acumulado de casos a resolver, a sequela do jogo que só cá chegou em Abril de 2018 é mais do que inevitável. Detective Pikachu Returns é a continuação do original lançado para a Nintendo 3DS. Pelo meio houve lugar para uma película de nome quase semelhante (Pokémon Detective Pikachu, 2019) que desenvolveu a matéria a inquirir e os protagonistas.
Em todo o caso e voltando ao Detective Pikachu Returns, é um jogo algo similar ao anterior na acessibilidade e simplicidade de mecânicas, um jogo vocacionado para uma audiência jovem e casual. É uma experiência leve e menos desafiante que outros jogos que primam pelas investigações bicudas, como um Professor Layton ou mesmo um Ace Attorney. Curiosamente, coube-me analisar o original há cinco anos. Eu que nem sou propriamente um jogador e conhecedor da espinha dorsal dos jogos Pokémon em formato role play, há muito que estou com vontade de começar a jogar na Game Boy original um jogo da trilogia inicial. Mas não senti neste “spin off” a imposição dos elementos e mecânicas do jogo de role play. Aqui só apanhamos mesmo os suspeitos e resolvemos os casos depois de percorridos um conjunto de inquirições, apontamentos e deduções.
Dado que este é apenas o segundo jogo num espaço de cinco anos capaz de dar sequência à narrativa anterior, a frescura do original ainda se mantém. A atmosfera e ambiente da experiência emanam logo no prólogo, quando vemos Pikachu, de voz reverente, a dar-nos uma súmula dos acontecimentos do jogo anterior e do seu desfecho. O desaparecimento de Harry Goodman, o seu antigo “boss”, é a investigação que perdura e precipita mais eventos.
A investigação prossegue
Detective Pikachu é acompanhado pelo filho de Harry, Tim Goodman, que na forma de humano é muito superior à figura Pokémon. A particularidade de Tim reside na capacidade de perceber o que diz Pikachu e falar com ele. Um feito que quando detectado por outros humanos, incapazes de qualquer contacto com estas criaturas peculiares que povoam Ryme City, gera insólitos e até produz momentos de comédia. Ressalva seja feita, o jogo vive muito desses humores de circunstância e do efeito que é ter um Pokémon, um dos monstros mais rapidamente reconhecíveis à perna do protagonista.
As transições de perspectiva, no entanto, garantem quase sempre um retrato central de Pikachu, numa série de situações e contextos de inquirição em ambiente urbano ou dentro de espaços, que claramente estão melhores quando comparados com os segmentos do jogo original. Relativamente a outros jogos, a produção e o ambiente 3D não é tão requintado, mas serve bem o propósito e oferece até comédia e bom humor quando penetra nesses segmentos cinematográficos. Acabei por jogar com as vozes em japonês, que também evidenciam um bom trabalho e asseguram bastante relevo às personagens. As vozes em inglês são igualmente favoráveis.
O desaparecimento de Harry está em plano de fundo, enquanto sucedem outros eventos, alguns deles protagonizados pelas criaturas. Não há por isso uma progressão da narrativa em linha recta. Em certas ocasiões o argumento ressalta, ganha expansões, foge da linha orientadora de fundo e deixa Pikachu e Tim inspeccionarem Ryme City com alguma liberdade. Escolhendo as pessoas a inquirir, as observações a efectuar em determinados locais, indispensáveis aos apontamentos no bloco de detective, há uma espécie de deambulação que pode tornar morosa a resolução dos casos. As inquirições das criaturas estão a cargo de Pikachu, enquanto que Tim questiona as pessoas com conhecimento directo e envolvidas no crime.
Máquina de resolver casos
O desenvolvimento de Ryme City, bem como a produção do ambiente e atmosfera, é melhor. As áreas são apresentadas com profundidade, em 3D, embora numa perspectiva 2D. É possível transitar entre espaços, avançar e recuar à medida que se conhecem novas áreas. É interessante verificar que há um notório avanço na modelação da cidade. Pikachu e Tim avançarão por algumas zonas e espaços, desde mansões, parques e até um café onde Pikachu bebe uma caneca dessa mítica e popular substância capaz de despertar os sentidos. Os locais sublinhados a cor vermelha (termo nosso), normalmente o espaço do crime, podem ser inspeccionados à lupa, incidindo sobre detalhes relevantes, ao ponto de se coleccionar cada pista e elemento essencial. A colecção de pistas e depoimentos é essencial, gravada num bloco.
Quando a investigação atinge determinado ponto de maturidade, depois dos depoimentos e recolhidas as pistas, o jogo entra na fase de dedução, que permite seleccionar as respostas de modo a resolver o caso. O esquema é bastante simples e acessível, embora com um ponto que pode deixar menos entusiasmados os adeptos de um bom desafio. O esquema de dedução, podendo identificar erros, tolera-os e permite que o jogador, num modelo de tentativa e erro encontre a resposta certa, mesmo depois de ter falhado a anterior. Por princípio de exclusão fica sempre aberta a porta da resolução de todos os casos.
Outra limitação que deriva do jogo anterior, e então assinalei, é a quantidade de diálogos de circunstância que enchem e contribuem para o tempo de jogo, mas que poderiam resumir-se a pequenos instantes. Há segmentos repisados, de avanços e recuos que mereciam um melhor apuramento narrativo. Como aventura de detectives, o jogo tem os seus pontos altos, mas também fases e momentos de algum cansaço e até exaustão. Continuam também os “quick time events”, a suscitar atenção e reflexos imediatos. O emparelhamento com outros Pokémons e personagens em certos momentos da investigação estreita a ligação entre personagens mas este é um círculo fechado e limitado aos eventos que se propagam por Ryme City
Em resumo, Detective Pikachu Returns é uma clara continuação do jogo anterior. Melhor e mais trabalhado, especialmente no ambiente e na produção, bem como no relacionamento entre as duas personagens, embora permaneça vocacionado para uma audiência juvenil. Falta-lhe o desafio dos outros jogos de detectives e a narrativa não nos livra de secções cansativas e muitos diálogos de circunstância. Ainda assim, uma aventura diferenciada da espinha dorsal da série Pokémon, dotada de um duo de personagens que interagem entre si e com a cidade onde investigam com alguma propriedade.
Prós: | Contras: |
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