Devil May Cry 4: Special Edition - Análise
A melhor remasterização da Capcom.
Esta já é a segunda remasterização de Devil May Cry que a Capcom lança este ano. A primeira foi do jogo desenvolvido pela Ninja Theory que tanto dividiu os fãs por várias razões, a segunda, a qual estamos a analisar aqui, é de Devil May Cry 4, bem mais antigo, de 2008, mas que ainda tem algumas qualidades (e defeitos).
A aposta em duas remasterizações diferentes da série parece uma indicação que a Capcom está indecisa quanto ao futuro da série e quer que os fãs indiquem, através das vendas, qual o caminho a seguir, mas também aparenta ser uma forma de contentar os fãs que ficaram desiludidos com a abordagem da Ninja Theory. Embora ambos partilhem o nome Devil May Cry, são dois jogos complemente diferentes que brilham em aspetos diferentes. Quanto à remasterização da Ninja Theory já a testamos em março, portanto, clica no link se precisares de ler a análise a DmC Devil May Cry: Definitive Edition. Foquemos-nos agora em Devil May Cry 4: Special Edition.
Em termos do que se espera de uma remasterização, Devil May Cry 4: Special Edition vai muito mais além do que habitualmente nos é oferecido, incluindo uma boa dose de novos conteúdos. Os novos conteúdos são três personagens jogáveis adicionais, aumentando o número total para cinco. No jogo original, apenas podíamos jogar como Nero e Dante, mas agora Trish, Lady e Vergil juntaram-se à lista, um número recorde para a série. Recordem-se que Trish apenas foi uma personagem jogável em Devil May Cry 2, enquanto Lady nunca teve este estatuto, aparecendo em Devil May Cry 3 como um boss e mais tarde como uma personagem de apoio. Para fãs da série, a adição destas personagens é um argumento forte o suficiente para tornar esta Special Edition tão apetecível.
Outra adição à Special Edition é o modo de dificuldade Legendary Dark Knight, previamente apenas disponível na versão PC. Este é o modo mais extremo que podem encontrar e chegar ao fim é um verdadeiro teste à paciência e habilidade. O que este modo faz é aumentar drasticamente o número de inimigos que aparecem numa área mas também trocar os inimigos fáceis pelos mais difíceis. Não é incomum ficarem completamente cercados de demónios sem conseguirem perceber sequer de onde estão a sofrer dano. Para os fãs também é valiosa a adição de um modo Turbo, que aumenta a velocidade do jogo em 20 porcento e eleva o ritmo da jogabilidade para um nível ofegante.
No desempenho não houve ganhos, a versão original já corria com a fluidez de 60 fotogramas por segundo, no entanto, a resolução foi aumentada para 1080p e houve alguns retoques visuais, mas não se enganem, este é um jogo já com sete anos em cima e vão reparar de imediato quando começarem a jogar. A qualidade visual ainda é aceitável, mas não estejam à espera de gráficos de ponta. Neste aspecto, DmC Devil May Cry está muito mais evoluído, o que é natural já que é muito mais recente. Mas o mais importante num Devil May Cry é a jogabilidade, e nisto, esta Special Edition não falha.
Em relação às novas personagens jogáveis, não são um simples "copiar-colar" de Dante ou Nero, longe disso. Vergil, Lady e Trish apresentam novas formas de jogar e têm um leque de ataques únicos. O primeiro tem o modo dedicado só para sí onde vão jogar com ele do princípio ao fim, enquanto Lady e Trish partilham uma campanha, semelhante ao esquema de Dante e Nero, ou seja, na primeira metade das missões jogam com Lady, e na segunda metade com Trish. Com qualquer uma das personagem podem começar logo a jogar no modo Legendary Dark Knight, mas as restantes dificuldades acima de Devil Hunter precisam de ser desbloqueadas. O que é vantajoso é que o progresso é partilhado, assim, quando desbloqueiam um modo de dificuldade, desbloqueiam essa dificuldade com todas as outras personagens. O mesmo vale para as Proud Souls, que servem para comprar novos ataques / habilidades. Quando ganham Proud Souls com uma personagem, ganham a mesma quantidade para as restantes personagens.
"Vergil, Lady e Trish apresentam novas formas de jogar e têm um leque de ataques únicos."
Entre as novas personagens, Lady é sem dúvida a mais poderosa e fácil de jogar graças ao seu Rocket Launcher, que com um ataque limpa vários inimigos e retira grande vida aos bosses. Não fosse isto suficiente, com a mesma arma é facílimo chegar ao nível de estilo máximo "SSS", o que me leva a pensar que a Capcom concebeu esta personagem como uma espécie de modo fácil para quem nunca jogou Devil May Cry e iniciou-se na série com este jogo. As outras armas de Lady são uma dupla de pistolas e uma caçadeira, que podem ser alternadas ao carregar nos gatilhos. Devido à facilidade e pouca variedade de ataques / combos, esta é consequentemente a personagem menos divertida. Apesar de não ter Devil Trigger, pois é humana, tem uma barra semelhante que quando ativada lança várias granadas em todas as direções.
Depois de desbloquearem todas as suas habilidades, Vergil fica extremamente poderoso. O irmão de Dante tem várias habilidades únicas, como tele-transporte com um alcance considerável, invocar espadas à sua volta que servem tanto de escudo como para causar dano e uma espada que pode causar dano à distância. Além da sua espada característica, Vergil tem ainda ao seu dispor as armas Beowulf, uma armadura de ataque para os braços e pernas, e a Force Edge, uma espada mais robusta do que a Yamato. Esta personagem tem ainda uma mecânica escondida chamada "Concentration", representada por uma barra azul no canto superior direito. Para encher esta barra, que aumenta o dano e dá acesso a ataques ultra poderosos, precisam de imitar o estilo de Vergil a jogar, isto é, não se mexerem mais do que o necessário e evitar os ataques dos inimigos com estilo.
Por último temos Trish, que é completamente diferente da versão que vimos em Devil May Cry 2, em que os seus ataques eram praticamente iguais aos de Dante. Nesta Special Edition, Trish tem a sua lista de ataques únicos, e tal como Nero, não precisa de trocar de armas a meio do combate, sendo uma personagem recomendada para quem se quer iniciar (a Lady também é indicada para iniciantes, mas pode se tornar demasiado fácil). As armas usadas nos ataques - uma espada gigante, socos e pontapés, e uma dupla de pistolas - dependem da combinação de botões. Devido aos seus ataques espectulares e vistosos, é muito divertido jogar Trish, mas não é uma personagem com tanta profundidade como Dante (que é a personagem mais complexa de todas devido à possibilidade de trocar estilos a meio dos combos) ou Vergil.
O único problema de Devil May Cry 4: Special Edition é o mesmo que já afetava a versão original: a estrutura repetitiva dos níveis. A dado momento terão que repetir o jogo de trás para a frente e enfrentar os mesmos bosses que já derrotaram em algumas missões atrás. Passados sete anos após o lançamento, esta reciclagem de conteúdos continua a não fazer sentido e torna-se mais difícil de aceitar quando olhamos para Devil May Cry 3 e vemos que a Capcom já fez melhor. Devil May Cry 4 tem uma jogabilidade mais refinada, profunda e com mais possibilidades (principalmente agora com a adição de mais personagens) do que o seu antecessor, mas é tido em menor consideração pelos fãs devido a esta sua falha.
Apesar de não conseguir livrar-se dos erros do passado, Devil May Cry 4: Special Edition é a melhor remasterização da Capcom até agora, aliás uma das melhores remasterizações que já tivemos a oportunidade de experimentar, pois vai além das melhorias tecnológicas e adiciona novos conteúdos relevantes. Para quem adora Devil may Cry e/ ou hack and slashes, esta Special Edition é uma proposta excelente, tem a melhor jogabilidade que podem encontrar na série, um valor de repetição enorme (além do modo história ainda têm o Bloody Palace), a maior lista de personagens jogáveis, e o preço até é justo.