Disney Illusion Island - No encalço dos antigos jogos de plataformas
Melhor servido a quatro.
Guardo saudosas memórias de alguns dos jogos baseados em personagens e universos da Disney. Castle of Illusion, World of Illusion e mesmo o mais recente Epic Mickey: Power of Illusion, são alguns exemplos de jogos de plataformas em formato side scroll horizontal que marcaram as gerações 8 e 16 bit. Alguns foram editados pela Sega, outros pela Capcom, especialmente na consola Game Boy, que também recebeu um imenso naipe de jogos da Disney, especialmente com o rato Mickey como protagonista. E guardo essas memórias porque eram jogos bem interessantes. Não sendo excedíveis ou os melhores em qualidade, eram divertidos, apresentavam bons desafios e de algum modo ampliavam o universo das personagens e mundos conhecidos da animação e da banda desenhada. Como dimensões paralelas aos filmes e séries de domingo à tarde funcionavam muito bem.
É numa espécie de retoma desses universos e do tipo de experiência, assente nas plataformas e no formato side scroll horizontal, algo mais retro, que se enquadra a mais recente produção da Dlala Studios, responsável por dar vida a um jogo que tem no modo cooperativo até quatro jogadores (embora possa ser jogado a solo) o seu expoente. Embora seja indiscutível a influência dos jogos 8 e 16 bit, o trajecto da série Rayman Legends, com Michel Ancel parece ter merecido atenção por parte dos produtores, atento o aspecto estilizado dos gráficos, as cores contrastantes e os movimentos e saltos eficazes.
No fundo estamos perante a reunião da turma com Mickey, Minnie, Donald Duck e o Goofy. São os heróis e heroína incumbidos da recuperação dos três tomos do conhecimento, levados da biblioteca da ilha Monoth e cujo desaparecimento instalou o caos. Para estabelecerem a ordem e recuperarem os quatro livros, os quatro heróis deverão viajar pelos Biomes da ilha, grandes porções de território equivalentes a labirintos, pontos e acessos ao estilo metroidvana. Mais do que um jogo de acção e plataformas, prevalece sobretudo a lógica da evasão aos inimigos e o permanente avanço e recuo dentro dessas àreas, à cata de mais poderes e upgrades que permitem às personagens obter um ganho e dessa forma a chave com que acedem a uma área até então limitada.
Não é um jogo de grande dificuldade, como também não excede e fica até um bocado aquém dos títulos que servem de influência. No estilo “metroidvania” as primeiras horas padecem um pouco da monotonia quando o jogo é experimentado a solo, através de constantes avanços e recuos que se desmultiplicam em afazeres algo monótonos. É de relevar, no entanto, a boa física e o controlo preciso e suave das personagens, o que não só é essencial para saltitar entre plataformas e paredes, como também é fundamental para tornear os adversários e inimigos. Um ponto interessante é a ausência de armas ou poder de fogo sobre os inimigos, o que liberta um pouco o jogo dos confrontos.
Já os upgrades são entregues ainda na fase inicial da aventura. O boost jump e o wall cling funcionam bem, são bastante intuitivos e resultam de imediato numa espécie de acrobacia visual. Só que estas habilidades possuem aspectos e particularidades que variam de personagem. Embora todos beneficiem do mesmo upgrade, o aspecto é diferenciado, o que resulta em quatro diferentes animações e um ganho visual quando as quatro personagens progridem em simultâneo.
O jogo nem só se faz de exploração, avanço e recuo. Há encontros mais ou menos regulares com personagens centrais na narrativa. Estes npc’s proporcionam espaço para alguma conversa e emprestam um tom cómico à narrativa. O caso de Mazzy, que tende a aparecer com as suas engenhocas e habilidades científicas em jeito de upgrades ou então a garantia de acessos rápidos pelo batedor Jido. É justo referir que embora a história seja simples e leve consegue entreter e proporcionar até algumas risadas por via dos comentários vincados dos protagonistas. Há um temperamento diferente em cada herói, capaz de extravasar em momentos cruciais.
Jogado em grupo, Disney Illusion Island consegue funcionar um pouco melhor, ainda que com as limitações decorrentes da capacidade de cada um para pegar no comando e superar os obstáculos. Se o primeiro avançar demasiado os restantes tendem a desaparecer da perspectiva. É uma experiência que se torna mais comentada e disponível para a coligação de forças. Engraçado como algumas habilidades podem ser praticadas mediante a articulação de movimentos, apenas para a opção em jogo cooperativo. O abraço, o salto do sapo, descida pela corda ou o teleporte aquático, são algumas opções praticadas com relativa facilidade.
É interessante explorar a diversidade das Biomes. Pavonia, Gizmopolis e Astrono deixam uma boa impressão pelas temáticas. A primeira pela fauna e flora, a segunda pela maravilha em termos de engenharia e equipamentos, enquanto que a terceira repousa numa espécie de observação atenta dos céus e dos mares. Há por isso muito e diferenciado território a explorar. No entanto, a dada altura os mapas como que abrem diferentes áreas e levam a perder facilmente a noção do posicionamento, forçando repetidas vezes a pausa no jogo para se perceber a localização no mapa e o ponto a seguir. Há momentos de uma grande repetição das mesmas plataformas, ocasionando os mesmos movimentos, saltos e efeito de ricochete pelas paredes.
Percebe-se que os produtores criaram o jogo tendo a família em mente. O desafio não é dos mais apurados, falta-lhe uma boa dose de puzzles e aquele grau de produção mais cuidado, evidenciado não só pelos metroidvania mas por títulos como Rayman Legends que também operam no side scroll horizontal. Aqui as personagens movimentam-se para chegar aos objectivos e superar os obstáculos, esquivando-se dos inimigos e evitando as sucessivas armadilhas montadas no caminho. É por isso uma longa prova de obstáculos, labiríntica e acessível. Ainda assim com o traço típico e a originalidade de uma animação Disney.
Prós: | Contras: |
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