Disney Tangled
Até que o cabelo os separe.
É possível encontrar bons exemplos de transposições do cinema para os videojogos. Lion King, por exemplo, resultou num jogo de plataformas com relativo sucesso e, mais recentemente, Toy Story 3 provou dar um razoável alcance ao filme, bem mais do que a mera adesão ao argumento, mas também pela forma como se construíram muitos dos desafios, conseguindo dessa forma apelar a uma faixa etária um pouco mais acima do grupo infanto-juvenil que normalmente figura como alvo prioritário deste tipo de produções.
Daquilo que vimos, Tangled, na versão para a Nintendo Wii, está claramente talhado para agradar aos mais pequenos e principiantes nos videojogos. Trata-se de um jogo que segue o argumento do filme, o conto de fadas da princesa Rapunzel, mas que simplifica sobremaneira o conceito de uma aventura em moldes tridimensionais, resumindo o jogador a uma série de operações que tocam no mais elementar. Todavia, a utilização do Wii remote possibilita algumas manobras interessantes, seja na resolução de puzzles, no sistema de pintura, corridas e descoberta de tesouros, pois sente-se que, apesar da superficialidade na abordagem, existiu uma compreensão das funções do comando.
A voz das personagens obedece aos congéneres da película animada. O bandido Flynn Ryder conta com a voz de Zachary Levy (protagonista da série Chuck) e a princesa Rapunzel tem a voz de Mandy Moore, princesa que num certo dia bateu com uma sertã na cabeça de Flyn para o tornar refém do castelo. Com ele ganharia luz verde para planear a fuga, servindo-se dos cabelos compridos para transpor alguns obstáculos e garantir a evasão de ambos.
O jogador assumirá individualmente ou colectivamente o controlo das personagens. No primeiro caso, poderá controlar Flynn ou Rapunzel a qualquer altura, transitando entre as duas personagens. A inteligência artificial providencia sempre apoio, mantendo a outra personagem próxima, salvo se ficar presa nalgum ponto do cenário, que normalmente implica uma manobra de cooperação entre os dois. Se juntarem um outro parceiro à demanda ficará mais fácil conciliar e garantir a interacção entre os dois de modo a percorrerem juntos o segmento.
A maior parte do tempo compreende jornadas em espaços abertos, recuperando pontos, atravessando plataformas, batalhando contra alguns inimigos - Rapunzel serve-se da frigideira para desancar na cabeça dos incautos, pelo que só amiúde deve destacar-se a função, enquanto que Flynn é mais hábil com a espada, até para desbravar vegetação densa. Flynn desenvolve ainda uma habilidade especial para recuperar tesouros quando dispara o detector e Rapunzel serve-se dos belos longos cabelos loiros para baloiçar até pontos mais distantes e devolvê-los a Flynn para que este possa servir-se deles ao jeito de uma liana.
À medida que avançam novas áreas ficam disponíveis para exploração, podendo escolher percursos alternativos. Sempre precedidas de cenas animadas, no entanto a repetição de mecanismos e rotinas de jogo, reduzidos a uma mera observação da área, recolha de objectos e ultrapassagem de alguns puzzles com segredos desvendados, tendem a desmotivar, apesar das tentativas de injectar interesse nos mini-jogos e actividades circundantes dos percursos principais. Pequenos desafios que obrigam a uma interacção entre as duas personagens.
Tangled é uma obra que não oferece conteúdos que possam convencer uma audiência adulta, não obstante a resposta minimamente satisfatória à utilização do Wii remote. O grupo infanto-juvenil poderá sentir-se tentado para dar seguimento ao filme neste quadro de exploração interactiva, bem sabendo, porém, que muito deste jogo se ultrapassa praticamente sem dificuldade, pelo que mesmo os mais pequenos com alguma experiência poderão sentir um amargo na boca num jogo cujo maior destaque é dar um complemento de interactividade ao filme.