Dogchild - Análise
O fruto dos primeiros Prémios PlayStation de Espanha.
Dogchild é o primeiro fruto dos Prémios PlayStation em Espanha, uma iniciativa da Sony que permite a pequenos produtores e estudantes concorrer num concurso de desenvolvimento de videojogos. O projecto vencedor ganha o direito de lançamento na PlayStation 4, entre outras vantagens. Em Espanha foi Dogchild que ganhou esse privilégio, e depois de algum tempo no forno, o jogo foi lançado digitalmente na semana anterior. Será que vale a pena a vossa atenção? Nem por isso.
O problema não está na forma de concepção. Existem diversos jogos que surgiram de Game Jams (por exemplo Titan Souls) e outros concursos que provaram ser excelentes conceitos. Dogchild é o extremo oposto. É um jogo terrivelmente concebido e facilmente envergonhado por muitos outros lançamentos digitais. Os seus problemas são vários: mecânicas fracas e pouco funcionais, falta de polimento, e uma completa ausência de diversão. A pouca diversão que poderia haver é sugada pelos momentos de frustração em algumas sequências.
A história é sobre um jovem chamado Tarpark e o seu cão Tarao. O jogo começa com uma investigação no parque da cidade, de onde estão a desaparecer vários cães. A missão de ambos é descobrir o responsável pelos raptos, que na verdade é a corporação Cornish, que conduz várias experiências em animais. Juntamente com o seu fiel companheiro, Tarkpark está decidido a deitar abaixo a empresa e impedir que mais experiências sejam levadas a cabo.
Uma das poucas ideias interessantes que Dogchild apresenta é a possibilidade de alternar livremente entre o jovem e o seu cão. Ambos são essenciais para chegar ao fim dos níveis. Tarpark é indicado para os momentos de combate, que se resumem a atirar uma bola de ténis contra pequenos drones e contra os guardas da Cornish. Quando lhes acertam com a bola, ficam atordoados durante alguns segundos. É durante este período que devem chegar à sua beira e prendê-los com uma corda, impedindo que se levantem e vos ataquem com tasers. O cão serve para a parte da investigação, que com o seu faro apurado consegue descobrir pistas e seguir rastos.
Apesar da ideia com potencial, o jogo não releva qualquer lustro. Jogar no papel do jovem como no papel do cão é horrível. A movimentação não é fluída e depois temos as frustrantes secções de plataformas. As secções de plataformas são frustrantes devido à falta de precisão no controlo das personagens mas também por causa das mortes estranhas. Por vezes, Tarpark morre depois de um pequeno salto. Isto acontece porque estamos a fazer algo de errado, como atravessar alguma barreira invisível ou não cumprir o objectivo.
Uma das secções mais frustrantes foi a descida de um precipício por umas rochas que faziam uma espécie de escada. Com Tarpark cheguei a uma parte em que, apesar de seguir aquele que me pareceu ser o único caminho possível, estava sempre a morrer depois de um pequeno salto para a rocha seguinte. O que tinha de fazer na verdade era chegar com Tarpark até uma certa zona, e depois trocar para o cão e fazer o mesmo percurso. Só depois podia seguir o caminho descendente com Tarkpark. Normalmente o cão segue-nos sempre por defeito, mas nesta zona tal não acontecia e não houve qualquer aviso.
Um pouco depois desta parte frustrante, eis que encontramos outra secção de puxar pelos cabelos. Neste curto momento tinha que controlar um trenó puxado por Tarao e um lobo amigável, mas inexplicavelmente, não podia raspar nas pedras que delineavam o caminho, caso contrário, a morte era instantânea. Acrescentando a isto, é praticamente impossível colocar o trenó a deslocar-se em linha recta, pelo que vão andar a maior parte do tempo aos "esses".
"As personagens são quase ocas e nenhum dos acontecimentos ao longo da história causa qualquer impacto emocional"
O resto do jogo não é tão frustrante como estes dois momentos que referi, mas não prima por nenhum aspecto, pelo contrário. A premissa da história não é comum para um videojogo. Proteger os animais e lutar contra uma corporação que os submete a experiência é uma causa nobre, contudo, a história é contada de forma tão pobre que não é criada qualquer empatia. As personagens são quase ocas e nenhum dos acontecimentos ao longo da história causa qualquer impacto emocional.
A juntar a este desastre temos, possivelmente, um dos piores jogos a nível gráfico para a PlayStation 4. Dogchild parece ser um jogo que chegou duas gerações atrasado. Existem jogos que optam por um estilo retro a nível gráfico por razões estilísticas, no entanto, este não é o caso. Entendo que a criação de jogos a três dimensões seja complicado para um estúdio pequeno e um orçamento apertado, principalmente um jogo de aventura como este, mas o desenvolvimento de videojogos nunca foi algo fácil.
Felizmente, Dogchild dura pouco mais do que 4 horas. Sim, estamos perante um jogo tão mau que quanto mais rápido acaba melhor. E por este preço, 12.99 euros, conseguem comprar jogos digitais muito superiores para a PlayStation 4. Embora seja de louvar a iniciativa da Sony, o resultado desta experiência em Espanha não foi favorável, tal como pudemos comprovar em primeira mão. Resta esperar que o projecto vencedor dos Prémios PlayStation em Portugal não siga o mesmo caminho.