Domingo Desportivo
Futebolada arcade com garantia Sega: Virtua Striker 3 ver. 2002
Os pontapés na bola virtual estão hoje confinados a duas séries que anualmente competem pelo troféu mais ambicionado: a confiança dos jogadores. De um lado do campo está Pro Evolution Soccer, orientado pela Konami e na outra metade está FIFA, comandado pela canadiana Electronic Arts. As duas séries projectaram-se de forma galopante durante a última década e secaram toda a concorrência. Por um lado porque as outras editoras não conseguiram acompanhar o ritmo imposto por Konami e EA Sports e por outro lado, como decorrência dessa incapacidade em esboçar o mesmo grau de futebol, os jogadores dividiram-se entre as duas séries.
Ficamos assim reduzidos a uma espécie de finalíssima que se joga anualmente, por esta ocasião, mas talvez a perspectiva do mata-mata não seja a melhor para encarar a dualidade PES e FIFA. Podemos seguir esta competição como uma evolução salutar, pois todos os anos há melhorias e transformações nos seus jogos, e embora possam ostentar significativas diferenças, sempre estiveram próximas e dentro da simulação.
Até à geração anterior de consolas eram abundantes e diversificados os títulos de futebol, muitos deles oriundos da cena arcade e depois convertidos para as consolas. Uma das séries mais emblemáticas e conhecidas do grande público, sobretudo por parte dos frequentadores das arcadas, é precisamente a série Virtua Striker. Haverá gente por aqui que seguramente esvaziou muitos bolsos numa das cabines. Desenvolvido pelos estúdios Amusement Vision da Sega, no Japão, o jogo de futebol arcade saiu primeiro nas máquinas para salão de jogos com a placa Triforce e transitou depois para a Nintendo GameCube, permanecendo como exclusivo desta plataforma na versão 2002, que empresta título suplementar ao jogo e que hoje revisitamos.
Setembro é tradicionalmente um mês de regresso do futebol, em força. Campeonatos nacionais, selecções em competição, competições europeias. O mundial congrega as maiores atenções de um torneio de dimensão internacional, mas os amantes do futebol real não dispensam uma acesa competição interna, com ida regular ao estádio mais próximo de casa. Como ritual que habitualmente ocupava a tarde de domingo e passou a perdurar durante todo o fim de semana, também as produções de futebol virtual arcade desapareceram. Virtua Striker 3 ver. 2002 (VS3v2002) é assim um dos últimos representantes de um género extinto e uma opção muito segura para quem prefere praticar um futebol simples, atractivo e sobretudo eficaz.
Com quase doze anos em cima, VS3v2002 não envelheceu nada mal, antes pelo contrário, ainda é uma opção a ter em conta para disputar competições internacionais com mais um amigo ou a solo. À semelhança dos anteriores jogos da série, VS3v2002 apresenta apenas selecções, mas em maior número e provenientes de diferentes confederações mundiais. No caso da Europa, a lista dos países representados divide-se em dois grupos, com Portugal a figurar no grupo A. Os nomes dos atletas não são verdadeiros, embora possam num ou noutro nome encontrar alguma correspondência (num primeiro Fifa, um jogador da selecção portuguesa chamava-se Luís Figarros). E a bola do jogo é a Fevernova da Adidas, o esférico do campeonato do mundo na Coreia e Japão de 2002.
Uma das curiosidades neste regresso ao passado é o reencontro com a simplicidade e eficácia do futebol. VS3v2002 transporta a exacta jogabilidade da edição arcade, a partir dos famosos três botões: um para o passe, outro para o passe comprido e o último para o remate. Nada de sprints, habilidades, desmarcações autónomas e outros toques que hoje fazem a diferença nas duas séries dominantes. Mesmo sem esses movimentos alternativos e realistas, encontramos um jogo focado no essencial e num ritmo rápido com aproximações rápidas à baliza.
Tirar um adversário da frente é complicado. Faltam as acelerações e só mesmo uma luta de ombros e uma corrida diagonal conseguem surtir algum efeito. Diante da baliza, dependendo da maior ou menor proximidade relativamente ao guarda-redes é possível desferir um remate potente e colocado ao ângulo ou encostar a bola ao fundo da rede, bastando para isso uma leve pressão no botão de remate ou até mesmo um passe. O momento do golo é festejado a preceito pelo jogador e existem diferentes animações, mas o aspecto mais interessante é a pontuação atribuída pelo computador ao golo obtido. Por exemplo, um remate de longe, efectuado de primeira é pontuado com umas centenas de pontos, enquanto que um golo mais fácil e obtido com alguma sorte não atinge pontuação tão grande.
Nos jogos da série Virtua Striker os futebolistas apresentaram sempre um movimento robótico e uma corrida muito previsível mas a física da bola ainda é uma das virtudes do jogo. A sensação de encaixe ao passar e receber a bola é muito grande, apesar da estranha sonoridade provocada pelas entradas de carrinho. Passar a bola do centro da defesa para um dos lados e fazê-la chegar até ao fim da lateral para um cruzamento certeiro no avançado, precedendo o golo implica um bom controlo do esférico. A bola possui suficiente autonomia e os passes não se configuram como teleguiados, pelo que a margem para falhar também é maior.
Defensivamente não sobram muitas opções. Por norma a melhor opção para evitar a carga e consequente amarelo passa por efectuar um encosto ao adversário, pressionando sempre na direcção da bola. Mas uma entrada de carrinho mais agreste é suficiente para o árbitro sacar o amarelo do bolso e até mesmo o vermelho. Não existem muitas animações mas torna-se recorrente ver os futebolistas protestar pelos cartões mostrados pelos árbitros.
O ambiente festivo no estádio é um dos pontos mais fortes, especialmente quando assistimos à subida das equipas no relvado, com as equipas separadas por duas enormes bandeiras, num enquadramento altamente cinematográfico. Bandeiras de diferentes tamanhos agitam-se e diferentes cores preenchem de contrastes uma moldura humana relativamente impressionante, emissora de cânticos vivos e incentivos que perduram mesmo durante o desenrolar da partida, especialmente com alguma amplificação quando se escuta o icónico "Gooooaaal". À época, VS3v2002 impressionava, e causou impacto em termos gráficos, algo que ainda mantém o jogo atractivo 12 anos depois.
Em termos de modos de jogo, existem cinco grandes opções. A taça internacional obedece ao mesmo modelo do campeonato do mundo, pondo num frente-a-frente 32 selecções. Mas também é possível disputar uma liga com 32 equipas e um torneio composto pela fase final, onde podem jogar os oitavos, quartos e meias finais. O Road to International Cup é a opção mais extensa e equivale à gestão de uma selecção desde as fases preliminares até aos grupos de apuramento para a taça internacional, o desafio derradeiro. Este modo apresenta inclusivamente um centro onde podem treinar e desenvolver a equipa, inscrevendo todos os jogos num calendário. Existe também um editor que autoriza a mudança de nome, aspecto, número do jogador, peso, tamanho, etc.
O quadro de opções e modos de jogo é bastante significativo para um jogo de 2002. A ausência de clubes e licenças, que os rivais da Konami e EA Sports chamaram a si desde então, não permitiram outros voos ao jogo da Sega. Mas há um brilho particular cada vez que disputamos uma partida de futebol nesta versão 2002 de Virtua Striker 3: o imediatismo e acessibilidade. A ausência desta derivação arcade do futebol virtual há mais de uma década leva-nos a encontrar neste jogo uma alternativa ainda bastante válida, descomprometida e aceitável sobretudo por aqueles jogadores que não se querem perder em tantas fintas e movimentos. Num tempo dominado pelas simulações e complexidade do futebol virtual, até que ponto gostariam de ver lançado um jogo de futebol criado em torno das coordenadas arcade, com ênfase na acessibilidade e ritmo rápido das partidas. Depois de Virtua Striker 4, que nunca saiu das arcades, gostariam de ver uma sequela nas consolas da nova geração?