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Don't Starve: Console Edition - Análise

Impiedoso. Brutal. Agressivo.

No mundo das ofertas digitais e dos jogos independentes, o estúdio Klei Entertainment não é nenhum desconhecido. Depois de alguns trabalhos, foi com Shank e sequela para a EA, em 2010 e 2012 respetivamente, que os responsáveis por Mark of the Ninja alcançaram uma maior atenção perante a comunidade dedicada aos videojogos. Agora, em 2014, depois de no ano passado ter chegado ao PC, recebemos Don't Starve: Console Edition e aqui temos um jogo verdadeiramente original que irá separar os homens dos meninos, os persistentes dos meros curiosos. Claro que pelo caminho alguns vão criticar o produto enquanto outros o vão eleger como algo verdadeiro único e especial. Vamos descobrir de que lado vocês vão ficar.

Don't Starve é o primeiro jogo indie para a PlayStation 4 em 2014 e para os subscritores PlayStation Plus ficou disponível completamente gratuito, portanto podem sem qualquer custo adicional conhecer o mundo do cientista Wilson. Este é o protagonista deste jogo de aventura em mundo aberto com um estilo visual bem particular. Wilson é um desajeitado pesquisador à beira do desespero quando é aliciado por Maxwell a procurar conhecimento infinito e descobrimentos estrondosos. O que recebe é na verdade uma jornada por um mundo de pesadelo que irá assombrar todos os jogadores.

O primeiro ponto que provavelmente irá deixar os jogadores de sobrancelha encorrilhada é não haver qualquer tipo de explicação, tutorial, ajuda ou informações. O estúdio não quis de forma alguma dar a mão ao jogador e tal como Wilson mais parece que somos atirados para um fosso rodeado de ameaças e desventuras com uma única frase: "safa-te!" É um dos pontos que irá separar uma grande fatia dos jogadores que aqui entram por mera curiosidade dos bravos que aqui vão batalhar para conhecer uma experiência profunda e sem paralelo. Desde já tenho que referir que DS não é para todos.

Assim que entramos no mundo percebemos que a luta pela sobrevivência é imediata, afinal de contas basta relembrar que o nome do jogo é Don't Starve. Wilson começa apenas com um pequeno pau e terá que aos poucos e poucos recolher itens, comida, animais, ou sementes por exemplo, para combinar e criar outros itens que lhe permitam aceder a um novo leque de instrumentos. Estes servem tanto para aumentar o seu inventário como para aumentar as suas possibilidades de sobrevivência quando cai a noite. Quando isto acontece os monstros que durante o dia vagueiam pelo mundo como se fossem sombras a surgir de outro plano alternativo, atacam o cientista na total escuridão e este morre em segundos.

"Don't Starve não tem qualquer pena do jogador e se este cair está por sua conta."

Quando ficarem chateados com as constantes mortes e a sensação de completa impotência perante a dificuldade...é porque algo está a correr bem.

Se a fome não vos matar, se o tédio não vos matar, se o tom "agressivo" que consegue ostentar ou se a elevada exigência do jogo não vos afugentar, ficarão perante uma classe única de jogadores que se irá dedicar a DS. Aqui vão encontrar uma profundidade estrondosa que embalada pelo tom de humor negro irá constituir uma jornada intensa, inteligente, desafiante e envolvente. O aspeto visual não é particularmente vistoso, o mundo aberto é simples e a perspetiva aérea permite visualizar os personagens e o seus traços "a lápis" para lhes conferir um belo tom.

Muitos vão desistir logo dentro dos primeiros confusos e desesperantes quinze/vinte minutos de jogo enquanto outros vão descobrir que este é apenas um período de adaptação e aprendizagem. Por tentativa e erro aprendemos como interagir com este mundo, quais as regras a cumprir, quais os perigos e respetivos castigos, quais as ajudas (algo raro) que nos dá e como o apelo à criatividade e empreendimento aventureiro será o passaporte para subir de nível, sobreviver mais dias e desbloquear mais personagens.

Se à noite são os monstros que nos matam em plena escuridão porque não conseguimos criar uma fogueira ou uma tocha, de dia é a fome que será o nosso principal problema. Ou estamos a procurar comida ou estamos a tentar criar machados/picaretas para derrubar árvores/partir pedras para criar esses mesmos itens que nos permitiram encontrar mais itens que nos vão abrir acesso a novos e mais completos objetos que aumentam as probabilidades de sobrevivência. Está tudo interligado e tudo tem uma razão de ser. Quem se der ao trabalho de descobrir este eco-sistema que para aqui foi criado irá começar a ter um pequeno gosto pelo jogo. No entanto, se perderem acaba-se o jogo e temos que recomeçar do zero. Existem momentos em que podemos reiniciar no mesmo mundo mas são raros e devem ser bem aproveitados.

Pode ser considerado como um survival horror independente mas Don't Starve será provavelmente melhor descrito como um jogo de aventura com um bom humor negro e uma forte dose de estranho. O ritmo pode tornar-se frenético e a cada nova morte o jogador recomeça com a certeza que aprendeu algo, seja a criar itens e quais os que deve encontrar primeiro para abrir o leque de criações consequentes, como o que deverá fazer para intercalar a sobrevivência às trevas com a sobrevivência à fome.

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O esquema de controlo também irá precisar de algum tempo, especialmente o papel dos gatilhos e analógico direito. Assim que o cérebro começar a assimilar as suas funções teremos um melhor controlo sobre o jogo. Don't Starve é impiedoso e não será qualquer um que o saberá compreender e precisa de imenso respeito, em troca oferece diversão que deixa o jogador a sentir-se inteligente mas também muito frustrado. É preciso muito tempo para ser dominado mas a vontade de querer melhor desempenho sempre que o jogamos é um bom sinal.

Fica ainda um último reparo em relação aos tempos de carregamento. Apesar de compreender a natureza de mundos criados aleatoriamente de cada vez que jogamos, os tempos de carregamento continua a sem longos e por vezes demasiadamente. Quando entramos numa gruta parecem ser ainda maiores e contrariam um pouco as expectativas que temos de um produto numa consola de nova geração como a PlayStation 4. É um pequeno reparo mas que mesmo assim será notado. Será ainda de referir que o jogo de forma alguma aproveita as capacidades singulares do DualShock 4 (o painel tátil invoca o mapa do mundo apenas).

Tal como provavelmente a grande maioria, senti-me perdido ao entrar neste Don't Starve e se experiências indie como Spellunky já haviam mostrado o que é ser difícil para um videojogo, este trabalho do Klei acrescentou ainda uma boa dose de confuso e conseguiu ser até intimidativo. No entanto, quando aquela pequena curiosidade fica para voltar a tentar e conseguir criar mais itens para sobreviver mais dias, ficamos presos ao jogo e à sua mercê para que este continue a "brincar" com o jogador enquanto este vai substituindo a sua irritação por determinação. Ou será teimosia?

7 / 10

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