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Dr. Kawashima's Brain Training: How Old is Your Brain? - Virtual Console - Análise

Um exercício por dia não sabe o bem que lhe fazia.

A Nintendo Wii U configura-se como a plataforma que mais agrega todas as produções da companhia. Sem excluir os seus jogos exclusivos e títulos multiplataformas, é o crescimento da Virtual Console, uma ludoteca virtual, que está a promover esta configuração especial. Sem deixar de registar a ausência de algumas plataformas clássicas que estiveram presentes na Virtual Console da Wii (Mega Drive, Neo Geo, entre outras), a introdução de jogos da GameBoy Advance e, talvez no futuro, jogos da GameCube, deverá preencher um espaço há algum tempo reclamado pelos fãs. Recentemente, a Nintendo lançou o primeiro jogo Nintendo DS dentro da Virtua Console, em mais uma oferta, desta feita com os títulos marcantes da portátil Nintendo mais vendida.

Com a opção de "downloads" automáticos activa, os titulares de uma Nintendo Wii U ganharam gratuitamente o Dr. Kawashima's Brain Training: How Old is Your Brain. Este famoso jogo da Nintendo, corresponde a uma das primeiras publicações "first party" do catálogo da bem sucedida Nintendo DS, ao ponto de ter contribuído para a projecção da consola, com mais de 5 milhões de unidades vendidas. Lançado em 2006, Brain Training, como também é conhecido no seu título mais abreviado, foi um dos primeiros jogos a destacar a interactividade com o ecrã táctil da consola e com o microfone, através de múltiplos exercícios.

O objectivo nos exercícios é pôr a funcionar a massa cinzenta. O físico Carlos Fiolhais diz que nós estamos no cérebro, somos luminosos.

No meu caso, e palpita-me que no de muitos leitores, esta oferta não podia vir em melhor altura. Lembro-me de ter comprado a Nintendo DS Lite em 2006 com o Animal Crossing e depois o New Super Mario Bros, em Junho, estava a selecção das quinas a espalhar bom futebol no Mundial de 2006, justamente em solo alemão. Mas apesar do fervor em torno deste peculiar jogo de exercício da memória, talvez por não ser uma experiência assente nos moldes tradicionais, acabei por deixar passar. Encontrar este jogo agora no GamePad da Wii U, representa uma oportunidade para finalmente descobrir o mistério de tão grande sucesso e do seu potencial de treino mental.

Brain Training é um daqueles jogos que não conseguimos jogar por muito tempo, mas que jogamos todos os dias. Nem que seja por cinco ou dez minutos. O imediatismo e acessibilidade no relacionamento com o jogador é um dos seus principais elementos, mas é sobretudo o desafio e teste ao nosso cérebro que nos leva a experimentar o jogo de forma muito regular. Não expande as fronteiras do que pode ser praticado através de um livro, mas os exercícios favorecem a ginástica e treino mental, algo que nos leva a assumir sempre um papel activo, com vista a obter melhores resultados.

O jogo apresenta o Dr. Ryuta Kawashima, um japonês neuro-cientista, conhecido por apresentar uma série de estudos sobre a mente e sobre como desenvolver as suas faculdades e aptidões. Em Brain Training é ele quem começa por efectuar um teste à nossa mente, através de três diferentes tipos de exercícios, mas depois disso permanece como orientador e treinador do nosso cérebro através de um programa de exercícios diários que permitem aferir a evolução do cérebro. Brain Training começa por efectuar um teste à nossa mente, apresentando um resultado indicador da sua idade. Considerando que um resultado de 80 anos para um cérebro é sinónimo de um cérebro envelhecido e algo preguiçoso, requer no entanto um treino diário intensivo até que uma boa dose de ginástica e treino mental devolva a idade perfeita de um cérebro em grande funcionamento, quando alcança a frescura dos 20 anos.

O objectivo do jogo é esse, através dos treinos diários, assentes em diferentes objectivos, exercitar a nossa mente e devolver-lhe a frescura necessária. É curioso verificar os primeiros detalhes enunciados por Kawashima sobre a relevância deste treino. Por exemplo, o cérebro de um consumidor de televisão está todo ele em descanso e com poucas zonas iluminadas. Mas se nos dedicarmos ao pensamento, mais zonas do cérebro se acendem, e com exercícios matemáticos e outras operações como memorização, nesse momento uma percentagem maioritária do cérebro se ilumina.

Destinado para pequenos, graúdos e pessoas mais velhas, não são excluídos conselhos elementares como tomar um bom pequeno almoço, deitar cedo (se jogarem tarde o Kawashima faz referencia à necessidade de usar uma tocha para iluminar o espaço de treino), dormir bem, sem deixar de salientar que é de manhã que o nosso cérebro trabalha melhor. Além disso, são fornecidas dicas para manter activo o cérebro, como contar o número de vezes que passamos a escova pelos dentes quando os lavamos.

Realizar 100 cálculos em sucessão, no menor tempo possível, não é assim tão fácil. Os tempos ficam gravados e podem aceder a um gráfico que revela a progressão desde o primeiro dia de treinos.

Em termos de conteúdo, Brain Training não é um jogo com muitas opções e essa é talvez a limitação mais significativa (algo corrigido nas sequelas: More Brain Training), assim como alguma dificuldade em reconhecer as nossas respostas através da caneta "stylus" ou do microfone. Por exemplo, num dos exercícios é-nos pedido que digamos em voz alta a cor das letras que formam uma palavra, palavra essa que por seu turno corresponde a uma das quatro cores disponíveis. No caso da palavra "black" o reconhecimento nem sempre é imediato, o que pode causar perda de preciosos segundos até que a máquina opere a validação. Na colocação de alguns números ou letras, o mesmo sucede, com alguns reconhecimentos a tardarem, mesmo quando desenhamos bem o número ou a letra. Enfim, situações que ocorrem num momento inicial mas que também são minimizadas à medida que conhecemos os constrangimentos e sabemos como dar a volta. Todavia, é claro que o reconhecimento podia estar melhor.

De início, Brain Training começa por apresentar quatro exercícios. Baseados em cálculos como operações de soma, subtracção e multiplicação, podemos realizar séries sucessivas de 20 ou 100 cálculos, sendo essencial resolvê-los no mais curto espaço de tempo. Por cada resposta errada acresce uma penalização de cinco segundos. Mas também poderão treinar o vosso cérebro desenhando o que vos pede Kawashima, como o continente australiano, um koala, uma girafa, etc. No final do exercício, os vossos desenhos são comparados com outros desenhos, permitindo perceber até que ponto apreenderam o essencial do que vos foi pedido. Existem exercícios de memória como memorizar vinte palavras tendo apenas uns breves minutos para decorar e depois outros minutos para responder. Contar o número de sílabas numa frase é outro teste.

Ao fim de algum tempo de jogo, terão desbloqueados todos os exercícios. Não são muitos mas mesmo assim o suficiente para nos manter ocupados e empenhados em melhorar os resultados da actividade cerebral. Por fim, existe ainda uma secção inteiramente dedicada ao Sudoku, podendo começar por resolver imediatamente um dos muitos puzzles disponíveis.

Se por algum motivo não jogaram Brain Training para a Nintendo DS, encontram na Wii U a oportunidade perfeita para experimentar jogo muito peculiar e até aqui exclusivo da consola portátil. Apesar do escasso conteúdo, Brain Training é um jogo peculiar e que nos desafia quase diariamente, mesmo que a dedicação ao jogo seja pequena. Podendo ser jogado por pequenos, graúdos e veteranos, Brain Training releva a importância da ginástica e treino mental, e sobre como podemos escapar a momentos de alguma letargia, realizando uma série de operações matemáticas e memorizações. Não é o jogo mais tradicional, nem se enquadra naqueles géneros mais procurados, mas é seguramente uma produção invulgar e bem conseguida.

7 / 10

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