Dr. Luigi - Análise
Remédio santo.
No final dos anos oitenta e até meados da década seguinte, Tetris foi uma das produções mais relevantes dentro do género dos puzzles. De tal modo que ao trazer o jogo para as suas consolas, a Nintendo deu conseguiu dar um empurrão nas vendas do GameBoy clássico. Para muitos, Tetris foi na verdade o primeiro jogo a ser desfrutado na lendária portátil. Devido ao seu conceito original e pela facilidade com que se faziam desaparecer várias linhas ao mesmo tempo quando se juntava a peça mais comprida, fazendo desaparecer com o seu encaixe quase ¼ do espaço de jogo, era impossível resistir ao conceito do jogo
A influência do jogo foi de tal modo grande que rapidamente outras produtoras tentaram fabricar jogos de puzzles algo similares, assentando sobre uma premissa comum: peças a caírem constantemente da zona superior do ecrã, tendo o jogador que as ordenar no fundo e "acamá-las" de modo a escoar a retirar todas as peças acumuladas. Jogos como Columns beberam o mesmo conceito, o mesmo sucedendo com Dr. Mario, um título concebido por Gunpey Yokoi e produzido por Hirokazu Tanaka, lançado no Japão em 1990 para o GameBoy e para a Famicom.
A mecânica central do jogo centrava-se também na queda de peças sobre um espaço limitado, que mais se assemelha a uma garrafa de grandes dimensões, onde estavam alojados alguns vírus de diferentes cores. Ao combinar as cores dos comprimidos com as cores dos vírus, dando forma a uma linha composta por quatro unidades, estas desapareciam imediatamente, encetando assim um processo de cura ao eliminar os vírus existentes. Graças a este título Mario deixava de ser um mero canalizador disposto a salvar a princesa em apuros. Vestindo uma bata branca e com o estetoscópio ao pescoço Mario prescreveu receitas como quem vende pães quentes. Vinte e três anos depois, é a vez do seu irmão Luigi seguir as mesmas "pegadas", com a vantagem do seu novo consultório oferecer um leque de opções só possíveis a partir do ecrã táctil do GamePad da Wii U. A tempo da comemoração dos 30 anos da personagem Luigi, Dr Luigi posiciona-se como sequela para a Wii U dos originais lançados para o GameBoy e Famicom.
Uma característica determinante sobre o sucesso destes jogos encontra-se na sua facilidade de compreensão e execução. Modelos de jogo simples e fáceis, que sem perderem o norte ao desafio, proporcionam aquela chama irresistível de apelo. Em bom rigor, Dr Luigi faz pontaria e acerta sobre essa intenção. Os três modos de jogo até parecem ilustrar opções e caminhos alternativos seguros, embora o seu lado mais fraco seja uma apresentação muito pouco inovadora e também uma dificuldade em conseguir mais entusiasmo e uma diferenciação realmente positiva entre os novos modos de jogo.
Se alguma vez jogaram o clássico do GameBoy ou da NES, já sabem do que falámos. Se ainda não jogaram Dr. Mario, o objectivo central é o mesmo em Dr. Luigi. Basicamente, só mudam as personagens, não os conceitos. Como referi atrás, o objectivo passa por combinar as cápsulas compostas por duas cores com as cores dos vírus existentes num tubo. Sendo os vírus pequenas unidades, para os eliminarem terão que criar linhas horizontais ou verticais de quatro unidades compostas pela combinação do vírus com os comprimidos. Se respeitarem a mesma cor, essa linha desaparece imediatamente, aliviando a pressão sobre o jogador, que não só se livra dos vírus como adquire mais espaço que lhe permite erradicar os restantes. Quando os eliminar a todos, o jogo termina. Semelhante ao Tetris ou Columns, também em Dr. Luigi o jogador pode deslocar as peças para a esquerda ou direita e rodá-las, de modo a conseguir uma melhor combinação no momento da ligação à base da construção. No fundo, este jogo radica sobre técnicas de emparelhamento, com a dificuldade a ser maior à medida que as peças descem rapidamente e não conseguimos encontrar a cura, ou seja, obter as imprescindíveis linhas de quatro unidades que ao desaparecerem aliviam a febre e a tosse.
Como remédio seguro para a tosse, o modo mais eficaz é o Germ Buster, desde logo porque é dos três modos de jogo, aquele que permite uma interacção intuitiva e directa com o ecrã do GamePad, recorrendo à combinação da "stylus" e do ecrã táctil como ferramentas de interacção. Embora o conceito do jogo seja o mesmo do clássico, com a excepção a ser a queda de duas cápsulas e depois três, apresenta-se como a melhor alternativa em termos interactivos, dando-nos até mais algum tempo de reacção quando fica livre uma metade da cápsula, podendo desta forma arrastá-la até outra superfície mais conveniente. No Germ Buster nem é necessário seguir a acção pelo televisor.
Segurando o GamePad na horizontal ou vertical, qualquer uma destas opções serve para começar a jogar, embora a minha posição preferida para segurar o comando seja na vertical, até porque desta forma se obtém uma definição mais ampla do espaço onde decorre a acção. Aliás, um dos problemas do jogo, fora deste modo, é a manutenção de um quadro que reduz imenso a área de intervenção, sobrando muito espaço para elementos de importância escassa como um Luigi em 3D a segurar as próximas cápsulas a serem arremessadas e uma artwork dos vírus. Percebo que os produtores tenham optado por personalizar esta versão mas a construção do quadro não é de facto a melhor.
Já o modo Operation L, desenvolvido a pensar na personagem central do jogo, é dos três modos o mais arrojado dentro do conceito, porque ao invés de apresentar cápsulas compostas por duas unidades, neste modo as cápsulas formam um L: uma cápsula liga-se à ponta da outra, o que significa um aumento de dificuldade quando chega o momento de encaixar a peça no puzzle. Se uma parte da peça pode ser aproveitada para fazer uma linha (a base do L ou o segmento mais comprido), uma parte restante da peça permanecerá disponível, criando mais um obstáculo, até porque o L nem sempre é todo da mesma cor.
Para os saudosistas do Dr. Mario, Retro Remedi é o modo de jogo que oferece os condimentos da jogabilidade do clássico. Um modo puro e duro que pode ser desfrutado, à semelhança dos restantes, até dois jogadores em modo local (o segundo jogador pode utilizar um Wii remote ou um comando Wii Pro), numa competição que se destina a apurar qual o jogador que mais depressa elimina os germes, estando disponível a opção flash, destinada a aliviar alguma da pressão sobre os jogadores, pois aqui o objectivo passa por atacar apenas os vírus destacados com uma luminosidade especial. Se porventura sentirem que a dificuldade é elevada podem sempre gerir algumas opções, como o nível de dificuldade e a velocidade com que as cápsulas descem. Como alternativa à experiência para dois jogadores em modo local, podemos ainda testar a experiência em rede, competindo contra outros jogadores, dentro de cada um dos modos previstos.
De um modo geral os dois novos modos projectam-se como alternativas do jogo clássico (Retro Remedy), mas exceptuando o Germ Buster, o Operation L não é tão forte como julgávamos criando mais algumas dificuldades que nem sempre são compatíveis com a natureza do desafio. Aliás, os dois novos modos oferecem alguma resiliência na tentativa de se destacarem do clássico. A apresentação e o design também falham um pouco, sendo que a organização visual do jogo não é a melhor para o conceito. Tudo isto resulta numa certa dificuldade em Dr. Luigi se separar do original e se afirmar como uma sólida alternativa a Dr. Mario. Contudo, num ano que ainda é de comemoração para Luigi e que durante 2013 conheceu o lançamento do fabuloso Luigi's Mansion 2 e o conteúdo digital ou caixa verde para New Super Mario Bros. U, este consultório está aberto e recebe todos os pacientes dispostos a porem cobro às gripes e constipações provocadas pela passagem de mais um inverno. Um misto de natureza retro com alguma inovação proporcionada pelo GamePad.