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Dragon Quest VIII: Journey of the Cursed King - Análise

A história do rei trol.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Um dos melhores Dragon Quest numa versão portátil ao nível da original, que ainda hoje se joga tão bem como há dez anos.

À semelhança de outras produções marcadamente nipónicas de grande êxito no país de origem, Dragon Quest nunca alcançou os mesmos resultados no ocidente. Enquanto que no Japão o lançamento de um novo jogo da série chega a ser marcado para o fim de semana justamente para evitar faltas massivas ao trabalho, por cá a recepção sempre foi moderada e menos calorosa, praticamente circunscrita aos acérrimos fãs de jogos de role play nipónicos. Há, apesar disso, um antes e um depois de Dragon Quest VIII, o jogo lançado pela Square Enix no Japão em 2004 para a PlayStation 2 e nos dois anos seguintes, no primeiro para a América do Norte e depois, em 2006, para a Europa.

Na verdade, foi a primeira vez que joguei um Dragon Quest, impulsionado por uma demonstração facultada pela Square Enix a todos os que preenchessem uma folha de dados num espaço online da editora, antecipando o lançamento. Conservo essa demonstração com interesse e sobretudo por duas razões, não só pelo primeiro contacto que me proporcionou com o jogo mas por ser um exemplo da tentativa da editora em fazer crescer a popular série em continentes onde o sumo não estava tão irrigado.

Desde logo, a Square Enix esforçou-se por convencer os ocidentais, apresentando um jogo com vozes em inglês, num trabalho de localização bem conseguido (apesar de preferir nestes jogos, tantas vezes, as vozes em japonês), animações adicionais, um menu revisto e uma banda orquestrada em moldes épicos, algo que caiu bem entre a comunidade. Na comparação com Dragon Quest VII, a nova jornada, conhecida por cá como The Journey of the Cursed King, depressa se tornou num ícone e uma referência, acrescentando de resto aqueles típicos atributos, como a arte de Toriyama e os combates tradicionais. Ainda hoje é um jogo bonito e especialmente apelativo num ecrã como o da 3DS. É verdade que os proprietários japoneses de um "smartphone" contam desde 2014 com uma versão "mobile", mas é a primeira vez que o jogo chega a uma nova consola depois da ronda de lançamentos da versão original.

Rei e princesa transformados num troll e num cavalo.

A 3DS corre perfeitamente esta magnífica aventura e naquele ecrã brilhante, a notável sequência de abertura nunca pareceu tão gloriosa e resplandecente, acompanhada pelo famoso tema, devidamente orquestrado. De resto, DQ VIII impressionou à época pela sua passagem para gráficos 3D, uma mudança que resultou em pleno e ajudou a transformar ainda mais a experiência, num sucesso mundial. Sabe bem voltar a um jogo de base mais tradicional. Enquanto que os jogos de role play em mundo aberto são normalmente mais caros e difíceis de produzir, a estrutura mais mecânica e centrada na exploração de masmorras e périplo pelas cidades e fortalezas que encontramos num percurso mais estreito, não faz a jornada menos gratificante. Pelo contrário, é uma óptima forma de contar uma história, algo que parece bem assente neste oitavo episódio.

Em Journey of the Cursed King, tudo começa com uma maldição que incide sobre o reino Trodain, mergulhando-o nas trevas. O malvado Dhoulmagus usou um ceptro sagrado para transformar o rei Trode e a sua princesa Medea num troll e num cavalo, respectivamente. O castelo acabou igualmente amaldiçoado e o reino descambou numa época das trevas. Caberá ao nosso herói, juntamente com o companheiro Yangus e outros camaradas que irá encontrar ao longo da aventura, repor a ordem natural das coisas. Para isso, terão que viajar entre diferentes territórios, arriscando constantemente as suas vidas e enfrentando com bravura temíveis inimigos, através de um tradicional sistema de combate por turnos, que nesta versão para a 3DS recebeu alguns ajustes como a opção que permite acelerar os combates.

No seguimento dos episódios anteriores, Dragon Quest VIII é um jogo longo e recheado de quests. Das principais, enquadradas no arco narrativo e que nos levarão longe, até ao encontro de Dhoulmagus, passando pelas quests secundárias, muito existe para fazer. A viagem é demorada e os diálogos são uma constante, através de conversas com os npc's que nos fornecem pistas e indicações relevantes sobre como chegar aos territórios, vilas ou cidades que procuramos, ao mesmo tempo que permitem a troca de objectos numa casa de armas ou descanso prolongado numa estalagem. Trata-se de algo muito comum aos jogos de role play, este tipo de exploração pausada e gradual, articulando muito bem as fases em viagem e passagens pelas masmorras até às permanências prolongadas nas cidades.

Combates mais rápidos; uma das novidades da versão 3DS.

As batalhas, na estrutura típica dos turnos, contemplam várias opções. Desde o ataque básico a partir de uma série de armas, passando pelos feitiços mágicos, é possível, naqueles momentos mais complicados, começar por descobrir a fraqueza do adversário. Mas também podemos definir tácticas ou instruir uma personagem a realizar uma acção automática. A opção "speed up" acelera o ritmo e dá por concluída a batalha em poucos instantes. Útil para defrontar inimigos fracos mas para esquecer diante de uma turma de monstros poderosos. Podem ainda assustar os rivais usando a técnica "Psyche Up", embora eles possam fazer o mesmo, o que vos pode levar a querer fugir.

O caldeirão mágico permite o fabrico de novos itens, usando aqueles que tenham em posse. Os resultados são diversos e podem até desenvolver soluções novas se optarem por juntar coisas ao acaso. Uma das novidades desta versão 3DS é que agora todos os monstros estão assinalados e podem ser vistos a vaguear pelo mundo. O desaparecimento dos combates aleatórios é visto com bons olhos, já que assim podem escolher como e quando atacar, mas não se aproximem demasiado ou correm o risco de levar uma mordidela.

A qualquer instante podem tirar fotografias, posando de várias formas e escolhendo o ângulo perfeito. De seguida podem adicionar efeitos e até molduras, gravando a imagem numa espécie de arquivo fotográfico da jornada. É possível partilhar estas imagens por via da funcionalidade Street Pass. Ainda no capítulo das novidades nesta versão 3DS, destaque para as novas sequências animadas, assim como dois novos membros do grupo (Red e Morrie). De um modo geral estes acrescentos apresentam efeitos meramente cosméticos e não rasgam ou modificam sobremaneira a estrutura crucial do jogo, pelo que a sua estrutura se mantém. Em bom rigor, trata-se de uma versão portátil de DQ VIII muito meritória e bonita, sobretudo através do magnífico trabalho artístico que emoldura de forma especialmente convincente o reino de Troidan, assim como as personagens, desenhadas num estilo inconfundível e com indumentárias seculares.

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A aventura principal pode oscilar facilmente entre as 60 e 70 horas. Se quiserem ver tudo acrescentem mais umas 30 horas. Praticamente dez anos depois do lançamento da versão original na Europa, a versão que agora chega à 3DS envelheceu bem. É um especial atractivo poder desfrutar do jogo em formato portátil (a somar às versões iOS e Android lançadas em 2014, em todo o mundo), até porque muitos dos pontos que fizeram dele um clássico se mantêm, como a música, a composição tridimensional e a história. É uma série diferente de Final Fantasy e em parte reside aí muito do seu interesse e charme, captando até o entusiasmo das audiências adultas. Esta versão ombreia com a mesma lançada para a PlayStation 2 e mostra-nos como tanto tempo depois ainda proporciona agradáveis momentos, a partir de um mundo bem organizado, com uma boa narrativa e um sistema de combate muito competente.

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