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Dragon's Dogma - Análise

Promessas para um épico futuro.

Para uma companhia que se prende a intermináveis sequelas e a novas versões de produtos já existentes no mercado, certamente que a Capcom surpreendeu com este seu novíssimo Dragon's Dogma. Uma nova propriedade intelectual que parecia querer aproveitar o embalo e furor criado por Monster Hunter na Wii e na PSP assim como o de Demon's Souls nas consolas caseiras de alta definição. Monstros imponentes, um mundo enorme, variadas possibilidades de personalização e um sistema de combate simples mas profundo para cativar o jogador pareciam ser os condimentos propícios para uma receita de sucesso. A Capcom prometeu redefinir o género e ir mais além nos sistemas a que se destina e se em Abril de 2011 foi perfeitamente credível, atualmente em 2012 temos o jogo final nas mãos e infelizmente constatamos que Dragon's Dogma não é propriamente um arranque vitorioso mas mais uma falsa partida.

Tendo em conta que estamos perante uma companhia que tem Monster Hunter no seu catálogo seria de esperar um fino equilíbrio entre o recorrer às suas consagradas mecânicas de jogo juntamente com as novidades necessárias num novo universo. Dragon´s Dogma tenta assim então oferecer uma alternativa derivada do furor que varre o Japão a cada lançamento e apresenta ainda o seu próprio "twist" à fórmula mas a sensação que o jogador vai ter é que o produto ficou com muitas arestas por limar e consequentemente fica a sugestão que não é o que deveria ser.

DD é então um jogo no qual vamos criar um personagem para percorrer um enorme mundo repleto de pessoas a precisar de ajuda. Pelo meio temos uma aventura de tons épicos que envolve o regresso de um dragão e a possibilidade de a humanidade não resistir a tamanha criatura. Primeiro percorremos o vasto modo de personalização que o jogo tem para oferecer, é mesmo muito detalhado e permite escolher sexo, raça, atributos da face e do corpo assim como voz, numa agradável quantidade de variações para cada parâmetro, depois ficamos prontos para enfrentar um mundo cuja escala se vai erguendo a cada novo passo.

Desde logo DD se vai assumindo como um jogo de duas faces, como se caminhasse num fino fio ou se pesasse numa balança que nem sempre pende a seu favor. Enquanto a enorme liberdade que nos é oferecida neste enorme mundo que se perde de vista é sem dúvida um grande ponto a seu favor e um que o vai ajudar a moldar-se perante o jogador, isto não permite que ostente um visual acima do medíocre. É difícil começar uma análise pelo aspeto visual mas em DD vai ser um dos valores mais fundamentais. Esperávamos melhor desempenho do MT Framework, motor que tanto de bom nos deu em anteriores jogos, mas que aqui parece resumido quase a uma qualidade vulgar para satisfazer as exigências de recriar um mundo vasto e enorme.

Os personagens apresentam um aceitável nível de qualidade visual mas os cenários são na sua grande maioria povoados por texturas fracas e por aliasing que tira qualidade ao que poderiam ser vistas imponentes e inspiradoras. A nenhum momento o jogo permite que o jogador crie uma grande sensação de imersão e se esqueça que está perante um jogo. Por vezes custa a acreditar que estamos perante um jogo desta geração e mesmo sendo padrão nos jogos que partilham tons similares, não deixa de surpreender pela negativa a qualidade visual de DD.

Ter um mundo de tom gigantesco cujos pequenos elementos distorcem a nossa sintonia com o mesmo consegue ter um impacto muito mais do que seria de desejar pela Capcom face ao trabalho aqui conseguido e como tal foi mesmo dos elementos que mais caracterizaram a nossa experiência com DD. Claro que tudo isto pode ser esquecido caso se consigam envolver com as mecânicas de jogo e aqui a balança volta a ser desafiada pois DD quase tudo o que faz aqui é agradável e de boa qualidade mas sem conseguir um pleno total.

A Capcom prometeu estilo, substância e profundidade, algo que com mais ou menos qualidade conseguiu. O sistema de combate de DD é bastante simples e fácil de assimilar: podemos atacar, defender, agarrar adversários, usar ataques de magia, ataques físicos especiais, saltar e coisas do género esperadas em jogos do género. A combinação destas mecânicas simples permitem na mesma que a gameplay vá muito mais além de algo simplista, faz do fácil de executar profundo e cativante.

O sistema de combate em tempo real de DD é fascinante e envolvente, enquadrado com outros do género, mas sempre preocupado com uma vertente cinematográfica cheia de estilo a pender para o dinâmico, a lembrar Monster Hunter. Tendo pela frente pequenas criaturas ou até mesmo enormes monstros, os bosses, DD oferece de tudo ao jogador e aqui este tem que se lembrar das regras tradicionais do tipo de natureza do adversário. A combinação de golpes físicas ou o uso de magias específicas fazem com que o martelar de botões não se sinta tão óbvio e mecânicas como agarrar conferem pequenas nuances agradáveis na gameplay.

No entanto, seria de esperar que para elevar a experiência a um patamar de excelência a Capcom nos desse modos cooperativos online para partilharmos a experiência com outros jogadores. Tal não acontece em DD e novamente temos um jogo a fugir ao percurso em direção ao excelente e a enveredar por outro tipo de caminhos que lhe permitem apenas algo menor. Para compensar esta ausência a Capcom introduziu uma interessante funcionalidade, conhecida como Pawn System, e apesar de ir além do curioso não deixa de fazer com que o jogador sinta que poderia ter sido feito mais.

Apesar de não o termos mencionado até agora, o Pawn System é um dos elementos mais importantes de Dragon's Dogma porque toda a experiência foi criada em seu redor. O jogador vai ter a capacidade de invocar personagens sem vontade própria que seguem apenas os objectivos indicados pelo mestre e que vão formar a restante equipa. Existem três tipos diferentes de Pawns que vamos encontrar: os que surgem com o decorrer da história, aquele criado por nós no momento indicado, e aqueles que foram criados por outros jogadores e partilhados online para serem usados por quem quiser.

É esta partilha entre a comunidade que parece ir buscar semblantes ao esforço colectivo de entre ajuda visto em jogos da série Demon's/Dark Souls pois coloca a comunidade a ajudar-se, ajuda os outros para te ajudares. O sistema de combate ganha profundidade quando é pedido ao jogador que crie uma equipa de personagens com habilidades variadas para estar preparada para uma quantidade maior de possibilidades. Estes Pawns agem mais do que suporte, são um complemento nosso que podem ditar a facilidade com que percorremos este mundo.

"Tinha tudo para ser uma experiência de topo no entanto, tal como está, DD é apenas um curioso arranque."

Dragon's Dogma - Os primeiros 15 minutos

É uma mecânica interessante e curiosa mas que infelizmente perde muito do seu impacto inicial pois pegarmos emprestado o Pawn de um amigo da nossa lista ou ver que o nosso está a ser muito solicitado não substituiu o valor que teria percorrer este mundo em modo cooperativo direto, com outros jogadores ao nosso lado. É algo que se sente como uma oportunidade falhada no jogo.

Onde a Capcom parece ter sabido interpretar bem as regras básicas foi na curva de aprendizagem das diversas mecânicas de jogo. Sentimos que somos devidamente introduzidos ao mundo e à gameplay e permite ainda que o jogador escolha as ajudas visuais presentes no ecrã e até o acesso ao mapa é intuitivo. Pena que a grande maioria dos menus já não o seja e até ações como trocar/melhorar armas/itens seja não penoso mas bem menos intuitivo e fluído do que deveria.

Dragon's Dogma tinha tudo para ser uma experiência de topo, o brilhante início de uma nova série com grandes trunfos para dar. No entanto, tal como está, DD é apenas um curioso arranque e o moderado sucesso que está a conquistar dá-nos alento para acreditar que a Capcom vai saber interpretar os erros e saber corrigir para oferecer um segundo ainda melhor ao invés de colocar a série na gaveta.

Dragon's Dogma é um jogo que poderia e deveria ter sido muito mais do que aquilo que é, um interessante e agradável jogo. Diverte em quantidade moderada mas poderia fazer tal de forma muito melhor e sem comprometer qualquer uma das suas bases estruturais. Mais do que a fraca componente visual, caso tivessem sido incluídas algumas funcionalidades como cooperativo direto e DD seria muito melhor do que é. O Pawn System é interessante mas não é o elemento arrebatador que a Capcom quer dar a entender.

7 / 10

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