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Driver: San Francisco

Sonho ou realidade?

No entanto e apesar dessa menor consistência narrativa, o certo é que nos momentos finais - quando começa a última perseguição a Jericho em sonho e antes de acordar para o desfecho final -, já não se dá a mesma importância às sucessivas exclamações de Tanner sobre a situação estranha. Isso já o jogador se fartou de perguntar a si mesmo. Certo é que a mecânica de "shifting" deixa de causar aquele desconforto inicial e passa a representar uma ferramenta tão indispensável quanto bem sucedida para a realização das missões. E se no princípio isto é motivo para encarar o jogo com um pé atrás, ao fim de seis a sete horas de argumento estarão familiarizados com o sistema que nada é estranho como dantes.

Mesmo se algumas missões envolvem situações anormais como perseguir o rasto luminoso de uma ambulância com o tráfego de São Francisco suspenso, apenas para garantir a sobrevivência de Tanner, ou então desviarem-se de automóveis arremessados por Jericho que a dado ponto consegue penetrar no sonho tentando destruir os propósitos do nosso polícia, o desafio continua lá. Devo dizer que uma das melhores missões é aquela que vos põe a controlar o carro de Tanner a partir de um veículo que o persegue. Ou seja, por um lado estão a perseguir Tanner, por outro lado devem fazer o melhor para que o carro escape ao trânsito. Este confronto entre os dois protagonistas terá como epílogo o momento em que o próprio Tanner ganhará a habilidade de escolher outros carros e atirá-los contra o veículo conduzido por Jericho. O gozo disto é que estamos perante uma "boss fight" em pleno Golden Gate, arremessando carros um ao outro, até que um dos veículos se transforme sem sucata (cada carro começa com uma barra de resistência que vai perdendo valor à medida que embate ou sofre danos).

Os clássicos compõem o desfile.

Contudo, a variedade das missões, ainda por muito estranhas que sejam, constituem um dos principais atrativos. Terão assim que desarmadilhar veículos longos espalhados pela cidade, proteger determinado veículo dos embates dos adversários, realizar perseguições, vencer corridas, alcançar checkpoints antes dos adversários. Quase sempre há um tempo limite para cada operação e a mecânica de "shift" é usada e abusada. Um dos maiores divertimentos nestas missões passa por fazer "takedown" aos adversários assinalados no mapa. Para tal deverão efetuar um zoom através do analógico direito (que compreende quatro graus de distância, albergando toda a cidade) que abre um mapa da cidade e identificar os perseguidos. Depois o que podem fazer para os despachar mais depressa e em alternativa aos abalroamentos é escolher um veículo que marche no sentido oposto, aceder ao condutor dele e conduzi-lo para um embate frontal glorioso contra os prevaricadores. Embora isto seja por vezes demasiado fácil de conseguir, não deixa de ser muito divertido.

As missões do modo história são sempre acompanhadas por cenas animadas, pequenos trechos que normalmente mostram o começo e conclusão da missão. Cada vez que retomam o jogo há sempre um sumario dos acontecimentos, à moda de Lost com o típico "previously in Driver San Francisco". A transição entre "gameplay" e cenas animadas faz-se bem e aqui destaca-se a boa caracterização dos protagonistas. Como aspeto cinematográfico está bem conseguido, com um grafismo muito constante, colorido e acima da média. Diria, porém que ao chegar à derradeira missão do modo história, esta soube a pouco. Para uma batalha final entre Tanner e Jericho podiam ter criado mais alguma animação. Todavia, o desfecho algo previsível, assim como a narrativa demasiado dada a altos e baixos, estão longe de pôr em causa a dimensão deste jogo.

Na verdade, depois de uma campanha que se esgota entre seis a sete horas, abriram já todos os segmentos de São Francisco e uma miríade de desafios estende-se. Para os selecionar basta fazer "shift" e escolher. Assim, poderão escolher desde Stunts, a Dare Stunts, corridas, perseguições, Takedowns e outras provas mais específicas como abalroar abrigos de espera do autocarro, abalroar objectos móveis no mais curto espaço de tempo, fazer saltos longos, drifts. A quantidade de provas é gigantesca. A possibilidade de aceder à garagem é indispensável para obterem novos veículos e equiparem o carro com um turbo mais desenvolvido, melhor capacidade para empurrar adversários e resistir por mais tempo aos embates. Estes "upgrades" podem ser obtidos pela troca de pontos que recebem por cada missão concluída com sucesso.

Como recompensa normalmente garante-se o acesso a novos carros através da garagem. O licenciamento das viaturas aqui presentes é algo de muito positivo. Entre carros musculados norte-americanos até marcas europeias como Audi, Fiat, Maserati, McLaren e o preparador RUF - são apenas algumas das marcas -, destacam-se também os clássicos como o Lamborghini Countach, Ford RS200 e até o carro do regresso ao futuro, que acima das 80 milhas faz furor.

Mais um final de tarde em São Francisco.

Está bem implementada a perspetiva de jogo exterior, mas é igualmente fascinante que tenham incluído uma visão, interior, a bordo do carro. A caracterização dos carros é fidedigna, ainda que superficial, porém, é uma das melhores no "feeling" de condução arcade, com contra-bercagens e movimentos das mãos (constantes 360º) que fazem corar de inveja simuladores como Forza ou Gran Turismo, onde mexer o volante é quase uma miragem.

Os embates provocam bastante destruição e de cada vez que colecionam embates o carro vai ficando mais amolgado e desfeito. Não se torna num assomo de sucata quando chega ao "takedown", ainda assim apresenta já um nível bastante positivo na concretização dos danos. Como já dissemos atrás, para lá do modo história terão uma série de "challenges" que ficarão desbloqueados depois de obterem placas de cinema espalhadas pela cidade. Isso dá acesso a um conjunto de provas que lembram a proposição inicial do jogo. Sem poderes especiais para utilizar no carro, está somente em causa a condução do veículo e a luta contra o relógio na maioria das vezes, para escapar à policia ou passar debaixo de pontos de controlo. O mini-mapa (GPS) sobre a cidade que pode ser ampliado é de particular utilidade e serve de orientação mínima para o próximo ponto de acesso.

Com Driver San Francisco, a Reflections Interactive mostra que refletiu o suficiente para fazer um jogo capaz de corresponder ao forte sentimento de imediata conquista deixado pelo original. Não sendo um jogo superlativo perante a concorrência, apresenta uma imensa liberdade e uma quantidade de desafios que garantem uma boa longevidade. A opção de efetuar "shift" e transitar entre veículos representa algo mais do que um "gimmick" e é uma boa forma de percorrer missões disponíveis sem andar por menus. Haverá provas mais divertidas do que outras, mas graças ao notável "handling" dos veículos, a satisfação pelo ritmo e perseguição a grande velocidade está garantida. São Francisco é uma cidade colossal e a frequência de um trânsito citadino de uma grande urbe porá à prova o talento dos que aceitarem viajar até à costa oeste dos EUA.

8 / 10

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