Dust: An Elysian Tail - Análise
Em busca da memória perdida.
Se o ritmo inicial desperta uma actuação ofensiva, não levará muito tempo até desenvolvermos tarefas defensivas, especialmente com os "parry", uma técnica que atordoa os inimigos mais fortes (quando atacamos no momento em que o inimigo desfere o golpe). Se jogaram Street Fighter III, Third Strike não fiquem preocupados. Aqui a janela para efectivar o golpe não é tão curta, o que alivia a tarefa, mas nem por isso podem tirar a atenção dos movimentos do adversário.
Longe de ser um jogo exigente, complexo de dominar ou dotado de uma estrutura avançada de combinações, o equilíbrio diante de missões que envolvem o confronto com inimigos de outra compleição atinge-se através do sistema de evolução da personagem. Aumentando o seu poder com pontos de experiência, a subida de nível é pontuada com gemas que podem ser distribuídas por segmentos como ataque, defesa e poderes de Fidget. A confirmação da "gem" num desses campos deixa a personagem mais apta para a respectiva finalidade. Mas a lógica é distribuir os prémios pelo todo.
Os inimigos, quando derrotados, deixam imprescindível "loot" para recolha imediata. Sacos de tesouro e outras preciosidades saltam para o nosso baú de preciosidades. Interessante aqui é talvez a combinação que pode ser dada a partir de um receituário para conseguir objectos mais valiosos que garantem mais propriedades de ataque ou defesa. Para descobrir muitos desses objectos será forçoso recorrer a todos os caminhos secretos e vasculhar bem o território.
Se assim conseguimos descobrir quão vasto é o mapa a percorrer, depressa se apodera uma sensação de aborrecimento. Voltar atrás implica que os inimigos façam "respawn" e tenhamos de os enfrentar novamente. Pouco se ganha nisto, a não ser o reconhecimento do jogo completado a 100% e mais algumas preciosidades. O gameplay raramente muda de agulha e nem as aberturas da arca do tesouro, através de uma sucessiva pressão de botões dentro de um temo limite, causam uma sensação de desafio. Os combates com os bosses em fim de nível põem à prova os golpes aprendidos ao longo do capítulo. Nada de novo a não ser uma reposição do tema David vs Golias, sem que as personagens sejam dignas das referências.
E muito desse resultado deve-se ao fraco argumento narrativo e sobreposição dos diálogos. Há uma constante interrupção da aventura provocada por conversas forçadas, ligeiras e bocejantes. A maior parte das vezes dei comigo a fazer "skip" e a seguir apenas o sumário da "main quest" no ecrã de opções para me manter atento à evolução da campanha.
Não sendo este o atractivo dominante do jogo, certo é que os amantes da exploração terão nas múltiplas "sidequests" motivos para se segurarem à obra por mais algum tempo. Muitos habitantes das aldeias ou vilas pedem apoios e pequenos favores que uma vez cumpridos trazem proveitos significativos à nossa demanda. É a vertente de socialização a ganhar mais algum relevo e, claro, o contador do vosso tempo de jogo ganha uma mão cheia de horas quando estão dispostos a assegurar a realização de todos os pedidos.
Dust: An Elysian Tail é um jogo satisfatório, mas não contem mais do que uma série de condimentos reciclados e percorridos vezes sem conta. O design, apesar de persuasivo graças ao aspecto cartoon e de desenho à mão fica longe de proporcionar uma atmosfera visual autêntica, porque raramente preenche as expectativas e não tem aqueles efeitos surpresa como os que descobrimos em Muramasa, por exemplo. A música é outro ponto que desaponta. Redundante, monótona e circular, raramente se intromete nas cenas de perigo ou exploração. É pena que se tenha perdido uma oportunidade para criar algo memorável e capaz de ombrear com o melhor que o género de acção e aventura em 2D conheceu recentemente.