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É justo exigirmos perfeição técnica de uns jogos, mas não de outros?

Um tema controverso.

Tenho andando a matutar neste assunto nas últimas semanas, despoletado por discussões nas redes sociais sobre o tratamento desigual dos videojogos nas análises, mediante a marca associada.

Em grande parte, os participantes eram apenas fanboys a defender a sua marca favorita com argumentos que não seguem as regras da lógica, mas acho que no fundo, acertaram num ponto válido e que vale a pena discutir. Até porque é um tema discutido privadamente entre alguns jornalistas, fora do olhar público e de consequências associadas.

Eu próprio já discuti o tema com colegas e acho que está mais do que na altura de nos debruçarmos seriamente sobre a questão para que a indústria dos videojogos e o respetivo jornalismo seja levado com mais seriedade.

30 FPS são inaceitáveis! Ou será que não?

Mas vamos ao assunto! As discussões de que falo foram provocadas pela negativa receção da crítica a Redfall, contrastando com a ovação que aconteceu pouco depois perante Tears of the Kingdom.

Antes de prosseguir, vamos esclarecer uma coisa: Redfall é um jogo mau no seu estado atual e eu próprio dei-lhe um selo de evitar. Tears of the Kingdom é brilhante em vários aspetos, do que joguei até agora.

No entanto, as discussões nas redes sociais levantaram um ponto interessante: por que razão Redfall foi criticado por estar limitado a 30 FPS na Xbox Series, se Tears of the Kingdom aponta para o mesmo nível de desempenho e não foi criticado por isso?

Na maioria das vezes opto por jogar em modo portátil, porque a qualidade de imagem é pior no modo televisão. Todas as debilidades ficam mais expostas.

Eu sei a resposta que estão a pensar. A Xbox Series é mais do que capaz de chegar aos 60 FPS em Redfall, é um caso de má optimização e de lançamento prematuro. Por outro lado, Tears of the Kingdom leva a Nintendo Switch ao limite, apontando para os 30 FPS (mas nem sempre consegue manter a estabilidade).

Embora esta diferença de poder entre consolas seja compreensível e até expectável, uma análise tem que ser objetiva sempre que possível. Não seria Tears of the Kingdom uma melhor experiência com 60 FPS, mais nitidez e melhor qualidade de imagem no geral? Quem responder que não está a enganar-se a si próprio.

Nesta imagem dá para ver o efeito serrilhado nas arestas dos cubos que formam o piso.

Nesta discussão, é importante não confundir direção estética com qualidade gráfica. A direção estética de Tears of the Kingdom é irrepreensível e, em parte, até ajuda a disfarçar as limitações gráficas e técnicas. Mas a realidade é que nestes quesitos, Tears of the Kingdom fica muito atrás de outros jogos desenhados para a PS5 e Xbox Series.

Nessas consolas, o desempenho é mais escrutinado do que nunca. A qualidade gráfica também. Exige-se tudo e mais alguma coisa. Poças de água geram debates e memes. Depois há casos em que os critérios parecem ser diferentes. Podemos entender as limitações de uma consola como a Nintendo Switch, mas isso não implica compactuar ou até desculpar a parte técnica dos seus jogos.

É uma situação que se tem vindo a repetir. Talvez os casos mais graves sejam os dos jogos Pokémon, particularmente o de Scarlet e Violet, em que houve meios a atribuir notas máximas ou perto disso a um jogo com graves problemas técnicos. Defendo que há sempre subjetividade nas análises e que é impossível eliminá-la completamente, mas há coisas que só um cego não vê.

Mas antes jogavas a 30 FPS e não reclamavas!

É verdade, mas as coisas evoluem e as exigências também. Isto é um exemplo drástico, mas acho que serve para ilustrar o meu ponto: as expectativas para um automóvel hoje em dia não são as mesmas do que em 1927, quando surgiu o model T da Ford. Já joguei muitos títulos a 30 FPS, incluindo um dos meus favoritos: Destiny.

Mas a realidade é esta: os 30 FPS não eram ideais para a experiência (embora ainda fossem o padrão na PS4), e assim que surgiu a versão PC, troquei de plataforma e não olhei para trás. Hoje é impensável jogar um FPS com menos do que 60 FPS.

Ver no Youtube

Por isso é que também opto sempre por jogar Nintendo Switch no modo portátil. No modo televisão, a qualidade de imagem leva um abalo tão grande, e as imperfeições saltam tanto à vista, que o meu prazer da experiência é reduzido. É justo criticar e apontar isto, por melhor que o resto do jogo seja.

Acho que nos videojogos a maior parte das discussões assumem uma tendência preto no branco, sem espaço para cinzento. Pode-se perfeitamente ser fã de alguma coisa e ainda assim apontar as falhas quando elas existem. Isso vai contribuir positivamente para a evolução da propriedade.

Não é justo para os outros jogos e produtores

Se até nos smartphones os 60 FPS já se tornaram padrão e o expectável (até já há telemóveis com ecrãs a suportar 120 ou até 144 FPS) para os videojogos, por que é que existe uma tendência da indústria para reduzir os padrões em certos casos? Será que isso é justo para os outros jogos e produtores? Creio que não.

Como havia dito noutro artigo, os videojogos combinam "múltiplas artes para criar algo interativo", os gráficos e desempenho fazem parte dessa equação.

Ultimamente, a escolha de hardware cabe às fabricantes de consolas. Se esse hardware já não consegue acompanhar os padrões e resulta em jogos mais pobres gráfica e tecnicamente, as análises devem mencionar isso e penalizar a pontuação final (se existir) mediante a gravidade.

Se é assim que funciona para uns jogos, é assim que tem que funcionar para todos.

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