Endless Ocean Luminous - Review - As surpresas de um mundo conhecido
Tesouros e espécies para descobrir.
Foi em 2010 que tive a oportunidade de jogar e analisar para o Eurogamer Portugal, o jogo Endless Ocean 2: Adventures of the Deep, para a Nintendo Wii (podem ler por aqui a análise, caso estejam interessados em saber um pouco mais). Sequela de Endless Ocean, lançado anos antes igualmente para a Wii, ambos os jogos se demarcam pela experiência de mergulho e do que é ir ao encontro da vida no fundo do mar enquanto mergulhador. A Arika, estúdio japonês responsável pelo desenvolvimento do jogo, desenvolveu uma aventura - chamemos-lhe assim - em torno dessa personagem que é quem fotografa as criaturas míticas, raras e mais comuns que habitam os oceanos.
Embora prossiga uma toada realista, não atinge a dimensão de um simulador de mergulho, longe disso, antes entrega uma experiência fortemente contemplativa e inserida nesse desiderato de preservação dos oceanos, ilustrando com minúcia e detalhes primorosos o que pode ser observado em zonas próximas da superfície, como corais e ruínas, ou então à profundidade. Não há intuitos de captura das espécies, apenas a formação de uma base de dados onde as criaturas são reveladas e colocadas numa espécie de enciclopédia.
Em grande medida, Endless Ocean Luminous prossegue com a exploração aberta pelos jogos que o antecederam. Pauta-se por essa sensação de pesquisa e reconhecimento, sem grandes objectivos ou complexidade no seu sistema de funcionamento. Qualquer pessoa pode jogar facilmente. A juntar a esta simplicidade de mecânicas interessa constatar que a produtora desenvolveu a versão ficcional do mundo marítimo, designando-o como o “Veiled Sea”. Entre regressos de muitas espécies marinhas que habitam águas salgadas, há também novas espécies, perfazendo mais de 500 a descobrir. Existe ao mesmo tempo uma dimensão mitológica, marcada por alguns artefactos e preciosidades alojadas no fundo do mar.
Uma exploração livre e sem grandes amarras
Endless Ocean Luminous é formado por três grandes blocos: um segmento narrativo, composto por vários capítulos e no qual o jogador assume o papel de mergulhador ao serviço de uma organização de pesquisa e preservação dos oceanos. Segue-se uma opção para os mergulhos individuais e exploração por conta própria e, por último, um bloco relativo ao multiplayer online, no qual até um máximo de 30 jogadores podem participar, por um período de tempo, conjuntamente na exploração do oceano.
Não é obrigatório começar a jogar pela campanha, embora seja conveniente fazê-lo. Desde logo, os primeiros capítulos constituem o segmento de aprendizagem, no qual são explicados todos os processos relativos à forma como é possível fazer um “scan” às criaturas encontradas, fotografá-las e interagir com o mapa e com outros jogadores, usando uma série de tags. Pelo meio vão encontrar um conjunto de opções relativas à personalização das roupas de mergulho, entre outros.
No entanto, a progressão da narrativa é por vezes interrompida, permanecendo em suspenso até que o jogador catalogue, por exemplo, mais de 200 espécies. É nesse momento que interessa recorrer aos mergulhos a solo ou entrar na experiência cooperativa online, duas opções que facilitam a tarefa mas deixam em suspenso a continuação dos capítulos. Teria sido mais acertado, parece-nos, não impôr estes objectivos e permitir a progressão na campanha, mas convenhamos que o grau de dificuldade desta experiência não é muito acentuado.
Mergulhos partilhados
Embora possam encontrar criaturas perigosas, com destaque para os tubarões e outras espécies de grandes dimensões, não são mordidos nem atacados. É como se o explorador não existisse, ou fosse um objecto inerte que não interessa às criaturas. Esta ausência de perigo reduz a sensação de desafio, uma opção que aponta o jogo na direcção da descoberta e da contemplação. Isto não significa ausência de surpresas. O fundo dos mares está recheado de óptimos pontos de interesse. Ruínas, embarcações afundadas, tesouros corais e episódios bem mais próximos da ficção científica (sobretudo no segmento narrativo), tornam a exploração algo relevante do ponto de vista da descoberta. É mais o que se encontra e pode contemplar do que aquilo com que se interage.
A opção multiplayer, disponível para sessões de mergulho partilhado até 30 jogadores, resulta num escape da progressão solitária. Uma vez que os servidores só ontem foram abertos à comunidade por força do lançamento do jogo, quisemos testar e usufuir desta componente, razão pela qual a nossa análise chega alguns dias depois da maioria das análises publicadas. Quisemos tê-la o mais completa possível.
A respeito dos shared dives, é pena que a produtora não tenha criado salas públicas, permitindo o acesso livre a quem pretenda juntar-se a um grupo pronto para explorar o oceano. Assim, é possível criar uma sala e enviar a identificação da mesma a outros jogadores para que se possam juntar à exploração. Do mesmo modo, com essa identificação o jogador pode juntar-se a um grupo em formação. É um processo que garante que as pessoas presentes no mergulho conjunto são da nossa confiança, mas acaba por limitar de forma significativa.
Em todo o caso, com mais ou menos jogadores, a exploração obedece aos mesmos princípios da experiência individual. Durante uma hora, que é a duração de cada sessão conjunta, os jogadores partilham partilha de criaturas, assinalam tesouros e tornam a tarefa de exploração menos solitária e mais comunitária, num processo de maior interacção. Espaços que a solo poderiam não ser detectados são encontrados e novas espécies registadas. É uma óptima forma de subir depressa no ranking da exploração e incrementar as espécies descobertas. Além disso, estão previstos festivais de mergulho, eventos nos quais será possível realizar novas descobertas e encontrar criaturas específicas.
Num mergulho solitário ou em exploração conjunta, Endless Ocean Luminous renova os propósitos da exploração marítima. É uma viagem ao fundo dos oceanos que tanto pode inebriar e seduzir os amantes dos corais e das espécies marítimas, como pode deixá-los algo desapontados na formação de um desafio nem sempre consistente. Grande parte do interesse nesta exploração repousa numa sensação de descoberta, nas surpresas do que é possível encontrar e na catalogação das centenas de criaturas que habitam as águas salgadas. O ambiente e sensação de isolamento no fundo do mar são realmente convincentes, mas ao fim de uma mão cheia de horas continuamos a fazer o mesmo desde o princípio do jogo, catalogar uma criatura e passar à seguinte.
Prós: | Contras: |
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