Entrevista: Nerd Monkeys fala sobre a produção de jogos em Portugal, os efeitos de pandemia, e do futuro
Conheçam Mafalda Duarte, a nova líder do estúdio.
A Nerd Monkeys tem sido um dos nomes constantes na indústria portuguesa dos videojogos ao longo dos anos. Fundado em 2013 por Diogo Vasconcelos e Filipe Duarte Pina, apresenta-se como um estúdio com foco na produção de videojogos originais e inovadores para multi-plataformas. O jogo mais sonante do estúdio até hoje continua a ser Inspector Zé e Robot Palhaço, um point and click altamente humorista e uma excelente representação da cultura portuguesa, mas isto é passado e nós queremos saber acerca do futuro.
A propósito do oitavo aniversário do estúdio, que marcou mudanças na estrutura da equipa, decidimos que era apropriado uma entrevista com a Nerd Monkeys. Não há ninguém melhor do que a Mafalda Duarte para responder às nossas questões. A Mafalda passou recentemente da posição de produtora para directora do estúdio com a saída de Diogo Vasconcelos. Nesta entrevista procurarmos saber não apenas dos projectos em andamento na Nerd Monkeys mas também da sua opinião sobre vários assuntos da indústria dos videojogos, desde práticas como o crunch até à investida de novas lojas como a Epic Games Store.
Jorge Loureiro (EG.PT): Quantos "macacos" trabalham no estúdio neste momento?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Os macacos são criaturas bastante curiosas e como tal não os podíamos confinar a um estúdio. Gostamos de pensar que neste momento a Nerd Monkeys dispõem de vários estúdios espalhados por Portugal e pelo resto do mundo. Até que a pandemia passe, este será o cenário dos 34 "macacos".
Jorge Loureiro (EG.PT): Recentemente revelaram que Out of Line está quase pronto e será lançado em 2021. É o único projeto do estúdio ou há mais?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Na Nerd Monkeys World Wide Studios há mais projetos, alguns dos quais podemos certamente partilhar, como é o caso do jogo: Monkey Split. Este jogo nasceu de uma experiência que queríamos fazer ao colocar o desenvolvimento do jogo ao alcance da comunidade. Com isto o desenvolvimento do Monkey Split, tem o contributo activo da nossa comunidade do Discord. Atualmente Monkey Split está em Early Access e vamos continuar a desenvolver o jogo nos próximos meses. Juntem-se a nós nesta macacada!
Jorge Loureiro (EG.PT): Quão diferente está Out of Line em relação à versão de 2018 que venceu os prémios PlayStation?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Podemos dizer que é um novo jogo. Quando chegou às mãos da Nerd Monkeys começamos o processo de o refazer com o nosso pipeline interno. A personagem principal foi redesenhada, a narrativa do jogo sofreu algumas modificações e a visão do que seria o jogo completo, com início meio e fim, só foi encontrada mais tarde num esforço conjunto, com a equipa de produção completa. Aguardamos com muito entusiasmo as reações do público, quando poderem finalmente ver o Out of Line no seu estado final.
Jorge Loureiro (EG.PT): Quais são as dificuldades de desenvolver um videojogo em plena pandemia? Verificaram quedas de produtividade no estúdio?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Os primeiros meses de pandemia foram bastante atribulados e tudo parece ter coincidido com essa altura. Foi um momento bastante importante para o Out of Line com a produção a decorrer e todo um novo ambiente para a equipa se adaptar. Felizmente todos os envolvidos no projecto mantiveram o foco no que realmente interessava e foi uma questão de semanas até que a equipa superasse os níveis de produção pré-pandemia. Não podia estar mais orgulhosa da nossa equipa.
Jorge Loureiro (EG.PT): Como vês o panorama de desenvolvimento de videojogos a nível nacional? Consideras que houve uma evolução em relação a anos anteriores ou a pandemia veio abrandar as coisas?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Felizmente o panorama nacional é bastante desenrascado e houve um forte espírito de adaptação transversal a toda a indústria. Não demorou um mês para ver os primeiros eventos digitais dedicados e isso se tornar uma nova realidade dos eventos de pitching e networking. Durante este tempo vi vários projetos a serem desenvolvidos e lançados com o mesmo fulgor pré-pandémico.
Jorge Loureiro (EG.PT): Enquanto produtores, qual é a vossa consola favorita para trabalhar? Existe alguma que seja mais fácil ou acessível do que as outras?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Escolher favoritos é-me difícil, cada consola tem as suas características e permite desenvolver projectos diferentes. Diria que é uma questão relacionada com o tipo de projecto que estou a desenvolver e não a minha favorita. Ainda assim, internamente temos algum carinho pela Nintendo Switch por ser uma plataforma bastante "Indie friendly".
Jorge Loureiro (EG.PT): Como se sentem em relação à expansão da Epic Games Store? Até agora vocês têm lançado os vossos jogos no Steam.
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Mas lançaram uma expansão e não me disseram nada? Eu ainda nem acabei o original. Confesso que é uma plataforma de interesse e que já lhe pisquei o olho várias vezes, vamos ver se estas técnicas de sedução produzem efeitos brevemente.
Jorge Loureiro (EG.PT): Consideram que serviços como o Apple Arcade, Xbox Game Pass, PlayStation Plus e PlayStation Now podem ser benéficos para produtores indie?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Considero que são plataformas de interesse, mas enquanto estúdio não temos experiencia com nenhuma. Vejo como uma particular mais-valia em projetos multi-jogador, para criar uma boa base de jogadores desde o dia um, oferecendo ao público um acesso "gratuito" a jogos que de outra forma estariam apenas no mercado premium.
Jorge Loureiro (EG.PT): Recentemente, estúdios como a Naughty Dog e CD Projekt foram criticados pela associação ao crunching. É verdade que o crunch é inevitável no desenvolvimento de videojogos ou acreditas que pode ser evitado?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Não sou grande fã de chocolates como o Crunch. Normalmente só o como quando não tenho outra opção e estou com fome. Fora de brincadeiras, é algo que não me parece que qualquer estúdio saudável veja como uma opção no dia a dia. O planeamento é extremamente importante para evitar estes casos, mas fatores inesperados podem acabar por trocar as voltas durante o desenvolvimento.
Jorge Loureiro (EG.PT): Há esperança para um novo Inspector Zé e Robot Palhaço?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): A Esperança é a última a morrer. Parece-me que temos caso e sabemos quem será a próxima vítima.
Jorge Loureiro (EG.PT): Aquando do 8º aniversário da Nerd Monkeys, anunciaram grandes mudanças na vossa estrutura. O que muda com o teu novo cargo?
Mafalda Duarte (Managing Director na Nerd Monkeys): Agora toda a gente quer falar comigo, normalmente começando com a frase "tinha isto para falar com o Diogo, mas agora é contigo...". Esta foi uma decisão construída ao longo do último ano, mas ainda assim é surreal ter chegado o dia de começar esta transição e ganhar esta enorme dose de responsabilidade.
Os sapatos que o Diogo me deixou são de facto grandes e até bastante gastos tendo em conta a quantidade de eventos, negócios e projetos que percorreram. Estou empenhada em entregar o meu melhor e vir a colocar os meus próprios sapatos, deixar um contributo positivo para a Nerd Monkeys e para o panorama dos videojogos. Acredito que comecei esse caminho com o pé direito, com muito apoio de toda a equipa.
O que mais vai mudar pela Nerd Monkeys é mesmo o facto de, comigo a tomar as decisões sobre o estúdio e os projetos do lado de produção, o Diogo Vasconcelos vai poder focar-se no ramo editorial de videojogos. O nosso primeiro projeto foi o Traffix para a Nintendo Switch e muitos mais jogos seguirão, novidades muito, muito em breve.