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F1 2016 - Análise

No topo da grelha.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
A Codemasters reforça F1 2016 especialmente no modo carreira, através de uma série de desafios que melhoram as habilidades do jogador.

A britânica Codemasters, detentora da licença oficial da Fórmula 1, está cada vez mais confortável na produção de jogos de automóveis. Sejam experiências a tocar a simulação ou mais abertas e voltadas para o grande público, como sucede com o jogo oficial da F1, que este ano prossegue com a versão 2016, todas conseguem proporcionar uma experiência intensa. Há pouco tempo lançou Dirt: Rally nas consolas, um jogo simulação de ralis, proveniente do PC, que chegou finalmente ao sistema doméstico PlayStation 4, no qual procura conquistar novos adeptos. O reforço do estúdio através do pessoal oriundo da Evolution Studios, que a Sony Computer Entertainment fechou no começo do ano, vai incrementar a paixão pela produção de experiências automobilísticas. Com tantos programadores, designers, artistas experientes e de créditos firmados, os próximos anos poderão ser de ouro para a editora que se notabilizou em meados da década de 90 com jogos como Toca Touring Cars e Colin Mc Rae Rally.

Em 2016 o estúdio prossegue firme nas suas franquias e F1 2016 é sinónimo do empenho em torná-las melhores e mais aprazíveis. Talvez o resultado do reforço do estúdio não se faça sentir já, mas os próximos tempos serão sem dúvida interessantes, restando saber se isso quer dizer juntar novas propriedades intelectuais às existentes ou reforçar as actuais. Seja como for, são já visíveis sinais que apontam para uma evolução muito sustentada. Depois da estreia algo esperada mas pouco bombástica de F1 2015 nas consolas da nova geração (em 2014 o estúdio trabalhou na versão apenas para a PS3, Xbox e PC), F1 2016 é quase tudo aquilo que o jogo anterior devia ter sido. Com novos elementos que regressam, um modo carreira apelativo, conjugados com um bom trabalho na modelação dos automóveis, mesmo sendo próximo daquilo que jogamos noutros anos, corre melhor.

Safety car regressa.

Mais polido e trabalhado em pormenores e detalhes relevantes, menus compostos, bastante personalizáveis e dotados das mais diversas opções, o jogo representa o pináculo no desenvolvimento de jogos de F1 da Codemasters. Nenhum jogo anterior foi tão completo, ao mesmo tempo que pode ser desfrutado por amantes da simulação, os verdadeiros pilotos que não dispensam um volante, e pelos condutores de fim-de-semana, que de pad na mão procuram chegar à pole-position com o piloto do meio da grelha.

É verdade que a F1 não está a atravessar o seu melhor momento em termos de competição e audiência. A Mercedes há três anos que não conhece rivais à altura e sucede a outra equipa dominante, a Red-Bull, mas ainda assim a F1 é e será sempre a F1; o desporto automóvel mais mediático e no qual mais se investe em pesquisa e desenvolvimento, sem contar com a rivalidade entre pilotos e todo um espectáculo. O ano passado e após alguns anos de indecisão, comprei os bilhetes, reservei hotel e parti para o Mónaco para todo o fim de semana de competição. Era a concretização de um sonho. Foi um momento único, emocionante e que jamais esquecerei. Como circuito citadino há uma grande proximidade entre público e pista (os carros passam mesmo perto. É o circuito onde estamos sentamos quase à beira da pista - quase não há escapatórias - e até sentimos as ondas de calor do motor durante a corrida. Vi a corrida na curva das piscinas, a qualificação junto do casino e os treinos livres na primeira curva, a travagem para Sainte Dévote). No principado permanece ainda um simbolismo associado aos grandes campeões que por lá passaram e consagararam, sendo um circuito onde não é permitida a mínima falha, já que os separadores metálicos distam centímetros das rodas. Só por uma ocasião choveu (na primeira sessão dos treinos livres). De resto foi sol a tempo inteiro, o que não é muito usual acontecer em Maio naquelas bandas. A Mercedes voltou a ganhar e Vettel, permanentemente aplaudido, guiou o Ferrari à posição seguinte (Itália fica a poucos quilómetros), mas o público acudiu em força e entre tantas bandeiras nas varandas e janelas dos apartamentos, nos barcos atracados à marina repletos de olhos apontados ao asfalto, aconteceu.

Partindo do mesmo modelo dos anteriores, F1 2016 começa por transmitir sensações conhecidas. É quase como aquele familiar ou pessoa amiga que não vemos ou com quem não privamos há muito tempo, mas assim que voltamos a ver essa pessoa, até parece que o tempo nem passou, apesar das mudanças. Com um modo carreira renovado e dotado de regressos como o safety car, muitos dos conteúdos que não fizeram parte da edição foram recuperados.

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Na prática encontramos um jogo bem mais estimulante. Ainda não é um "simulador" puro, mas parece caminhar para lá, sendo que muitas opções contemplam um exercício mais rigoroso, desde que estejam dotados do equipamento necessário: um volante e uma cadeira à medida. Só assim poderão almejar o sucesso no campeonato do mundo "pro", no qual certas definições não são passíveis de alteração, como sucede com a perspectiva do piloto. Com o pad não é nada fácil controlar o carro nesta perspectiva. Se pensam fazer mais de dez voltas consecutivas, só com a precisão deste acessório é que conseguem manter a posição numa corrida mais disputada.

"É possível entrar em animadas corridas "multiplayer", agora num novo máximo de 22 pilotos (o actual plantel da F1)"

O jogo contempla as opções usuais, desde corrida rápida até à simulação de um fim de semana completo, com treinos livres e corrida, tudo na máxima ou abreviada extensão. Os parâmetros personalizáveis são significativos, podendo até correr ao nascer do sol ou ao crepúsculo. É possível entrar em animadas corridas "multiplayer", agora num novo máximo de 22 pilotos (o actual plantel da F1), em todas as provas, com destaque para o novo circuito de Baku (Azerbaijão), um trajecto citadino recheado de ângulos apertados e uma prolongada recta da meta. Se optarem pelo fim de semana completo e pelo número real de voltas terão direito à volta de aquecimento de modo a ajustar a temperatura dos pneus e do motor para a largada. Tudo foi concebido ao pormenor, sempre com informações relevantes oriundas da boxe via rádio. Um acidente é suficiente para lançar o "safety car" em pista, sendo imperioso cuidar da temperatura dos pneus e manter a posição. A escolha dos pneus para todo o fim de semana (treinos, qualificação e corrida) é determinante para fazer mais voltas rápidas quando necessário. E as largadas nunca foram tão genuínas, pressionando a embreagem ao mesmo tempo que aceleramos até ao ponto óptimo de rotações, para após as luzes se apagarem nos lançarmos a todo o gás, soltando a embreagem e premindo o acelerador com cautela, procurando derrapar o mínimo possível enquanto aganhamos velocidade.

A sensação de velocidade é óptima, embora não tenhamos muitas diferenças em termos de condução para a edição anterior. No entanto, o tratamento gráfico dado aos carros torna as aproximações muito mais realistas, como se fosse uma transmissão televisiva. As suspensões respondem às irregularidades e ondulações do asfalto. E naqueles duelos lado a lado numa curva, a tentativa de ultrapassagem oferece emoção extra. Contudo, ainda há défices: a inteligência artificial nem sempre actua da melhor forma, promovendo entradas letais dos adversários e toques desnecessários, apesar da seta indicar a proximidade do piloto rival. Podem sempre puxar o tempo atrás e contornar algum acidente desagradável, desde que a opção esteja ligada.

Baku é a nova pista a figurar no mundial. Um circuito citadino estreito mas com uma longa reta da meta.

O modo carreira foi contemplado com mais alterações e adições. Enquanto que o modo carreira pro deve ser a opção a seguir após a realização da carreira normal, já que envolve dez temporadas e mais restrições, certos aspectos permanecem idênticos entre ambos. O editor é o mesmo e a escolha da equipa não tem limites. O editor permite a criação de um rosto e nome para o nosso piloto (que ficará visível na zona da boxe, eina!). Não é um editor muito extenso, ainda assim oferece várias opções para rosto e capacete. A escolha da equipa, embora dê a ideia de facilidade ao permitir que passemos imediatamente para uma Ferrari ou Mercedes, oferece condicionantes. Numa equipa de ponta teremos mais dificuldade em progredir na carreira e os objectivos são mais exigentes. É quase como começar a jogar na dificuldade máxima. A opção mais sensata passa assim por escolher uma equipa da cauda do pelotão ou meio da tabela onde temos mais margem de progressão e desenvolvimento e os objectivos não são tão difíceis de atingir.

Cumprindo os objectivos obtemos pontos de recursos, que funcionam como um meio à nossa disposição para assegurar o desenvolvimento do carro ao longo da época. Mais pontos de recursos ganhamos nas equipas menos cotadas. Além disso estes pontos de recursos são obtidos através de desafios inscritos ao longo das diversas sessões de treino. Desde testar a nossa velocidade em pista ao longo de vários pontos de controlo, até poupar os pneus, estes objectivos não só nos familiarizam com a pista e passamos a conhecer a trajectória ideal, como criam uma motivação genuína para nos mantermos em actividade. A isto acresce a configuração do carro, o set up e definição de estratégia para a corrida, com o número de paragens na boxe. Seguir as instruções do nosso engenheiro é crucial, mas aqui também podemos ignorar algumas indicações e dar sequência à nossa intuição, se for a mais adequada para ganhar a prova ou concluir o objectivo.

"Em condições severas (autênticas bátegas) a prestação do jogo é segura."

Temos um computador à nossa disposição, através do qual preparamos o fim de semana, verificamos a progressão dos objectivos, obtenção de pontos de recursos e outros parâmetros, como a rivalidade com o nosso colega de equipa. Em caso de sucesso neste quadro de evolução, é normal que outras equipas acompanhem os nossos resultados, formulando eventualmente propostas para contrato, que a nossa agente nos fará chegar. Houve um esforço na tentativa de criar um ambiente mais autêntico fora das pistas. Para lá do nosso colega de equipa podemos observar outros pilotos, os directores técnicos e um apanhado geral dos momentos que precedem as corridas e após as corridas (formação da grelha e pódio). Embora não seja um factor crucial, contribui para uma sensação de maior integração no pelotão.

Ver no Youtube

Em condições severas (autênticas bátegas) a prestação do jogo é segura. Com 22 carros a largarem da grelha, a animação é muito sólida e segura, embora seja detectável algum "screen tearing". No entanto a prestação é francamente positiva. A jogabilidade não é muito diferente das edições anteriores. Como elemento personalizável, podemos tornar a experiência um pouco mais agressiva e difícil, o que aproxima o jogo da simulação, mas nada de muito diferente das edições passadas. À volta do asfalto as bancadas e o público não contam com grande resolução e o seu tratamento é algo residual, ainda que a paisagem dentro do carro esteja bem modelada e bastante assertiva, através de belos efeitos de luz, especialmente ao crepúsculo.

A saga da Codemasters com a mais importante licença do desporto automóvel atinge nesta edição um novo máximo. Um jogo essencialmente mais coeso e desafiante graças ao renovado modo carreira, fazem mais sentido as opções que nos lançam constantes desafios ao longo do fim de semana de competição em lugar da habitual competição pelo crono. O modo carreira acaba por ser a mais valia desta edição, ainda que de um modo geral o jogo tenha sido reconfigurado para melhor. F1 2016 está apontado aos jogadores casuais como aos veteranos e atinge um elevado grau de execução nas consolas que mais nenhum jogo dedicado aos fórmulas conseguiu.

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