F1 2019 - Análise - Jovens pilotos
Fidelidade visual, autenticidade e acessibilidade.
Após um largo período de desenvolvimento da marca F1 através do cunho de Bernie Ecclestone, a transição para a norte-americana Liberty Media, por via do seu CEO John Malone, não só correspondeu às expectativas de pilotos e equipas que queriam ver o desporto melhorado em termos de promoção e espectáculo, como para os fãs tem sido igualmente positivo. Hoje temos uma F1 mais aberta e próxima dos fãs, numa tentativa de levar a disciplina máxima do desporto motorizado às novas gerações.
A F1 ainda é espectacular mesmo que este ano o domínio imposto pela Mercedes AMG seja avassalador. Felizmente, assistimos a uma inversão da ordem da grelha na última corrida, da Áustria, pontuada pelo regresso, em grande, do holandês Max Verstappen ao degrau mais alto do pódio. Vibraram os fãs e todos que apreciam boas ultrapassagens. Reflexo desta entrada de ar fresco, o jogo da Codemasters surge igualmente renovado em 2019, com todos os logótipos e menus oficiais.
Nunca foi tão grande a sensação de estarmos diante de um produto licenciado. F1 2019 é também fruto de uma colaboração cada vez mais profícua com a Liberty Media. Tem resultado numa onda cada vez maior e desejada, ao ponto de levar os fãs do desporto motorizado a um título acessível mas espantosamente realista e autêntico. Desligadas as assistências e jogado na sua vertente competitiva, F1 2019 não só é o melhor jogo de F1 em anos como é um dos volantes mais seguros da actual geração de consolas.
De um modo geral ainda é um jogo construído a partir da linha de montagem dos predecessores. Não se esperam revoluções todos os anos. Mas há melhorias substanciais que reforçam a experiência, a começar pela apresentação e menus do tipo oficial, prosseguindo pela inclusão da categoria F2 como a antecâmara ou berço dos pilotos que ascendem à F1. É um pouco como a evolução dos monologares. Os actuais são os mais rápidos de sempre da disciplina e em grande parte é isso que sucede com F1 2019, que não sendo um jogo de ruptura com os anteriores, melhora a experiência significativamente.
A adição mais importante da presente edição é a categoria F2, presente pela primeira vez. É um bom ponto de partida para o reformulado modo carreira, que vos leva a disputar a temporada de 2018, com todos os carros do plantel, encontrando pilotos que entretanto deram o salto. Eles são: Lando Norris, Alexander Albon e George Russel. São caras do actual plantel de F1, numa aparição dupla. Na realidade é isso que vos é pedido no modo campanha, reconfigurado e alargado a esta disciplina de formação. Vencerem o título de F2, através da temporada 2018, para depois participarem no grau máximo do desporto. No entanto e como se sabe, este campeonato é mais curto, com menos provas que o mundial de F1, baseado sobretudo nas pistas europeias e por isso é mais breve. As corridas são no mesmo fim de semana dos GP's de F1 e são constituídas por duas provas; "feature race" e "sprint race", ou seja uma longa e outra curta, com posições invertidas na grelha de uma para a outra, dando hipóteses de luta pela vitória aos pilotos com menos resultados.
A rivalidade cedo desponta, entre o colega de equipa (é o primeiro adversário a vencer) e depois o contendor do "team" rival. Estes pilotos são ficcionais, o que sabe um pouco a desapontamento na medida em que gostávamos de encontrar como rivais os pilotos verdadeiros, nomeadamente o Russel ou Lando Norris. De resto é uma temporada curta, que se cumpre rapidamente. Vencer todos os desafios é fundamental para subir de escalão, ao mesmo tempo que serve de aprendizagem para outros voos. Os F2 são carros mais comedidos em termos de performance, mas nem por isso menos desafiantes.
Tal como nos jogos anteriores, estão presentes os modelos dos pilotos, engenheiros e chefes de equipa. Alguns mais parecidos com os seus congéneres, outros nem tanto. O resultado é satisfatório, sobretudo pela abordagem aos meandros da carreira, dos desafios e das rivalidades que se estabelecem assim que há uma ascenção à categoria máxima. De resto, com a adição da F2 (há uns anos a disciplina era conhecida como GP2), é quase meio conteúdo de um fim de semana de GP que está presente em F1 2019, o que resulta numa boa injecção de diversidade (a temporada 2019 de F2 chegará em breve num update gratuito)
A isto ainda acrescem os relevantes - embora regulares - modelos clássicos. Trata-se de uma categoria de cariz "extra" que permite experimentar monologares de outras gerações, tomando contacto com outras gerações dos V10 e de carros tão icónicos como os pilotos que os tripularam, antes da actual geração marcada pelos turbo V6. O "feeling" é bastante interessante por comparação com os actuais modelos. Não só pelo barulho, a aderência é outro ponto surpreendente, embora haja aqui uma certa estagnação nos modelos seleccionados, quando poderiam avançar para décadas, ao encontro de outras gerações. Contudo, há melhorias em termos de condução dos actuais veículos, mesmo se as opções parecem reivindicar a mesma espécie. É fundamental desligar as assistências (abolir o controlo de tracção e apoio da travagem) para que os efeitos da degradação dos pneus, poder em curva média e tracção sejam mais perceptíveis. Apoiado pelas ajudas, F1 2019 é simples e quase uma cópia dos predecessores. Guia-se a si mesmo. Desprovido de assistências exige de nós uma constante atenção e concentração.
O DualShock não é o melhor acessório para se jogar. Manter o carro na trajectória é mais problemático e dosear a curva pode ser fatídico, com uma saída de pista relativamente simples. Mas também nos deixa perceber quão próximo da realidade é o sistema de condução. A mínima falha numa entrada em curva pode redundar numa penalização de tempo. Acidentes podem levar à entrada em pista do Safety Car (um regresso), por isso toda a abordagem traduz bastante autenticidade e um incremento positivo sobre o feeling do ano passado.
Depois, há outros factores que afectam o desempenho em pista: a degradação dos pneus, as condições meteorológicas dinâmicas, os pequenos toques que afectam o equilíbrio do carro, as opções em termos de setup, as afinações que nos obrigam a gastar tempo através das três sessões de treinos livres. Na sua vertente mais "pro", F1 2019 continua exemplar, permanecendo como uma opção muito fiel do desporto motorizado que reproduz. Uma experiência alargada, convincente e rigorosa, com todas as nuances que podemos encontrar na realidade a encontrarem eco no videojogo.
A inteligência artificial não nos parece tão agressiva, sobretudo na volta de lançamento da corrida. Os carros circulam mais alertados para a nossa presença. De todo o modo isto não evita acidentes estranhos, até porque se algumas colisões incríveis também acontecem na realidade, e por vezes de forma grosseira (com severas penalizações para os pilotos prevaricadores), porque não haveria de acontecer no videojogo? As penalizações são aplicadas facilmente, bastando uma saída por largo ou pequeno corte da pista para o tempo sair anulado. Os contactos também são puníveis.
A área dedicada ao F1 Esport é maior, ocupando uma posição central fruto do crescimento da tendência para a competição em rede. As grelhas de vinte participantes numa corrida abrem uma oportunidade para estreitar e tornar mais estimulante a competição, através de um sistema de ligas e desafios ao fim de semana. Para além de ganharem pontos nestas competições, ainda são agraciados com uma superlicença equivalente a uma lista de troféus, uma forma engenhosa de conferir interesse em ganhar currículo diante de outros rivais. É um sistema que lembra o de Gran Turismo Sport, com pontos por habilidade e desportivismo.
"F1 2019 não só é o melhor jogo de F1 em anos.
"
Outro aspecto há muito suscitado pelos fãs tinha que ver com as repetições e captura dos melhores momentos da corrida. Agora podem guardar e partilhar as melhores ultrapassagens ou momentos insólitos da corrida, desde embates violentos até carros a voarem. A isto acresce uma melhoria das condições de luminosidade, particularmente nas corridas disputadas à noite. As pinturas mais espelhadas sobressaem e os circuitos parecem mais reluzentes.
Mesmo sendo notórias aproximações com jogos anteriores, estamos perante uma série anual que não foge ao sistema da reconstrução com base nos títulos predecessores, F1 2019 trilha no bom caminho, com importantes adições e evoluções, ao ponto de se posicionar como o jogo referência da modalidade e que mais conteúdo abarca. O trabalho com a Liberty Media reflecte-se no aproveitamento dos logos e apresentação. Entramos no jogo e parece que estamos a assistir a uma transmissão ao vivo de um GP. Por certo que há muito a melhorar, mas no âmbito da licença de F1 nunca tivemos um jogo tão bom e autêntico como este.
Prós: | Contras: |
|
|