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Série Fallout é uma adaptação sublime

Acerta no tom e captura toda a essência dos jogos.

Com uma excelente cinematografia e um grande respeito pela essência dos jogos, a produção da Amazon é violenta, satírica e precisamente o que os fãs de Fallout merecem.

Fallout é a mais recente aposta da Amazon MGM Studios para o serviço Prime Video e a mais recente adaptação de uma obra nascida noutro formato. Após apostas como The Boys e Invincible se tornarem em referências do Prime Video, que mostram como Hollywood está a olhar para obras já existentes noutros meios para obter histórias ricas e interessantes, a gigante colaborou com a Bethesda para alcançar um novo sucesso, mais uma propriedade nascida nos videojogos, com esta série Fallout.

Para um universo de jogadores, Fallout é um nome bem conhecido, muito respeitado e acarinhado, responsável por incontáveis momentos que são recordados ao longo dos anos. A série leva-te para esse ambiente pós-apocalíptico, no qual bombas nucleares devastam os Estados Unidos e deixam o terreno desolado, inabitável. Os ricos refugiam-se em enormes abrigos subterrâneos e lá permanecem, para sobreviver, com a noção que jamais voltarão à superfície. Os descendentes nascem nos abrigos, os Vaults, sem jamais ver a luz do sol, mas passadas centenas de anos, a humanidade começa a caminhar novamente pelos desertos que restam, onde as cinzas da civilização mostram o que um dia parecia eterno.

Os habitantes dos abrigos nem imaginam os perigos que, entretanto, se formaram. Muitos sobreviveram na superfície, mas a sociedade tombou, a humanidade regrediu para um estado caótico, uma nova espécie de Velho Oeste, mas aqui com mutantes e criaturas assustadoras que surgiram devido aos efeitos da forte radiação. A série Fallout começa no Vault 33, onde conhecerás Lucy, uma das três protagonistas principais. A Amazon Prime Video permitiu-nos ver antecipadamente os episódios e para não revelar demasiado, vamos tentar não falar de eventos específicos, vamos restringir-nos aos primeiros três episódios por enquanto, mas podemos dizer desde já que Fallout é uma nova referência para as adaptações de videojogos.

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Lucy (Ella Purnell), Ghoul (Walton Goggins), e um ingénuo recruta da Irmandade do Aço (Aaron Clifton Moten), são as principais figuras da série, três perspectivas diferentes que mostram na perfeição o universo Fallout. Através deles vais conhecer as principais “facções” de Fallout, vais conhecer diferentes formas de estar nesta realidade pós-apocalíptica e terás acesso a inúmeras referências dos jogos. Sem esquecer os momentos que expandem conceitos introduzidos pela Bethesda nas experiências interativas, de uma forma muito oportuna e inteligente.

Fallout é uma história original, diferente da que tens em todos os jogos, mas obedece a regras similares. Carregada de pimenta, sátira, violência e visceralidade, Fallout tem cenas absolutamente épicas, capazes de deixar qualquer fã dos videojogos empolgados. É um momento de ouro nas adaptações de videojogos, fruto de uma equipa de produção que teve uma extrema atenção ao detalhe, sempre com o objetivo de mostrar respeito e conhecimento pela obra. Basta referir que até o efeito VATS (quando a ação fica lenta e acompanhas algumas balas que causam explosões nos corpos dos adversários) foi recriado de forma espetacular.

Não queremos estar a falar de cenas específicas, existem demasiados momentos brutais que beneficiam com o efeito surpresa, cuja força é intensificada pela direção, pelo quão inesperadas são, por isso tentaremos falar de uma forma geral do tom, personalidade e méritos de Fallout. Não queremos revelar os mais preciosos momentos que encontrarás. Queremos reforçar que captura na perfeição o tom de Fallout, evidentemente em formato não interativo e com muitos condimentos realizados com isso em mente, sem esquecer que uma parte da audiência não conhece o material original.

No entanto, tudo o que representa Fallout está aqui. É violenta, imprevisível, dura, cómica, chocante, surpreendente, e realizada com uma cinematografia merecedora dos melhores elogios. Nem todos os momentos são perfeitos, mas a equipa transmite a sensação que tratou todos os segundos como algo importante, sem tempo a perder, sempre com foco em transmitir uma narrativa coesa, que cresce de episódio para episódio. A certa altura até poderás sentir que cada cena é uma declaração de intenção, de provar o valor de Fallout como uma série de várias temporadas, não apenas uma.

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Algo muito intrigante na série é a forma como estas personagens foram escritas. Nenhuma delas é propriamente uma puritana, todas tem, com uma enorme variabilidade, algo politicamente incorreto como parte da sua essência. Lucy poderá ser o mais próximo que tens do conceito tradicional de protagonista, mas não é uma tonta. Certo que ao sair do abrigo ela ficará perante uma realidade cruel e totalmente desconhecida, um claro contraste com os valores de meritocracia com que foi criada, mas ela tem imensa pimenta, aprende a desenrascar-se e será capaz de cometer atos que jamais imaginaria.

No meio está o jovem soldado da Irmandade, cuja aparente inocência será rapidamente questionada na tua mente após uma série de eventos que abalam a primeira imagem formada em torno do seu carácter. No lado mais sombrio tens Ghoul, uma satírica e cruel personagem que mostra o lado violento e selvagem deste mundo pós-apocalíptico. No entanto, Ghoul é uma bela forma de perceber as camadas argumentativas, a profundidade do elenco e deste universo, sobre como nada é tão simples ou direto.

Também não podemos deixar de referir o som, mais especificamente o uso do áudio para transmitir a brutalidade de diversos momentos. O uso da música segue de perto o que é feito nos jogos, o que confere um tom ainda mais espetacular às cenas mais violentas, sendo uma incrível ajuda para alcançar aquele efeito que te deixa a sentir que "é mesmo Fallout, mas ao invés de um jogo, é uma série".

Com Fallout, a Prime Video ganha uma nova série para colocar com orgulho na sua montra de destaques, enquanto a indústria de videojogos pode celebrar mais uma adaptação que respeita as obras que tanto adoramos, que agora são expostas a uma audiência muito maior. A equipa criativa, apoiada pela Bethesda, capturou na perfeição a essência de Fallout (seja pelo ambiente em si, pela sátira, personagens ou uso do som), os atores merecem elogios e o melhor de tudo é sentir que por um lado tens aquela sensação de assistir a algo que parece um videojogo, mas ao mesmo tempo é um complemento que se expande de formas que num videojogo poderiam não fazer sentido. Sublime.

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