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Far Cry 3: Blood Dragon - Análise

O futuro é retro.

Nos espaços exteriores, os Blood Dragon proporcionam grandes batalhas, mas é interessante ver como a Ubisoft Montreal também transportou a mesma diversão para zonas interiores e fechadas, onde é mais difícil assegurar pontos de defesa, apesar de existirem abrigos e pontos onde nos podemos esconder. No começo até parece que o jogo opta por uma direcção que aponta primazia para locais fechados, em lutas que se estendem por diversos pisos fechados e ao longo de corredores. Mas isso, mesmo sendo frequente até ao final do jogo, é constantemente articulado com os combates em campo aberto, bem típicos de Far Cry, ainda que desta vez não tenhamos as cores vibrantes e típicas de uma ilha paradisíaca durante o dia. Porque o tempo é de uma guerra nuclear, a estética dominante passa pelos lasers, neons e uma tela de um escuro avermelhado, ainda que tenhamos bastantes detalhes, boas animações e uma grande fluidez.

À custa do ataque melee que nos permite surpreender um inimigo pelas costas sem causar o alerta dos seus colegas (se tiver no alcance apenas mais um adversário, é possível atacá-lo usando uma espécie de shuriken), o jogo adquire por vezes uma composição "stealth", típica dos jogos de espionagem, embora seja algo complexo lidar sempre com o mesmo processo, especialmente quando os inimigos estão todos muito próximos. Nesse caso nada melhor que um fogo posto ou uma granada a rolar para o seu meio antes de despejar cintos de balas.

Nesse caso a melhor táctica passa por efectuar um raio x da situação, identificando o grupo completo de inimigos através do olho robótico da nossa personagem. Graças a esta perspectiva não só conseguimos distinguir os inimigos como identificar algum em especial que tenhamos interesse em eliminar de surpresa. Normalmente a melhor opção passa por desenvolver o maior número de ataques furtivos antes de passar às armas de fogo. Haverá dificuldades se os inimigos convocarem reforços, mas isso só acontece nas áreas fortificadas, pelo que nessa altura é de todo relevante contar com a ajuda dos Blood Dragons.

É possível desfrutar de Blood Dragon sem ficarem restringidos pelo desenrolar do arco narrativo, mas será conveniente que mantenham um certo equilíbrio em termos de livre exploração e combate e progressão na história. Isso é importante em certos momentos, pois ao seguirem em frente na história, ganham acesso a novas armas. No entanto, muitos acessórios encontram-se desbloqueados e para os comprar terão que cumprir missões secundárias. Estas missões ficam disponíveis após conquistarem uma fortaleza e implicam diversos objectivos como capturar um animal em concreto, matar um inimigo usando uma arma predefinida ou então libertar um cientista refém. Sair bem sucedido destas missões tem como vantagem a possibilidade de aceder a novos acessórios para as armas. A partir daí transformam-se numa autêntica máquina de guerra.

Ao contrario do esquema de progressão individual em Far Cry 3, as subidas de nível são automáticas, por via dos cyberpoints que funcionam como bónus pelos vossos ataques. O máximo de progressão é o nível 30 e os poderes vão ficando desbloqueados à medida que sobem de nível. É um processo mais limitado e que não nos permite equipar as personagens com os poderes que mais gostaríamos em função de um determinado contexto, sendo assim um sistema mais previsível e ordenado, em detrimento de um sistema personalizado em função das preferências do jogador.

Se a campanha e as missões secundárias se aproximam das dez horas de jogo, encontrar todos os coleccionáveis como cassetes VHS, as notas da Carlyne, os televisores e os tesouros, prolongam ainda mais o tempo de jogo. A história, apesar de não ser memorável, ganha interesse em virtude de certas comunicações tidas com o nosso herói. Aliás, neste apartado estão bem mais interessantes certas expressões proferidas pela personagem principal, até assuntos como violência nos videojogos. As vozes dos nossos colegas controlados pela IA também foram alteradas, resultando num registo pouco habitual para o género. A história acaba por ficar um pouco aquém na comparação com os restantes elementos do jogo, mas nem por isso deixa de assumir um papel estruturante e cujo desfecho merece atenção.

"Com ou sem Far Cry 3, Blood Dragon merece a aquisição e justifica o investimento, tal é a singularidade do conteúdo."

Sendo o combate e o design do jogo os elementos mais destacados, a presença de armas como a Flamer, Viper (predilecção dos snipers), DaM, Terminus e Infiltrator 101, põem ainda mais foco no poder de fogo. O arco também se revela útil, assim como as minas, granadas e o Molotov. Desta variedade resultam combinações muito poderosas e um dia negro para os adversários. Conduzir jeeps, barcos e outros aparelhos de voo também fazem parte da oferta, como se esperava.

No final, haverá gente a chegar a Blood Dragon e a conhecer Far Cry 3 muito por força deste conceito visual. Baseado nos filmes de ficção científica dos anos oitenta, os produtores transportaram uma definição muito clara das fitas VHS, exemplificada no distúrbio da imagem quando a saúde do protagonista está a chegar ao fim. Por outro lado, a voz de Rex Colt, emprestada por Michael Biehn, do filme Terminator é mais uma homenagem às películas exibidas durante os anos oitenta e noventa, mas também aos jogos da era 8 e 16 bits, pois muitas das cenas animadas mais perecem ter saído de um videojogo de acção lançado na primeira metade da década de noventa. E depois a banda sonora, criação do duo australiano Power Glove, projecta uma sonoridade de tons retro e electrónicos de grande revivalismo, contribuindo para os grandes momentos, mas também para uma constante tensão fruto das combinações perigosas projectadas na ilha. Com ou sem Far Cry 3, Blood Dragon merece a aquisição e justifica o investimento, tal é a singularidade do conteúdo.

9 / 10

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