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Far Cry 6 Review - Viva la revolución

Ubisoft consegue entregar finalmente a experiência que merecíamos.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Narrativa empolgante com destaque à interpretação de Giancarlo Esposito. Apesar de conceitos familiares, transporta frescura na sua bagagem.

Comum em todos os trabalhos desta franquia nas últimas abordagens é a escolha de um vilão para sustentar uma narrativa em seu redor, tornando esse personagem no elemento-chave e principal ator em todo o desenvolvimento das personalidades envolvidas. Uma forma que não é única em Far Cry, mas que é realmente notada e muito evidenciada pela Ubisoft nesta série. Nasce desta forma Far Cry 6, dois anos após New Dawn, fiel a esse formato e onde a forma como a produtora aborda esta edificação torna o processo de desenvolvimento de toda a narrativa algo previsível e com elementos que deixaram de nos surpreender. Mas será que esta sexta incursão segue as mesmas pisadas?

O vilão aqui introduzido é deveras o mais impactante até hoje e neste ponto reconheço que a escolha da Ubisoft é, no mínimo, uma escolha feliz. Vou até mais longe ao afirmar que é a escolha perfeita. Giancarlo Esposito já provou do que é capaz, em representações notáveis, como em Breaking Bad, The Boys e, mais recentemente, The Mandalorian. A sua capacidade de transmitir sentimentos opressivos e a aptidão para vestir a pele de alguém aparentemente desprovido de sentimentos, faz de Giancarlo Esposito um dos atores mais requisitados para estes papeis. Antón Castillo é apenas mais um. Aqui o ator faz um trabalho notável e eleva substancialmente a narrativa que envolve este ditador.

É desta forma construída uma narrativa em torno de uma ditadura em Yara, um país imaginário que muito se assemelha a Cuba, seja pela paisagem, costumes, língua, e até pela forte presença de elementos como os seus incontornáveis veículos. Em Yara é catalogada uma ligação muito vincada a eventos históricos de Cuba, transportando situações que são utilizadas no desenvolvimento de acontecimentos em Far Cry 6. Yara é uma nação presa ao passado, com décadas de atraso em relação ao resto do mundo. Antón Castillo oprime, escraviza e tortura o povo de Yara, obrigando-o a trabalhos forçados nas plantações de tabaco com a finalidade de produzir um medicamento milagroso.

"Yara é uma nação presa ao passado, com décadas de atraso em relação ao resto do mundo"

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É nesta sociedade oprimida, que transpira medo e sem ligação ao mundo exterior, que nasce uma nova rebelião. Tropeçamos literalmente nesta revolução, passamos a ser parte integrante e até a desempenhar um papel proeminente. Esta construção em redor de um vilão / ditador, torna o desenvolvimento de acontecimentos muito previsível e sem espaço para surpreendentes reviravoltas. Logo nos primeiros momentos, fazemos a escolha do nosso personagem, que se limita a apenas duas opções e estamos prontos para uma longa jornada pelas várias ilhas que constituem Yara.

Envolvida no renascer de uma revolução, Dani, que somos nós, tenta fugir de todos estes eventos que não fazem parte da sua escolha. Tenta escapar de tudo o que a rodeia, mas os acontecimentos criam um forte vínculo a estes guerrilheiros que forçam sentimentos de ligação a algo superior. É neste momento que somos introduzidos a toda a mecanização e formatação de Far Cry 6, numa fórmula muito semelhante e já até desgastada pelas múltiplas incursões passadas.


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Não considero que seja negativa a utilização de anteriores fórmulas, depende sempre como são tratadas e sobretudo como utilizam as suas fundações. Apesar de Far Cry 6 possuir toda a similaridade com os títulos anteriores, afasta-se e cria uma identidade única e até vai mais além. Na base de toda a sua estrutura estão os acampamentos em determinados territórios da ilha, cada um gerido por um grupo de guerrilheiros. Em todos os acampamentos temos a possibilidade de evoluir estruturas que nos dão acesso a benefícios e até participar em atividades com os residentes locais, como por exemplo lutas de galos. A nossa tarefa é unir os territórios, juntar as diversas guerrilhas tornando-as numa só força para combater e derrubar a ditadura opressiva de Antón Castillo.

Para esta tarefa de grande escala, temos à nossa disposição uma panóplia de opções que fazem de Dani uma temível guerrilheira. Obviamente, no início, o nosso arsenal é de menor impacto, mas serve para o propósito e adequa-se ao grau de dificuldade do momento. Temos uma enorme variedade de armas ditas "normais", como caçadeiras, pistolas, metralhadoras automáticas, lança foguetes. Outra faceta, que estimula o envolvimento, são as armas de construção personalizada. Temos os Resolvers e os Supremos, somente construídos com materiais especiais. O Resolver é entendido como uma arma poderosa que consome munição. Já o Supremo, vai mais ao encontro de uma habilidade especial, com tempo de cooldown após a sua utilização. Para além das opções de armamento, o nosso arsenal é completado pela nossa vestimenta que nos capacita com melhoramentos, desde proteção a diversas adversidades até maiores capacidades físicas.

"tudo é personalizável através de modificações, desde attachments para as armas passando pelo tipo de munição que usam"

Arsenal personalizável no ponto certo, sem exageros do passado.

À parte da vestimenta, tudo é personalizável através de modificações, desde "attachments" para as armas passando pelo tipo de munição que usam. Temos aqui uma enorme variedade de personalizações que permite criar um arsenal ideal para a forma como queremos abordar os embates e até o adaptar às características dos inimigos. Sim, conseguimos saber que tipo de inimigos enfrentamos através da câmara do telemóvel. Ao fazer scan a um inimigo temos acesso a toda a sua informação, desde fraquezas a pontos fortes. Para completar o nosso arsenal temos o nosso Amigo, que é um fiel companheiro. Se inicialmente a sua presença é evidenciada por uma certa nulidade, com o escalar das missões podem tornar-se num aliado de utilidade imprescindível.

Por conseguinte, as nossas tarefas são constituídas por uma série de missões para os diferentes acampamentos, obtendo dessa forma pontos de experiência, recursos, e sobretudo, avanços na história. Gira tudo em redor da conquista de postos, obter informações vitais, destruir infraestruturas, assassinatos, recrutamentos, etc. Apesar de ser tudo esperado, senti uma superior recompensa na sua realização. A jogabilidade está muito por detrás dessa boa sensação, é imediata, capaz, com enormes opções de abordagem, mas principalmente com a ligação às armas especiais e às enormes personalizações ao nosso dispor. É extremamente divertido invadir um acampamento militar com todo o nosso poder bélico, mas ao mesmo tempo é sublime entrar pela calada e eliminar um a um sem ser detetado.

As ferramentas disponibilizadas fazem de Far Cry 6 uma experiência superior às apostas dos últimos anos. Penso que desde Far Cry 3 que não me senti tão recompensado em jogar um título da série. Óbvio que temos muita reciclagem, sejam os veículos aéreos, terrestres, aquáticos, mas estes elementos são parte integrante e essencial neste mundo aberto que nos dá satisfação de percorrer. A introdução de elementos subtis, como o cavalo, dão uma superior liberdade de movimentação e acesso a formas jogáveis que determinam uma preocupação real em levar a série em frente. Existe também uma simplificação de tarefas, algumas que me irritavam vivamente, como termos de passar repetidamente pela animação de recolher recursos dos animais abatidos.

"desde Far Cry 3 que não me senti tão recompensado em jogar um título da série"

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Todavia, temos muitos artigos e ferramentas que são completamente desnecessários, sem que sentisse a necessidade de as utilizar. Certo que podemos construir o nosso personagem à medida das missões, mas o mais cómico é que utilizei a mesma arma primária desde o princípio, apenas lhe coloquei modificações para dar maior poder de fogo. É destes pormenores que a série não consegue livrar-se, mas num mundo enorme como este e com tamanha ambição é admissível que se coloque de lado muitos destes conteúdos / artigos. Aqui o que está a afetar este descartar é a criação da ideia da produtora de que temos de nos adaptar às missões, facto que é não é inteiramente verdade.

Outro aspeto importante é o trabalho a nível visual. Estamos perante o jogo Far Cry mais bonito até à data. As paisagens são de uma enorme beleza, com pormenores que conferem um elemento pitoresco a uma Yara parada no tempo. Esta beleza visual tem os seus custos (joguei no PC) se jogado em resoluções muito elevadas. Não desacertar também o trabalho sonoro, de onde destaco a deliciosa banda sonora e alguns pormenores interessantes, como a reação do meio envolvente à nossa passagem.

Este parágrafo é dedicado a um ponto que considero importante e que me agrada pessoalmente, que é o teor adulto apresentado. Estamos perante um dos trabalhos mais hardcore da Ubisoft nesse aspeto, nada foi poupado. Desde linguagem recheada de palavrões, obscenidades, e até ao teor visceral de muitas das cinemáticas. Temos muita violência que pode de certa forma ser considerada gratuita, como uma granada na boca a explodir sem qualquer censura no ecrã. É uma jogada arrojada e que da minha parte só vem acrescentar realismo e vinca de forma intensa a crueldade da sociedade e regime que é retratado.

Representação imaculada de um temível ditador.

É uma viagem empolgante que tem problemas de ritmo. O desenrolar dos eventos é formatado de uma forma inteligente, mas após um início excitante deparamo-nos a meio da viagem com um prolongamento dispensável e uma sensação de que algumas missões foram introduzidas para aumentar a longevidade da história, que terminei em 25 horas. Além disso, também encontrei disparidades no tratamento de eventos importantes, onde alguns são exibidos através de convincentes cinemáticas enquanto outros apenas merecem uma abordagem em tempo real, retirando-lhes fidelidade e imersão. Mas apesar destas inconsistências, temos uma fantástica abordagem ao tema aqui trazido, com um final muito bem sustentado e sobretudo emocionante. Os momentos de interação com Antón Castillo são intensos e revelam a sua superior qualidade a nível de representação, transportada aqui para um videojogo.

Este é o formato construído em Far Cry 6. Não inventa a roda, mas consegue uma apreciável evolução e caminha em frente. Com novas mecânicas e pontos importantes que o impulsionam e me fizeram sentir que não são tão datadas como nos títulos anteriores, consegue assim transportar frescura na sua bagagem. Aliado a uma narrativa empolgante e credível que confere um impulso de qualidade, principalmente pela participação imaculada de Giancarlo Esposito no papel de Antón Castillo. No final, o que importa mesmo é a diversão e acreditem, vão sentir-se muito recompensados em Far Cry 6, se gostaram dos títulos anteriores.

Prós: Contras:
  • Narrativa empolgante e credível
  • Atuação imaculada de Giancarlo Esposito
  • Grafismo exótico e deslumbrante
  • Banda sonora de extrema qualidade, adaptada ao tema
  • Jogabilidade tremenda e satisfatória
  • Enorme longevidade que se prolonga depois de terminar a história
  • Boa personalização do arsenal
  • Alguns eventos importantes desprovidos de cinemáticas
  • IA podia ser melhor
  • Missões muito repetitivas
  • Narrativa arrasta-se a meio da jornada
  • Algumas ferramentas irrelevantes

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