Far Cry Primal - Fomos a Madrid jogar e voltámos para contar
Tudo sobre este mundo selvagem.
Num mundo onde já é altamente difícil fazer algo de novo, os estúdios estão agora cada vez mais concentrados em reforçar os valores das suas experiências, mas ao mesmo tempo pedem emprestado ideias a outros jogos ou meios. Far Cry Primal parece ser um dos perfeitos exemplos desta filosofia moderna que reina entre os estúdios, a combinação da sua essência que aproveita ideias estabelecidas por outros. Tal como a série nos habituou, Far Cry é uma experiência sobre locais exóticos, exploração de novas fronteiras, paisagens belas, animais selvagens e personagens loucas. É um jogo que promete continuar esse tom frenético e intenso que apaixonou a sua comunidade mas agora num ambiente em que o ser humano não estava no topo da cadeia alimentar e as armas de fogo não existiam.
A convite da Ubisoft, fomos a Madrid experimentar mais de quatro horas de Far Cry Primal, que acredito ter surpreendido meio mundo quando foi anunciado. Não só pela ausência de um número no título, que tanto ajuda a simplificar a publicidade, como também pelo ambiente pré-histórico. Rapidamente a questão principal tornou-se "como vão transportar as mecânicas essenciais e definidoras de Far Cry para um cenário tão distinto?" Por outro lado, as questões principais na mente de muitos jogadores eram sobre como podem injectar um contínuo vigor e energia, sem cair na repetição, enquanto procuram a sintonia perfeita entre elementos característicos e inovação. Graças a esta sessão, fui capaz de experimentar Far Cry Primal e encontrar algumas respostas, apesar da maioria das perguntas só serem respondidas em Fevereiro.
Antes de começar a jogar, pensava sobre que formas teria a equipa de desenvolvimento encontrado para tornar este cenário interessante. Pessoalmente acredito que os maiores valores podem ser encontrados quando sentimos o engenho de uma equipa para criar profundidade e valores de diversão numa experiência que à partida parecia ser impossível de os ter. O Ubisoft Montreal tem uma tarefa complicada pois está a quebrar os moldes de bFar Cry, mas parece ser precisamente isso que irá tornar Primal tão interessante: tem as suas singularidades mas sente-se na mesma como um Far Cry.
"Far Cry é uma experiência sobre locais exóticos, novas fronteiras, paisagens belas, animais selvagens e personagens loucas."
Após uma pequena introdução que serve primeiro para impressionar com os efeitos visuais, passamos por uma secção que serve como tutorial para que o jogador aprenda as mecânicas base de Primal. O primeiro impacto conta muito e desde logo Primal impressiona com a sua qualidade gráfica. O jogo foi apresentado numa PlayStation 4 e é fácil ficar impressionado com a quantidade de efeitos presentes no ecrã. Olhando para os personagens que apoiam a jornada de Takkar em Oros, fiquei impressionado com os olhos ou a pele de Sayla, com os detalhes nos ornamentos dos líderes tribais como Izila ou então nos diversos animais que habitam estas terras selvagens.
A noite sucede ao dia, ditando diferenças no comportamento dos animais e no deslumbre visual para o jogador, os efeitos de iluminação, o tratamento anti-aliasing e acima de tudo, o que mais me impressionou, a fantástica ausência de pop-in (quando partes do cenário surgem do nada) fazem com que Far Cry Primal esteja, já nesta versão, um espectáculo em termos visuais. Não quero parecer exagerado, até porque existem imensos vídeos nos quais facilmente constatam isso, Primal é mesmo um título muito bem conseguido neste requisito. É muito importante para mergulhar o jogador nesta jornada pré-histórica que facilmente subirá o tom com muita violência e drama.
Sobre a história falarei apenas do básico, para contextualizar alguns nomes. Takkar pertence a uma tribo Wenja, que podem considerar como os mais normais neste mundo, e o seu objectivo é criar uma casa nova em Oros, uma espécie de terra prometida onde a sua tribo irá prosperar. No entanto, ao lá chegar, descobre que os Udam, tribo de canibais, dominam os diferentes territórios. Além dos Udam, existem as bestas selvagens e outras tribos mais ferozes e poderosas, fazendo com que Takkar esteja muito em baixo na cadeia alimentar de Oros.
Será este o ponto de partida para a nossa jornada enquanto Takkar. Graças à nossa visão de caçador, algo similar ao que temos em Tomb Raider de 2013/Rise of the Tomb Raider, Takkar consegue ver destacados no mundo os recursos em amarelo, para que o jogador possa mais facilmente identificar o que lhe pode ser útil. Desde os primeiros instantes que somos convidados a explorar Oros, a recolher recursos e a caçar para recolhermos o que precisamos para sobreviver, recuperando energia com a carne dos animais esfolados, ou criando setas ou paus com os materiais encontrados.
Desde os primeiros instantes que constatámos que Far Cry Primal é um jogo que até pode ser semelhante a tantos outros mas graças ao seu cenário e às mecânicas de jogo adaptadas, consegue encontrar a sua personalidade. Se não quisermos seguir livremente para encontrar actividades opcionais focadas na libertação de membros Wenja, caçar animais, descobrir locais secretos, enveredar pelas missões secundárias que reforçam o nosso controlo sobre Oros, o jogador pode recorrer aos especialistas, nesta sessão encontrei Sayla e Tensay, para progredir no enredo.
"Primal diferencia-se pelo cenário pré-histórico e consequente impacto em conceitos tão familiares."
Graças a estes especialistas, cada um com um espaço seu na árvore de habilidades para nos permitir conquistar formas mais avançadas de interagir com tudo o que existe em Oros, podemos progredir na história, melhorar o nosso acampamento ou simplesmente enfrentar os outros líderes tribais. Far Cry sempre deu elevado destaque aos antagonistas e a forma como conseguem chocar os jogadores com as suas acções. Primal não foge a isso, pelo contrário, abraça essa sua vertente e coloca-a na frente para agarrar o jogador e o deixar sempre desejoso por mais. Apesar de sentirmos que existe total liberdade para explorar Oros, jamais sentimos que estamos perdidos. Aliás, algo que me agradou muito foi a sensação que tudo estava interligado e nada que eu fazia era em vão, tudo tinha o seu propósito neste eco-sistema. Há sempre algo para fazer.
De certa forma, Far Cry Primal segue o conceito tradicional dos jogos de acção em mundo aberto que tão populares se tornaram nestes anos recentes. Um mundo para explorar livremente no qual algumas secções exigem que o jogador fique mais forte, ou avance na história, personagens centrais na trama que nos dão as missões para progredir, missões e tarefas opcionais com muitos locais escondidos para desbravar e combates intensos com diferentes abordagens dependendo das armas utilizadas. Tudo isto envolto num grande aparato cinematográfico que nos deixa interessados.
Onde Primal consegue ser diferente é mesmo no cenário pré-histórico e como isso parece mudar a forma de abordarmos conceitos tão familiares. Takkar apenas pode usar armas rudimentares e para se curar precisa de comer carne de animais. Precisa de caçar esses animais e precisa de ter cuidado com os inimigos que enfrenta. O arco e flecha são os seus principais amigos e até pode combiná-los com fogo para diversificar os ataques. Pelo menos a flecha é silenciosa e poderá ser furtivo no seu ataque e não encarar directamente todos os adversários.
Parte do apelo que senti ao jogar Primal foi mesmo na interacção com Oros, com a vida selvagem, a caçar animais, a ocupar território aos Udam e a descobrir passo a passo as suas mecânicas de jogo, a compreender o seu eco-sistema. No entanto, existe uma outra mecânica da qual quero falar mas não vou revelar muito para não estragar surpresas. Far Cry Primal abre as portas a um lado mais místico, sobrenatural se quiserem, e permite que Takkar se torne no domador de feras, temido pelos Udam e respeitado pelos Wenja. Com a ajuda de Tensay, especialista que nos permite desbloquear habilidades relacionadas com os animais selvagens, Takkar poderá domar algumas feras que o vão acompanhar.
Primeiro aprendemos como uma coruja nos céus nos pode ser tão útil, seja a avistar e marcar inimigos lá dos céus, seja a encontrar pontos de interesse para que Takkar não fique perdido. Segundo, ao domar animais selvagens, teremos um companheiro que nos segue e protege, constantemente ao nosso lado. É mais uma mecânica de jogo que reforça as possibilidades ao alcance do jogador para desbravar Oros. O animal pode ser usado para caçar outros animais, pode ser usado para atacar adversários ou pode simplesmente avisar o jogador de perigos.
Existem diversas funcionalidades que, mesmo sendo adaptadas de outras séries, ganham novo interesse ou curiosidade devido a esta roupagem pré-histórica. De tudo aquilo que joguei, ficou a impressão que o estúdio soube bem como as implementar para que a experiência tenha profundidade e valor. Algo que me deixou imensa vontade em descobrir. Pensei se Far Cry Primal poderia tornar-se repetitivo rapidamente e até que ponto poderia tornar-se em algo simples mas olhando para o quadro geral, o Ubisoft Montreal parece ter pensado em tudo.
A impressão que tive após as mais de quatro horas a jogar Far Cry Primal foi a de um jogo que não sendo fundamentalmente diferente, consegue ter a sua personalidade e ideias. O mais interessante será compreender se os diferentes elementos de gameplay mantêm a coesão e sintonia após mais horas de jogo. Num jogo em mundo aberto com esta envergadura, quatro horas não são o suficiente para perceber de que formas o título evitará tornar-se numa experiência repetitiva, mas serviram para espantar em termos gráficos e experimentar mecânicas divertidas. Far Cry Primal parece dono de uma personalidade singular, resultado da mistura de várias ideias estabelecidas, e deixou boas impressões.