Passar para o conteúdo principal

Farpoint - Análise

Um passo em frente para a realidade virtual.

Farpoint é uma experiência que mostra o potencial da realidade virtual, mas como jogo é limitado.

Farpoint é a mais recente aposta da Sony para o PlayStation VR. Depois da época de lançamento, que contou com títulos como Driveclub VR, Until Dawn: Rush of Blood e muitos outros, a febre da realidade virtual abrandou um pouco. No entanto, a Sony ainda não desistiu da realidade virtual e uma prova é Farpoint, que chegou às lojas em duas edições distintas: uma edição normal e uma edição que inclui o acessório Controlador de Mira VR.

O Controlador de Mira é basicamente uma pistola para a realidade virtual que usa os mesmos sensores de movimento do PlayStation Move. Não é um acessório obrigatório - podem jogar com o Dualshock 4 - mas a experiência é tão radicalmente diferente que comprar Farpoint sem o acessório é impensável. O acessório acaba por ser mais um dos custos da realidade virtual, uma tecnologia que, apesar de estar disponível para os consumidores, continua a ter um preço de entrada elevado.

É um jogo de tiros num planeta muito distante do sistema solar, esta é a melhor forma de descrever Farpoint. O jogo começa no espaço, mas quando a vossa nave e tripulação são sugadas por um Wormhole, dão-se por vocês num planeta estranho. Sozinhos, terão que encontrar o que sobra da nave e verificar se há sobreviventes. O planeta é habitado por aranhas gigantes que adoram saltar para cima da nossa cara de patas abertas e dentes de fora. São momentos que, apesar de sabermos que o jogo não é real, metem impressão. O mais engraçado é que dei por mim várias vezes com o reflexo de me desviar sempre que uma aranha saltava para mim.

Ver no Youtube

Com o Controlador de Mira a imersão é maior e a jogabilidade mais natural, isto porque é como se tivesse uma arma nas mãos. Para apontarem com precisão, têm que encostar o controlador ao ombro e olhar para a mira digital da arma. Para se movimentarem, ainda têm que recorrer ao analógico, mas a câmara obedece ao controlador de mira, isto é, a câmara vira-se para o sítio para o qual estão a apontar. A naturalidade dos movimentos ajudam a criar imersão, mas também remove o enjoo de movimento. A experiência ainda é cansativa, como qualquer jogo da realidade virtual, mas pelo menos, não ficamos com má disposição depois de jogarmos (há que ter em conta que cada pessoa é um caso diferente).

"Com o Controlador de Mira a imersão é maior e a jogabilidade mais natural"

Apesar do Controlador de Mira oferecer uma jogabilidade mais natural e imersiva, ainda há limitações e passámos por situações do jogo que as demonstram. Quando os inimigos são números e temos que recuar, não podemos simplesmente virar-nos para trás e fugir. Isto seria o que vocês fazem na realidade, mas no jogo há que caminhar para trás enquanto estão a olhar para a frente. Não dá muito jeito e ainda podem ficar bloqueados por objectos do cenário. No geral, o Controlador de Mira responde bem, mas houve ocasiões em que a mira (dentro do jogo) não fazia exactamente aquilo que queríamos. Mesmo com estes pequenos inconvenientes, Farpoint é um passo em frente para os jogos de tiro na realidade virtual, resolvendo problemas como o enjoo de movimento e a tradução dos movimentos na vida real para dentro do jogo.

Há detalhes bem conseguidos. Para trocar de arma temos que meter o braço atrás das costas, como se estivéssemos a alcançar a outra arma que estamos a carregar. A experiência é melhor se jogarem de pé, assim podem-se movimentar com mais liberdade, mas precisam de bastante de espaço para que funcione bem. Podemos dizer que este é um jogo tão realista que causa cansaço físico, devido a jogarmos de pé. Apesar não haver enjoo de movimento, nunca conseguimos jogar mais do que uma hora e meia seguida. É uma experiência cansativa e não propriamente relaxante, mas é um problema que, pessoalmente, encontrei em todos os jogos da realidade virtual.

Ver no Youtube

O maior problema de Farpoint é que, apesar de ser uma experiência interessante e que mostra o potencial da realidade virtual, é no fundo um jogo limitado. O jogo resume-se a andar em frente e a disparar contra as criaturas que vamos encontrando. Há uma história que é contada através de memórias. É uma história com vibes de Interstellar, mas com pouco envolvimento da personagem que controlamos. Ao longo da campanha são introduzidas novas armas e novos inimigos, mantendo alguma variedade até ao final, mas não o suficiente para afastar a sensação de que o jogo, depois da primeira ou segunda hora, se torna repetitivo. A campanha tem uma duração razoável, algures entre 5 a 6 horas. Digo razoável porque, caso se prolonga-se mais, se tornaria chata.

"Apesar de ser uma experiência interessante e que mostra o potencial da realidade virtual, é no fundo um jogo limitado"

Para prolongar a longevidade de Farpoint, há um modo de desafio onde podem competir em tabelas mundiais pela melhor pontuação em diversos níveis. Também há um modo cooperativo online em que podem partilhar a experiência com outra pessoa. Ambos estes modos são uma tentativa de tornar o jogo mais robusto, mas como muitos outros jogos da realidade virtual, Farpoint ainda fica atrás em comparação com os jogos "normais". Os cenários são na grande maioria estéreis. De longe a longe há cenários mais interessantes e elaborados, mas não é um jogo impressionante neste aspecto. Não é de estranhar, os jogos da realidade virtual requerem que duas imagens sejam processadas em simultâneo (uma para cada olho), portanto, há menos recursos para tornar o jogo mais bonito.

Se já investiste num PlayStation VR, Farpoint é uma das experiências mais interessantes, desde que estejas disposto a adquirir a edição que inclui o Controlador de Mira VR (que futuramente será compatível com mais jogos). A jogabilidade está muito bem conseguida, sendo natural, intuitiva e satisfatória. Infelizmente, apesar deste passo em frente na jogabilidade, é um jogo que ainda demonstra algumas das limitações da realidade virtual.

Lê também