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Ferrari the Race Experience - Análise

Visita a Maranello.

De um modo geral a sensação de condução é desconsolada, falta-lhe emotividade e acutilância. A abordagem à curva é demasiado automática. A dada altura e já desconsolado por ter o carro a não fugir de pista como queria, desliguei as opções do controlo de tração, ABS e tudo o mais à exceção da linha de trajetória. A gestão do volante, acelerador e travão ficou substancialmente melhor, especialmente nos veículos mais potentes como o F50. A sensação de velocidade também melhorou e isso permitiu tirar um outro prazer da condução, apimentado pela imprevisibilidade do comportamento do carro nalgumas curvas.

Mas já depois de ter aumentado a dificuldade para o máximo e ter retirado quase todas as assistências de condução, continuava a disputar poles e troféus sem enfrentar grande oposição dos pilotos mais próximos de mim, de um pelotão composto por 16 carros. E até das vezes que larguei atrás, as 5 voltas de duração da corrida permitiram-me chegar aos lugares da frente com alguma tranquilidade.

Há, no entanto, riscos que se pagam caro. Como seja frear tarde para uma chicane ou não respeitar a distancia de um adversário encostando demasiado. Em ambos os casos teremos um convívio imediato com um piso mais flexível e deslizante se não for acrescentada uma bandeira alivi-negra que nos retém o andamento por mais algum tempo. Nas chicanes é uma decisão especialmente severa, penalizar por ganhar espaço através da escapatória, mas assim sempre se acautela a previsível batotice de alguns que engolem um pelotão inteiro logo na primeira curva sem que sejam devidamente sancionados.

A corrida no meio do pelotão pode tornar o desafio da ultrapassagem mais interessante. O confronto imediato é possível embora os adversários não sejam muito afoitos e destemidos. Arriscam pouco para recuperar uma posição perdida e quando complicam vemos o nosso piloto agitar o punho. Não sei se o faz a exprimir desagrado ou satisfação (o uruguaio Gustavo Rayas, piloto de ralis, há uns anos costumava pôr o indicador fora da janela, de braço estendido, quando curvava próximo do público) já que tende a fazer esse gesto mesmo quando tem a pista livre à frente e atrás.

Com várias perspetivas em oferta, as melhores serão talvez a vista a partir do "cockpit", embora parca em emoção, ou então a câmara situada mesmo na frente do veículo. Em ambos os casos, se lhes acrescentarem um volante terão uma experiência melhorada, capaz de outro "feedback". Nada de muito revolucionário, mas dá para sentir melhor o poder da aceleração e travagem. Pena alguns problemas de instabilidade na "frame rate" quando se leva o travão a fundo após uma recta rápida.

Viaje para fora de Itália

A Eutechnyx trouxe 16 pistas para esta experiência. Nem todas oficiais, como Nurburgring ou Monza aqui batizadas de Eifel e Italian GP, descobre-se que nestes casos o traçado é o mesmo mas com uma composição ao redor do asfalto significativamente diferente de modo a salvaguardar os direitos oficiais. Apesar do não licenciamento de todas as pistas, irão encontrar muitas devidamente reproduzidas como Infineon Raceway, SPA Francorchamps (sempre muito preferida). Depois há outras inventadas como a pista na Riviera que vai buscar alguma inspiração ao traçado monegasco.

De um modo geral a descrição dos circuitos é satisfatória, com algum ruído envolvente, provindo das bancadas e da zona das boxes, através de alguma animação. Contudo estamos perante um trabalho bem mais modesto por comparação com os "racers" de ponta. Os efeitos de luminosidade e contraste não assumem grande destaque, mas dentro do essencial está tudo o que é preciso para garantir um mínimo de entusiasmo.

Quanto aos carros a situação é ligeiramente melhor. O interior encontra-se relativamente bem detalhado e o aspeto exterior, embora longe de deslumbrar, oferece uma agradável dose de entusiasmo na atenção ao detalhe. Creio que faltou à Eutechnyx transformar aqueles carros em autênticos leões, acrescentando mais agressividade e acutilância à experiência. Tendo-se ficado pela rama fica a impressão que alguns dos mais belos exemplares automóveis do mundo não são assim tão agressivos. Quando isso não é verdade.

O acesso ao "Showroom" permitirá distinguir o carro dos demais quando instalado no pelotão. Para tal poderão usar um extenso leque de opções para decalques e vinis, podendo até fotografar o resultado final. Depois há uma série de opções para o "single player" como "Trophy", Arcade, Quick Race e Time Trial, podendo para estes modos alugar um carro mais potente. Os "challenge cards" representam um desafio contra o computador. Um jogo previsível mas que acrescenta alguns motivos extra de competição para lá da pista.

As corridas "online", abertas até 8 jogadores por corrida representam um desafio bem mais interessante, especialmente pelo andamento muito igual dos pilotos (dependendo das "unhas" de cada um). A competição é melhor e à medida que desbloquearem mais carros, melhores soluções terão para tentar fabricar mais vitórias.

Ferrari the Race Experience é um jogo a ter em conta para uma segunda linha do género dos jogos de condução. Tem como principal argumento uma das montras mais apetecíveis e apaixonantes do mundo automóvel. Haverá muitos carros para desbloquear e as pistas em número suficiente para garantir uma frescura na transição de provas. Contudo e perante tamanhas e colossais máquinas em exibição, é pena que a jogabilidade não acompanhe a dimensão dos "brinquedos" saídos das oficinas de Maranello. Enfim, falta-lhe aquele "pedigree" para tornar o jogo mais apetecível e autêntico. Porém e para um entretenimento descomprometido e a um preço acessível, os fãs da Ferrari e do mundo automóvel em geral não ficarão desiludidos, se partirem para este jogo conscientes que está uns quantos furos abaixo da luta pela "pole position".

6 / 10

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