FIFA 19 - Análise - edição dos campeões
Plantel reforçado.
Vivemos uma época de futebol mediatizado, dentro e fora das quatro linhas, com toda uma carga dramática associada a eventos, resultados e atletas. Cristiano Ronaldo é o primeiro grande jogador do futebol a singrar enquanto marca. Mais do que um atleta, encerra em si mesmo uma empresa, sendo a transferência ocasionada este verão, do Real Madrid para a Juventus, bom exemplo disso, produzindo uma ressonância mundial avassaladora. A Liga dos Campeões é actualmente a competição mundial de clubes de futebol, que mais se aproxima dessa definição de clubes-marca, nos quais pontificam os jogadores mais mediáticos e os estádios são vistos como verdadeiros parques temáticos.
É uma dimensão futebolística cada vez mais planetária e massificada, uma estrutura que a EA Sports procura deliberadamente acompanhar em FIFA, a sua produção que aponta ao realismo. Se a introdução do modo A Caminhada reflecte a assimilação do dramatismo ligado à vida dos atletas dentro e fora dos relvados, a aquisição das licenças da Champions, Liga Europa e Supertaça Europeia projectam-se como o mais recente degrau nesse trajecto, em ligação com a FIFA e UEFA.
Depois de anos a fantasiar com a maior competição de clubes da Europa, a EA integra nos seus vários modos de jogo (da Caminhada até ao Kick Off) o hino da competição e o arranjo visual da sua apresentação, ampliando o seu jogo de futebol com mais opções, enquanto devolve os jogadores o ambiente sobejamente conhecido como palco dos sonhos. A intenção da EA Sports assenta em recrear esse palco, com todo o realismo e dramatismo que lhe está associado, renovando a experiência de futebol, o jogo dentro das quatro linhas.
Nesse prisma, FIFA 19 perfila-se como um jogo superior, ao partir da recente edição da série para reformular uma série de mecânicas e possibilidades, abrindo ainda mais o leque de escolhas e decisões para quem controla a bola. Ainda que possa parecer refinado e à superfície, próximo de FIFA 18, esta sequela vem aprofundar significativamente a jogabilidade, com um controlo mais preciso da bola, mais suavidade e fluidez nos movimentos e transições, tornando a deslocação do esférico mais natural, sujeita a blocos e ressaltos, o que incrementa a incerteza e a produção de lances inesperados.
Em suma, é um jogo musculado e desafiante, de defesas afinadas e ataques demolidores quando se joga na dificuldade máxima contra o computador. Mas se nos dedicarmos a explorar e afinar os movimentos e possibilidades ofensivas, a gratificação é maior. Sucedem-se aquelas jogadas rápidas, através de triangulações e remates colocados. Uma incerteza ou uma bola aliviada podem tornar-se fatais.
"é um jogo musculado e desafiante, de defesas afinadas e ataques demolidores"
Se a fluidez na recepção, drible e remate é por demais evidente assim que assumimos o controlo de um jogador dotado da melhor pontuação, é nos detalhes adicionais como novos toques, fintas e habilidades (usando o analógico direito) que encontramos subtis diferenças, ocasionando aquelas jogadas ou remates vistosos que entram em "loop" depois de mais uma fornada europeia de jogos de clubes.
Contudo, este nível de perícia e controlo não é executado por qualquer jogador. Requer treino e sobretudo um incrível sentido de oportunidade. Raras vezes poderão ter esse prazer de conseguir um lance memorável, até porque o "timming" de execução é muito curto e se jogarem contra o computador a partir do nível profissional terão ainda mais dificuldades. No entanto, essas opções e habilidades criativas foram acrescentadas, o que é de saudar. Pequenos toques, remates ou dribles podem alterar o marcador num instante. Usando a cabeça, o tronco e até os joelhos, alguns atletas são capazes de enganar o adversário, abrindo espaço num ápice, cortando a bola com facilidade ou tirando-a da margem de actuação do rival, antes de um passe letal para o colega de equipa que entretanto se desmarca.
"Pequenos toques, remates ou dribles podem alterar o marcador num instante"
As possibilidades para criar e produzir mais jogo ofensivo aumentaram exponencialmente, mas continuam a integrar uma fase de jogo mais profunda, a qual só os jogadores mais experimentados poderão usufruir. Apesar destes notáveis desenvolvimentos, sente-se que por vezes alguns jogadores se revelam algo presos no acompanhamento do lance. Parecem menos soltos, reagindo com menos velocidade, o que nos obriga a adiar um passe, esgotando pequenas frações de segundo.
Face à edição passada, FIFA 19 é muito mais inovador e interactivo no momento das oportunidades, com aspectos cruciais para levar de vencida o adversário, mas reféns de um domínio e execução que requerem tempo e treino. Nesse sentido torna-se num jogo de futebol mais realista, preciso, natural e fluído. É talvez o FIFA mais apurado e desenvolvido em termos de jogabilidade, o que coloca a edição 19 no ponto mais elevado dos últimos anos.
A única novidade que tarda em convencer é a dupla pressão no botão de remate. Normalmente, uma pressão nesse botão é suficiente para atirar à baliza, mas este tipo de remate, quando bem executado, é bem mais potente e quase indefensável para o guarda-redes, desde que a rematar esteja um "especialista". No entanto, o tempo de execução é muito apertado. Na secção de treinos dá para ver o exíguo espaço verde a desaparecer numa fracção de segundos. Falhem esse remate e o contacto com a bola é errático. O que levanta a questão: porquê arriscar este tipo de remate de primeira quando posso executar um disparo normal e obter um resultado próximo? É sempre bom contar com mais uma opção, mas Zlatan Ibrahimovic, em bom rigor, convenhamos, só há um. Experimentem usá-lo para estes lances (no FUT).
A frequência de ressaltos é maior, especialmente no confronto entre os jogadores. Atenta a proximidade entre os atletas, a bola embate e entra num efeito de carambola bem mais autêntico. Pode até dar-se a situação de uma bola perdida ser recuperada nestas condições o que torna alguns lances mais imprevisíveis. Outra novidade é a introdução de tácticas pré determinadas. Antes do jogo podem estabelecer o alinhamento táctico a defender, em equilíbrio ou no ataque, mexendo na organização. Depois, no decurso do jogo, basta uma pressão no d-pad para alterar a disposição como quem muda o set up num carro de F1, passando a uma toada mais ofensiva ou defensiva, de acordo com as circunstâncias do jogo. É uma óptima medida já que evita as pausas desnecessárias.
Quanto a modos de jogo, FIFA 19 não é nada magro, antes pelo contrário, embora grande parte das opções sejam as mesmas do ano passado, complementadas por novidades. No caso da opção A Caminhada, volta a ter como protagonista Alex Hunter, nesta terceira edição consecutiva. O craque que começou a dar nas vistas no Manchester United passa esta temporada para o Real Madrid, sujeitando-se a um desafio que lhe dá mais popularidade mas ao mesmo tempo é mais desafiante, com o aliciante da presença na Champions. A novidade desta edição, que marca a despedida de Alex Hunter de FIFA, é que não estamos cingidos apenas ao seu campo de evolução.
"Apresentado como novidade em FIFA 17, dois anos depois este modo começa a perder alguma frescura"
Em cena entram mais dois protagonistas: Kim Hunter, a meia-irmã de Alex e Danny Williams, ela a fazer carreira pela selecção norte americana e ele a ajustar-se ao temperamento de José Mourinho no Manchester United. Há momentos em que as carreiras dos três se cruzam, mas também podemos dar preferência a uma delas, seguindo apenas a de Alex, por exemplo. Apresentado como novidade em FIFA 17, dois anos depois este modo começa a perder alguma frescura, ainda que tenha os seus momentos dramáticos e aquela cinematografia. Enquanto não chegam os grandes momentos há partes que se arrastam demasiado e as decisões tocam o habitual (agressivo, equilibrado ou tolerante).
Uma novidade neste modo é a existência de mentores, atletas do clube que se ligam a uma das personagens, possibilitando que também sejam controlados quando não queremos assumir o comando da equipa. De referir que os clubes participam na Liga dos Campeões e por isso será uma estreia para Alex e Danny. Também não faltam as ligações aos craques verdadeiros nesta evolução. Em suma, o modo A Caminhada continua a divertir, só que parece menos essencial. O mais divertido continua a ser jogar, treinar e cumprir objectivos num curto espaço de tempo. A história é mais acessória.
Interessante, de resto, a adição da opção começo rápido (Kick-off 2.0), permitindo a disputa de qualquer troféu, nomeadamente a final da Liga dos Campeões, da Liga Europa e a Supertaça Europeia, entre outras. A isso acresce a disputa do modo survival, no qual terão que marcar três golos, ou então definir que o primeiro a marcar vence. Neste quadro existem várias opções e os limites podem ir até à marcação de remates em volley ou cabeceamentos, não sendo considerados como golo outros remates. Neste quadro podem até disputar um pequeno torneio. Em geral é uma boa opção para partilhar o comando com outro jogador a nível local. Opções como esta são sempre bem-vindas já que alteram as regras e favorecem múltiplos contextos a nível local para um começo rápido.
"A apresentação e design do FUT também está melhor, com destaque para os atletas que disputam a Champions"
A opção Ultimate Team, apesar de existir há anos, continua como uma das mais apetecíveis. A apresentação, design e mecânica de progressão é deveras cativante e embora não haja novidades de ruptura, o maior destaque é a criação das Division Rivals, onde não só poderão competir mas obter recompensas e possibilidades semanais em função da actualização dos plantéis. As Squad Battles fornecem um segmento adicional de competição contra rivais mais cotados, o que põe à prova a formação da nossa equipa.
Pela primeira vez poderão desfrutar das licenças Liga dos Campeões e Liga Europa neste modo, injectando um novo segmento de competição. Para além do novo sistema de tácticas dinâmicas, os jogadores podem usar o player picks para uma melhor selecção de um conjunto de cinco. A apresentação e design do FUT também está melhor, com destaque para os atletas que disputam a Champions. Mesmo todos estes anos passados a jogar FUT, ainda permanece como uma das melhores opções em FIFA e este ano não é excepção.
O modo carreira é algo parco em novidades, este ano, mas conta com a licença da Champions League e UEFA League, um segmento transversal aos vários modos de jogo. Por fim, opções como Seasons online, treinos e Pro Clubs, continuam a guarnecer a experiência FIFA embora careçam do mesmo problema do modo carreira: a falta de grandes novidades.
Passando às licenças, de salientar o reforço em termos de estádios. Este ano, todos os estádios da Premier League estão presentes. Em Espanha, no tocante à La Liga, regista-se apenas a omissão do Nou Camp. Com abertura prevista para Setembro, o novo estádio do Tottenham Hotspurs ainda não foi inaugurado, mas nele os Spurs já jogam, ainda que em termos virtuais, não se sabendo ao certo quando o farão na realidade, atendendo à derrapagem nas contas.
Sobre as animações e os visuais, o destaque vai para as partidas à noite, com novas coreografias e ambientes dos adeptos nos momentos que precedem o apito inicial. Cristiano Ronaldo volta a figurar como capa do jogo e a Juventus ergue a sua colossal imagem no ambiente dos jogos da Champions. Até os comentários para esta competição são efectuados por diferentes relatadores.
Numa edição que assinala a estreia oficial das competições Champions League e Europe League, FIFA 19 tem na jogabilidade melhorada outro ponto forte, ao ponto de conseguir a experiência mais avançada das últimas edições. A implementação do remate de duplo toque poderá dividir os fãs, mas no geral é um jogo de futebol extremamente coeso e vasto em opções, ainda que grande parte do seu conteúdo transite de anos passados. Porém, em termos globais, esta edição é a mais avançada.