FIFA Street - Análise
Futebol de rua autêntico.
O futebol de rua não é um fenómeno mediático de milhões de euros, mas é a génese do futebol e algo com que nos relacionamos facilmente. Aliás, é provável que muitos de vocês nunca tenham jogado futebol de 11, mas ao mesmo tempo que é difícil encontrar quem nunca tenha jogado futebol de rua. No recreio, na praia, contra a garagem de casa ou no pavilhão da escola, o futebol de rua é parte integrante da cultura de vários povos e assume formas distintas. Sim Electronic Arts, um simulador de Futebol de rua é uma boa ideia, e não precisam de exagerar no lado artístico para conquistar o nosso interesse.
Assim, após uns anos de ausência FIFA Street está de volta, e o facto de não apresentar explicitamente o número 4 à frente do nome é a primeira prova de que assume uma abordagem diferente das anteriores, como que um "reboot" da série. A equipa de desenvolvimento foi dirigida por Gary Paterson, considerado como um dos maiores responsáveis pelo crescimento da franquia FIFA Football (ou apenas Fifa) nos últimos anos. E o motor de jogo utilizado foi o mesmo de FIFA 12, com alguns ajustes e adições claro, mas a qualidade de aspetos como as animações ou o sistema de choque continua no mesmo padrão do simulador "principal".
Percebe-se a abordagem mais "sóbria" neste FIFA Street logo a nível visual, a estética animada que conhecíamos dos títulos anteriores foi abandonada em detrimento de um estilo mais autêntico e realista, que retrata de forma fiel os clubes, jogadores e ambientes deste desporto. Os modelos dos jogadores por exemplo são os mesmos de FIFA 12, ainda que com algumas diferenças em termos de animações que discutiremos mais à frente. Sendo um título com a licença FIFA, temos as várias seleções e clubes oficiais disponíveis, mas infelizmente apenas a seleção Portuguesa marca presença, os clubes ficaram de fora.
Os cenários estão competentes, mas principalmente muito variados. FIFA Street optou por recriar o futebol de rua nas suas múltiplas vertentes, desde as praias do Rio, passando por parques de estacionamento, campos de relva sintética e até a única vertente deste desporto reconhecida oficialmente, o Futsal. Para tal faz uso de 35 localizações diferentes. Londres, Nova Iorque, Amesterdão e Shangai são apenas alguns dos exemplos identificáveis, e estes não servem apenas como pano de fundo para a ação, mas têm cada um a sua própria especificidade de gameplay.
Apesar da ênfase colocada numa maior autenticidade, a jogabilidade continua virada para o arcade, num estilo de gratificação constante, e um ritmo tão rápido que mesmo os melhores jogadores do mundo teriam dificuldade em acompanhar. O que muda aqui é que a jogabilidade não transmite a sensação de exagero que caracterizou os títulos anteriores da série. Basicamente a decisão foi no sentido de manter a jogabilidade centrada na componente dos truques e fintas, mas ao mesmo tempo garantir que os movimentos tenham correspondência na vida real, seja algo possível de executar.
Neste tipo de futebol humilhar o oponente é quase tão satisfatório como marcar um golo, e para isso FIFA Street disponibiliza uma montanha de possibilidades. O comportamento da inteligência artificial vai no sentido de estar sempre a forçar o "um contra um", e mesmo o sistema de drible (street dribble) foi adaptado para que seja possível manobrar em qualquer direção mas mantendo sempre o jogador direcionado para o adversário. Isto convida-nos a ir para cima dos oponentes, e torna o ritmo mais rápido por estar sempre a orientar a ação para a baliza adversária.
O jogo tem a vantagem de ser acessível numa primeira fase, com o domínio do drible já é possível efetuar túneis e fintas de corpo aos adversários. Mas depois existe imenso espaço para evolução do nosso futebol, com vários truques e modificadores que acrescentam brilho aos movimentos dos jogadores. Um dos "gatilhos" serve para prender o pé de apoio do jogador ao chão, e depois com o direcional movemos a bola para qualquer direção como que para atrair o adversário a fazer o primeiro movimento, só para explodirmos numa outra direção deixando o defesa pregado ao chão, ou até para lhe colocar a bola entre as pernas. É delicioso contra um amigo (melhor ainda contra o chefe).
Depois existe toda uma panóplia de fintas com o analógico direito, não consigo precisar quantas, mas a piada está mesmo em ir experimentando. Também podemos por exemplo dar toques com a bola durante o jogo, e depois fazê-la passar por cima do adversário quando este se aproximar. É tudo uma questão de imaginação e alguma prática. Mas o que torna esta reencarnação de FIFA Street especial não são os truques, estes já existiam de sobra nos títulos anteriores da série. O que distingue este FIFA Street é a variedade equilibrada de gameplay.
Esta variedade deve-se ao maior cuidado em tornar a experiência credível, mas principalmente às diversas vertentes de futebol de rua que FIFA Street oferece. Claro que continua a ser possível pegar num jogador e fintar toda gente até ao golo. Mas nos desafios mais difíceis os defesas fecham bem os espaços, obrigando-nos a procurar outras opções como trocar a bola ao primeiro toque, fazer desmarcações, cruzamentos ou remates de longe. Aliás, dominar o jogo em equipa é tão importante como sermos fortes no um contra um. Depois cada estratégia é mais ou menos eficaz mediante o tipo de recinto e tipo de modo que estejam a jogar.