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Final Fantasy 16 - Um espetacular RPG de ação

O forte foco numa narrativa de qualidade prevalece sobre as falhas.

Final Fantasy 16 é um inesperado híbrido entre RPG e jogo de ação com a sua forte aposta no combate de ação eletrizante. Isto torna-o mais leve nas competências RPG, mas muito forte e divertido como um espetacular jogo de ação com o lore da série e uma narrativa principal sensacional.

Final Fantasy 16 está finalmente nas nossas mãos e como esperado, é fácil sentir que se tornar em mais um lançamento divisivo nesta série da Square Enix. A Creative Business Unit III, liderada por Naoki Yoshida como produtor, decidiu que a melhor forma de energizar uma série cuja popularidade está em arco descendente e de aumentar o seu apelo entre os mais novos, seria criar um híbrido entre jogo de ação e RPG. O resultado não é propriamente um RPG de ação, é um jogo de ação com mecânicas RPG e essa distinção torna-se muito importante de ter em conta.

A espetacular jornada de Clive Rosfield ao longo de Valisthea quase poderia ser descrita como um Devil May Cry com sistemas RPG, e numa era de híbridos que alcançam o estrelato mundial, é fácil perceber o porquê desta equipa ter decidido perseguir uma eletrizante mescla de géneros para apresentar Final Fantasy 16, após uma paragem de quase 7 anos na série. No entretanto, muito aconteceu, os jogos Souls e Elden Ring tornaram-se referências mundiais para os Action RPGs japoneses e repentinamente parece que já ninguém tem tempo para jogos por turnos.

Com um elenco repleto de carisma, um sistema de combate eletrizante que te incentiva sempre a tentar melhorar os timings e variar a combinação de golpes, uma história que parece uma espécie de "Guerra dos Tronos feita por japoneses" e toda a excentricidade anime que isso significa, Final Fantasy 16 assume-se como um título especial. A estrutura linear, pensa num Uncharted 4, por exemplo, é o preço escolhido pela equipa para se focar tão vincadamente na narrativa. Se gostas de jogos focados na história, com cutscenes espetaculares e momentos épicos, prepara-te para uma trama de contornos políticos, sociais, filosóficos e existenciais. É uma das melhores narrativas num jogo do género nos últimos anos, mesmo que a execução falhe um pouco.

Não há como negar que este é um jogo repleto de momentos fenomenais, as primeiras 10 são do melhor que joguei nesta geração e ao longo das 33 horas que demorei a completar a campanha principal, fiquei frequentemente rendido e em êxtase com este trabalho. Sim, as missões secundárias (festival de fetch quests) são uma afronta e quando a equipa decide metê-las no meio das missões de história, o ritmo da experiência principal vacila. Mas quando voltas às grandes missões a qualidade regressa, voltas a ficar empolgado e tudo fica como devia ser.

Através das missoões principais encontrei das melhores horas que já joguei numa PlayStation 5 e tornou-se no meu jogo favorito desta consola, mas tem as suas reticências que me forçam a descrevê-lo com algum cuidado e alertas. Além das já referidas missões secundárias na sua maioria fracas (somente no último ato melhoram um pouco), tens os já conhecidos problemas de desempenho e qualidade gráfica. Isto merece melhorias da Square Enix pois jogar a 720p para ter 60fps num Devil May Cry transformado em Final Fantasy custa a engolir.

A equipa imaginou uma controversa, mas espetacular interpretação da essência da série e um jogo eletrizante para qualquer pessoa, especialmente quem não conhece esta propriedade, o lore é usado como base da narrativa, o que é percetível nas armas, itens e outros, mas é na narrativa que isso brilha. Uma guerra dos tronos com o envolvimento de deuses e uma luta para romper com um destino traçado ganha uma nova escala com os Eikons, as criaturas famosas da série e que são usadas para momentos verdadeiramente frenéticos em Final Fantasy 16.

Tens cutscenes fenomenais para a história principal (de qualidade tão exuberante que tornam os momentos em que não são usadas em cenas banais), e no geral é um jogo graficamente deslumbrante. Mesmo que a resolução fraqueje, a qualidade e engenho artísticos da Square Enix prevalecem, no final do jogo é disso que te vais lembrar, não da queda da resolução numa determinada cena. Especialmente porque na maioria do tempo estás tão focado e envolvido com o sistema de combate que isso te escapa, desde que os 60fps não falhem.

O sistema de combate criado com forte inspiração em Devil May Cry resulta num híbrido estranho para fãs de Final Fantasy, mas se pensarmos em Lightning Returns e até em Stranger of Paradise, é fácil perceber que a Square Enix está mais do que disposta a experimentar coisas diferentes na série que tanto nome lhe deu em todo o mundo.

Final Fantasy 16 é um jogo ligeiro nos sistemas RPG pois o foco foi para a narrativa e combate, o que o torna num título muito próprio e apesar de adorar os JRPGs por turnos com os quais cresci, gostei muito de descobrir algo diferente. Eu também gostei do híbrido criado para Stranger of Paradise, por isso posso não ser o melhor exemplo. Enquanto jogo de ação com um sistema de combate rápido e frenético, Final Fantasy 16 aproxima-se mais de títulos como NieR: Automata ou Astral Chain, um híbrido entre hack n slash com RPG e aquele combate tão eletrizante que a PlatinumGames ou a Capcom sabem fazer.

É pena que somente perto do final do jogo sintas que tens habilidades e Eikons diferentes para alcançar maior profundidade e combinações, mas Final Fantasy 16 dá-te progressivamente novos poderes e habilidades para escolher o que usar para encadear de formas dinâmicas movimentos. O objetivo é tirar o HP ao inimigo, mas atordoá-lo também faz parte dos objetivos de combate. Terás de efetuar combos de ataques com a espada de Clive (o único personagem que controlas em todo o jogo) e magias, mas também podes usar habilidades associadas ao Eikon equipado.

Isto não é um martelar de botões, apesar de relativamente fácil, existem bosses e mini-bosses difíceis que testam os teus reflexos. Terás de atacar, encadear habilidades, atordoar e usar tudo de forma eficaz, com respeito aos timings. Terás de te desviar no momento certo para criar a melhor janela de ataque e terás de ler os movimentos dos inimigos para te adaptares e reagir de acordo.

O sistema de combate de Final Fantasy 16 é muito frenético, competente e divertido. Mesmo que seja no Final Fantasy Mode, através do New Game Plus, que chega a maior dificuldade, o sistema é frenético sem prescindir de objetividade e incentivar empenho.

Final Fantasy 16 tornou-se num dos meus jogos favoritos da série e apesar dos problemas de inconsistência no ritmo e qualidade (aquelas fetch quests são mesmo banais), o que tem de bom é realmente bom e é isso que prevalece. Confesso que o design linear com áreas de maior tamanho é uma lufada de ar fresco no meio dos enormes mundos abertos e adorei o combate de ação que puxa pelo teu talento. A narrativa ao estilo Guerra dos Tronos e o uso do lore Final Fantasy de forma tão ousada são dignos de aplausos.

Prós: Contras:
  • Forte foco numa história de grande qualidade e execução
  • Combate de ação exuberante e visualmente espetacular
  • Boss fights altamente divertidas
  • Banda sonora épica e majestosa
  • Elenco de suporte bem pensado e carismático
  • As já famosas cutscenes de incrível qualidade da Square Enix
  • A possibilidade de personalizar combos através dos Eikons e habilidades equipadas
  • Problemas na qualidade de imagem e desempenho
  • A grande maioria das missões secundárias são fetch quest banais
  • Poderás sentir falta de profundidade associada ao uso do termo "RPG"

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