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Final Fantasy 7 - O mais influente RPG de todos os tempos

Gaia.

Com a chegada de Final Fantasy 7 Remake, disponível a partir de hoje na PlayStation 4, decidimos recuar 23 anos no tempo até esse saudoso dia de 17 Novembro de 1997, quando Final Fantasy 7 foi lançado na Europa para a PS1. Isto porque começamos a pensar no impacto desse jogo da, na altura, Squaresoft e como acreditamos que é mesmo o RPG mais influente de todos os tempos. Com o passar dos anos, a sua qualidade permanece intacta e não parece surgir outro jogo que chegue perto do impacto que teve numa geração e até em toda a indústria.

Especialmente para os jogadores Europeus, que até então passaram completamente ao lado da série Final Fantasy (não por culpa nossa) e que teriam neste Final Fantasy 7 a sua primeira amostra desta aclamada série japonesa. Tornou-se num autêntico furor ler sobre a iminente chegada de um desconhecido fenómeno Japonês que finalmente daria um ar da sua graça, logo com o seu mais épico jogo. Por estes lados, o conceito de um JRPG que misturava fantasia com steampunk, apostava em temáticas profundas e cuja narrativa assentava em várias camadas, envoltas em mistério e exploradas passo a passo, era algo praticamente inacreditável. Foi um dos primeiros jogos a fazer-te sentir que os videojogos não eram apenas coisa de criança, coloridos e simplistas.

Após meses a assistir praticamente ao mesmo trailer, repleto de espectaculares FMVs e ocasionais cenas de combate em que os personagens se assumiam com um tom incrivelmente real e fixe, a verdade é que perto do lançamento ainda era difícil perceber o que era Final Fantasy 7. A espectacularidade visual e sonora dos trailers despertavam uma curiosidade incontrolável e quase às cegas, a Europa desejava conhecer aquele incrível salto do 2D para o 3D que marcaria uma geração inteira.

Existem cenas que pareciam um filme CG, mas depois tinhas cenas com combates 3D, sem esquecer os ocasionais vislumbres do personagem 3D mais pequeno a caminhar por cenários praticamente estáticos, que exibiam um detalhe fenomenal. Se olhares agora para o original, poderás ficar incrédulo com a qualidade dos cenários, mas na altura do lançamento, foi algo verdadeiramente sensacional. Cada imagem de Final Fantasy 7 parecia mais bonita que a própria realidade e até alguns filmes.

Os primeiros momentos com a Avalanche mostraram bem como a Squaresoft explorava temáticas mais adultas e rompia com o conceito simplificado de bons e maus.

Uma temática ecológica renderizada a três dimensões

Final Fantasy 7 foi provavelmente o primeiro JRPG que uma geração inteira jogou, pelo menos neste lado do globo, o que despertou paixão pelo género e abriu caminho para mais jogos do género no mercado global, enquanto outras companhias também decidiram lançar o catálogo existente e que nos escapou. A série Final Fantasy foi um forte exemplo disso, de uma série que chegou aqui com o sétimo jogo e depois tivemos a oportunidade de jogar os anteriores, enquanto esperávamos pelas novas entradas.

Os cenários pré-renderizados estão repletos de detalhes que te faziam parar para olhar

Antes de descobrir Chrono Trigger, Final Fantasy 6, Seiken Densetsu e todos os clássicos que vieram antes, o encanto surgiu com Final Fantasy 7, um jogo que apostava numa temática surpreendente e foi marcado pelo lado bizarro, mas sem prescindir de uma alma muito humana. A ideia de sermos um grupo de activistas ambientais, sem medo de se tornarem em terroristas para travar os planos de uma corporação maléfica, foi demasiado arrojada para a mente de adolescentes e olhando para essa altura, é fácil perceber que Final Fantasy 7 estava muito à frente do seu tempo.

Aqui não tens a simplicidade tão comum aos videojogos dos anos 90 em termos de estrutura narrativa ou sequer do ponto de partida. Não é tão simples quanto o conceito de um herói terá de salvar o mundo ou a princesa. A introdução com a Avalanche a bombardear o Reactor Mako em Midgar, da perspectiva de um arrogante Cloud Strife é totalmente inesperada, excêntrica e bizarra. No entanto, a forma como o lado humano é introduzido através dos membros da Avalanche, dos cidadãos de Midgar e como o drama humano real é misturado com a fantasia é verdadeiramente inigualável, mesmo nos dias de hoje.

Existem memoráveis boss fights neste grandioso clássico, mas o mais destaque na altura era mesmo o factor 3D e a profundidade

A tecnologia permitiu explorar esse enredo verdadeiramente surreal num ambiente 3D, que conferia uma sensacional profundidade. Sim, hoje em dia Final Fantasy 7 é um jogo banal, na altura foi revolucionário. Explorar aquele mapa 3D com as batalhas aleatórias para descobrir um novo local fantástico e avançar o surreal enredo foi sublime. Tudo começou com eco-terroristas que apenas querem proteger o povo das favelas numa luta contra uma corporação que suga vida do planeta, que evolui com o conceito de Ancients que protegiam o planeta, protagonizado por um um herói com um passado terrivelmente sombrio e um vilão com um passado tão terrível que estava destinado a seguir aquele percurso. Se metermos pelo meio extra-terrestres e testes em humanos (anos 90 representados em toda a sua glória) percebemos que a equipa queria mesmo ir além do que se esperava num passatempo de crianças

Além disso, o planeta tinha o nome de Gaia e que orgulho para um fulano de Gaia ter o nome da sua terra no seu jogo favorito, no mais ambicioso jogo jamais feito. Claro que esta Gaia estava repleta de locais com personalidades totalmente distintas, desde Junon a Nibelheim, sem esquecer o Gold Saucer e Cosmo Canyon. Era tão fácil sonhar com aqueles locais que ostentam um nível de imersão inesquecível, alcançado através daqueles personagens 3D e fundos incrivelmente detalhados permitiam.

Segredos em abundância e mitos urbanos

Para uma geração habituada a jogos arcada de ritmo frenético e gratificação imediata, cujo objectivo era sobreviver até aos créditos finais (mesmo assim ainda recebias um GAME OVER, não era SEGA?!), a chegada de Final Fantasy 7 foi decididamente um evento assinalável. Existiam imensos jogos repletos de segredos que surgiram ao longo dos anos anteriores, mas o conceito de um jogo reservar segredos que se tornavam numa espécie de mito é algo que ainda hoje associo a Final Fantasy 7. Basta pensar em Vincent, um personagem espectacular e que podias chegar ao fim sem ele.

Foi preciso ler nas revistas como obter este personagem opcional e como o colocar na nossa party. A ideia que podias chegar ao fim sem um personagem tão fixe foi um conceito surpreendente. Mais do que isso, lembro-me de reiniciar o jogo porque perdi a oportunidade de desbloquear Yuffie assim que saí de Midgar e estes são apenas dois exemplos do quão repleto de segredos está Final Fantasy 7.

Numa era sem internet, conversavas na escola com os amigos sobre uma mítica habilidade, personagens escondidos ou dos Knights of the Round. Nem todos acreditavam nestes mitos, mas todos queriam explorar a possibilidade.

Existem linhas narrativas que podias perder, momentos do lore deste universo verdadeiramente sublimes e feitos com especial cuidado, mas que seriam uma recompensa para quem investisse o seu tempo. Esse conceito de algo ser criado, mas não ser garantidamente visível ainda hoje figura como um traço de qualidade e ponto de comparação quando olho para outros jogos. Existiam locais que não eras obrigado a visitar, mini-jogos que podias não jogar, mas a Squaresoft injectou carinho e dedicação ao ponto de também o tornar numa referência em termos de conteúdo secreto e opcional.

Acredito que a grande maioria decidiu voltar atrás e carregar novamente o save mesmo antes do primeiro CD terminar, apenas para descobrir se fez algo mal e um evento fatal (protagonizado por Sephiroth numa espectacular FMV) podia ser revertido ou impedido. Aliás, o próprio facto do jogo chegar em 3 discos era já um atestado da desmesurada ambição desta equipa. Muito falatório gerou esse desconhecido jogo que tinha 3 discos. É por isso que é tão sensível pensar no conceito de um remake, que felizmente se revelou muito superior ao que esperava. Final Fantasy 7 é tão profundo, tão repleto de camadas e simbolismos que o politicamente correcto actual poderia corromper alguns dos seus maiores feitos.

Monstros míticos que eram muito mais do que conteúdo endgame, eram em si uma expansão do enredo

Não me posso esquecer ainda dos Summons e do quão marcante foi ver aquelas bestas poderosas surgirem para efectuar o seu ataque. O sistema de combate por turnos absolutamente bizarro, lembra-te que toda uma geração de adolescentes jamais tinha visto um JRPG, foi conquistando aos poucos e o uso da barra ATB tornou-se numa arte a dominar. Estes Summons, especialmente os secretos como os Knights of the Round, tornaram-se numa obsessão. Outro mito urbano confirmado por revistas: tinhas de dedicar o teu tempo a obter um Chocobo Dourado para voar até uma ilha e encontrar a mais poderosa de todas as Summon Materia, isto se quisesses derrotar as mais poderosas Weapons.

Repito, mas quem é que se lembraria disto em 1997? uma era sem reddits em que no dia pré-lançamento já te dizem tudo sobre o jogo e na qual os próprios estúdios têm de ter isso em conta ao preparar segredos.

O mais influente RPG de todos os tempos

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Final Fantasy 7 compete numa lista onde existem jogos realmente fascinantes e que passados mais de 20 anos ainda são referências, mas acreditamos que é mesmo o mais influente RPG de todos os tempos. A transição de 2D para 3D (suportado por cenários CG pré-renderizados fora das batalhas), o mapa mundo tridimensional, o sistema Materia, os Summons, as FMV gloriosas, a banda sonora, o bizarro elenco de personagens e claro, o vilão e todo o conceito por detrás do Meteoro e uma extra-terrestre que queria alimentar-se de um planeta que decide ripostar. Final Fantasy 7 é uma aula sobre a criatividade japonesa e, mais importante, uma forma de explicar que, mais do que tudo, queremos escapar para mundos convincentes.

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