Final Fantasy Explorers - Análise
Caça monstros em modo trance.
Apesar da constante ameaça do formato mobile, as portáteis dedicadas aos videojogos continuam a desfrutar de sucesso no Japão e servem como ferramenta para experiências cooperativas que geram interesse entre os consumidores. É importante ter a noção que no país do sol nascente, a Nintendo 3DS é sistematicamente a plataforma que mais unidades vende e que os jogos portáteis estão cada vez mais focados na união dos jogadores. Monster Hunter tornou-se num caso de sucesso e desde que migrou para a portátil da Nintendo, varre o Japão com vendas incríveis que deixariam qualquer um com vontade de ter um produto similar. É precisamente o que a Square Enix decidiu apresentar com este Final Fantasy Explorers.
Trocando os Hunters pelos Explorers, a Square Enix apresenta um título que nasceu de um conceito básico mas interessante: um Final Fantasy para vários jogadores na portátil da Nintendo, que segue um design extremamente similar ao de Monster Hunter mas com todo o simbolismo e nomes da série. A ideia de caçar Eidolons gigantescos com um grupo de amigos, máximo de 4 jogadores, de domar bestas para nos ajudarem ou até de executar missões para desbloquear armas icónicas da série, são algumas das possibilidades que a Square Enix encontrou para convencer os seus seguidores que este Monster Fantasy tem tudo o que precisam.
Num panorama actual em que jogos como Monster Hunter X vendem mais de 3 milhões de unidades somente no Japão, em que os consumidores estão cada vez mais rendidos às experiências que lhes permitem libertar a televisão, é inevitável que um título como Explorers aconteça e a Square Enix fez tudo ao seu alcance para o dignificar. Para muitos jogadores, o conceito Monster Hunter pode até nem ter muito apelo mas quando aliado a um nome como Final Fantasy, será uma proposta entusiasmante. Precisamente o que procurei descobrir na minha jornada em Amostra.
"A fórmula Monster Hunter aliada a Final Fantasy, é uma proposta entusiasmante."
Libertas é onde tudo começa
Assim que o jogador inicia o jogo, encontra Cid e rapidamente fica a par de tudo. Em Final Fantasy Explorers não temos qualquer história além de uma básica que contextualiza os nossos empreendimentos num novo mundo. Somos um explorador, não um caçador como podiam estar a pensar, que vai explorar Amostra a partir da aldeia Libertas. Graças ao comércio local e à agência de exploradores, sem esquecer os moogles cujo propósito vou referir mais à frente, iremos começar a nossa exploração de uma terra vasta, cheia de ambientes ricos em fantasia.
É isto. Em algumas frases Cid explica tudo o que temos para saber. Existem animais selvagens para caçar, itens para encontrar, criaturas mágicas cuja essência teremos que capturar, amigos para ajudar, monstros para domar e ocupações para desbloquear. Este é o esquema básico deste Final Fantasy Explorers. Como o nome tão bem sugere, a nossa tarefa principal é explorar para aos poucos descobrir o seu eco-sistema. É uma experiência cooperativa para quem o desejar, podem muito bem terminar o jogo a solo já que a dificuldade é ajustada quanto mais jogadores estiverem numa sessão, e o gameplay é o foco principal.
Em algumas missões teremos que passar em exames para aprender novas habilidades e em algumas delas é aprofundado este mundo, alguns locais e criaturas mas tudo muito básico. O único propósito é servir mesmo como mera base para um Monster Hunter versão Final Fantasy.
Monster Hunter com sistema de ocupações
Como referido, teremos de aceitar missões para explorar Amostra. A dificuldade está dividida por estrelas e o jogador terá que progredir uma a uma até desbloquear a seguinte categoria, aumentando a dificuldade. Estas missões variam ligeiramente mas inevitavelmente focam-se na caça de criaturas que conhecemos em outros jogos da série Final Fantasy, servindo como um dos elementos para instalar a preciosa sensação de familiaridade. Caçar um determinado tipo ou número de monstros, caçar uma besta gigante, recolher determinados itens, explorar até alcançar um local que ainda não foi descoberto, ou até caçar os Eidolons tão bem conhecidos da série, como Ifrit ou Shiva entre muitos outros. Estas são as tarefas principais que iremos executar ao longo de Final Fantasy Explorers.
Rapidamente se instala a sensação que não existe muita variedade, e alguns confrontos inicialmente épicos, como Ramuh ou Phoenix, podem ficar banalizados pois somos forçados a repetir o mesmo feito em diferentes missões, mas Explorers consegue entreter o jogador, especialmente quando jogado com outras pessoas. Executar uma missão para quase em seguida ter uma que por outras palavras pede o mesmo é um pouco amargo para a experiência mas a ideia é que quanto mais combates e missões cumpres, mais itens e dinheiro ganhas para melhorar o teu personagem.
Graças ao Cristal que reside no meio de Libertas, podemos trocar CP (Crystal Points) por habilidades que nos permitem maior destreza nos combates em tempo real ou então usufruir de todas as magias que conhecemos dos jogos Final Fantasy. Cure, Regen, Fire, Blizzard, Provoke e todas as outras que utilizámos nas imensas jornadas ao longo dos anos. Existe um ferreiro que nos permite melhorar ou comprar equipamento e armas, existe um Moogle que nos dá itens raros e até existe um meio de transporte aéreo que nos permite viajar instantaneamente para uma área já explorada.
A ideia principal é explorar os enormes mas vazios locais de Amostra, provavelmente teria sido melhor reduzir o tamanho de alguns e colocar mais inimigos ou detalhe, caçar monstros e melhorar o nosso personagem para ficar pronto para missões mais difíceis. O prazer não está na meta mas sim em todo o percurso que realizamos para lá chegar.
Uma vez que o jogo não desfruta de uma história, pelo menos não como veículo principal de progressão, o jogador cria um personagem básico no início que será um freelancer. A partir daí, passo a passo, consoante sobe o seu nível de explorador ao completar missões, terá a possibilidade de escolher uma nova ocupação, o sistema de Jobs presente em muitos jogos da série, e definir a experiência mais ao seu gosto. Isto porque cada ocupação permite comportamentos, tácticas e ataques diferentes com as suas forças e fraquezas específicas. É mais um passo bem planeado para tornar a experiência mais familiar.
Crystal Surge
Neste action RPG focado na caça de monstros, o jogador terá a possibilidade de equipar habilidades, específicas por ocupação, e serão estes os principais mecanismos de ataque. Rapidamente descobrimos que um ataque normal é demasiado banal, recorrendo a estas habilidades que contam com a sua barra própria. Além de incutir estratégia nos combates mais acérrimos e até na maioria da exploração, já que abusar dela pode deixar-vos sem acesso e prejudica o ritmo, permite-nos recorrer ao poder do cristal e desbloquear habilidades temporárias ainda mais poderosas.
Ao encadear diversas habilidades, o jogador aumenta a sua Ressonância com o Cristal, desbloqueando o acesso temporário a habilidades que de outra forma não consegue. Sempre que chega a uma nova centena, activa uma Crystal Surge que desbloqueia habilidades cada vez mais fortes. Seja para proteger ou atacar, estas habilidades são muito importantes e o esquema básico do gameplay assenta no ritmo com que jogamos até as desbloquear.
Ao invés de deixar que o jogador ande por ali perdido sem matar ninguém porque não existem incentivos, Explorers alicia o jogador a eliminar o maior número de inimigos que conseguir, encadeando estas habilidades para activar as Surges. Aliás, todo o gameplay assenta nesta mecânica, para que seja mais do que uma banal exploração sem interesse de maior. Gerir a barra de ressonância e a barra de habilidades é o básico do jogo e será aqui que o jogador será desafiado. Se abusar das habilidades sem sentido ou falhar os alvos, não aumenta a sua ressonância mas sim o risco de perder.
De igual forma, convém não abusar do poder dos cristais, mais um elemento a ter em conta na gestão destas mecânicas que procuram definir e delinear o gameplay. Frequentemente, será melhor esperar por uma maior ressonância com o cristal para desbloquear habilidades mais fortes para os monstros maiores que nos aguardam.
Personagens clássicos
Um dos elementos que marcou a fase de promoção do jogo foi a presença de vários protagonistas dos jogos clássicos da série. A Square Enix prometeu que seria possível recorrer à sua ajuda e isso acontece. Após uma fase inicial que serve como um longo tutorial prático, Explorers permite aos jogadores entrar em estado Trance. Consoante derrotam monstros ou vão executando habilidades, uma nova barra vai enchendo e o jogador poderá activar este estado temporário de maior poder. Se não equipar nada, terá o seu personagem personalizado com maior velocidade e a aplicar maior dano, se equipa um Eidolon, terá o poder desse Eidolon.
Poderá até fazer mais do que isso. Com a ajuda dos Moogles, vai recebendo fatos dos personagens icónicos mas também a capacidade de os invocar em modo Trance, jogando com eles por alguns instantes. Lightning, Squall, Yuna, Cloud, Rikku, e outros mais, podem ser equipados para quando activarem o modo Trance, se tornarem nesses personagens e desfrutar de todas as suas melhorias. Conforme vão encadeando habilidades, vão desbloqueando mais Crystal Surges e a dada altura até podem executar um especial devastador específico de cada personagem.
Nestes momentos, a música do jogo muda para passarmos a ouvir um som característico do jogo de cada uma destas personagens e facilmente percebemos porque é que a Square Enix nem hesitou em recorrer ao seu material clássico para reforçar este Explorers. É mais um elemento curioso e interessante deste gameplay que ajuda a familiarizar o jogo. Acreditem que enquanto o modo Trance durar, vão sentir que são mesmo muito poderosos.
O eco-sistema da exploração
Em Explorers o jogador não ganha experiência ao derrotar monstros. O jogador sobe o nível de explorador ao completar missões, ganha acesso a novas ocupações, ganha CP para desbloquear novas habilidades do Cristal, obtém mais personagens icónicos para o modo Trance e desbloqueia novos equipamentos para passo-a-passo se tornar mais forte. Para ficar mais apto para enfrentar os segmentos mais difíceis de Amostra, o jogador terá que obter os itens largados pelos monstros para conseguir trocá-los, juntamente com dinheiro, por novos equipamentos que melhoram os seus atributos. Geralmente um novo equipamento nem significa muito para o ataque, aqui são mais importantes as habilidades do cristal, mas é importante para a defesa.
Mudar de ocupação permite melhorar ou alterar os valores nos atributos, conforme o jogador desejar já que a contra-partida por menos ataque pode ser aceitável quando ficamos com novas habilidades, mas o eco-sistema vive da união entre obter itens como meio de aceder a novas peças de equipamento. Cumprir missões para obter itens específicos e consequentemente conseguir comprar uma nova espada pode ser um dos meios de progressão e mantém a ideia que é preciso eliminar monstros.
Explorers permite ainda utilizar monstros como companheiros de exploração e a dada altura, o jogador terá aqui mais um interessante elemento de gestão. Tal como é importante obter itens para comprar uma arma nova ou obter CP para comprar uma nova habilidade, será importante gerir os monstros para melhorar o seu nível e obter um companheiro digno.
A fantasia visual e sonora da exploração
Existem momentos em que Explorers evidencia claramente que é um Final Fantasy e a banda sonora é uma grande responsável por isso. Com sons que aceitamos como característicos da série e com um mundo com alguns locais agradáveis, Explorers consegue ser competente nestes dois departamentos. Não é um jogo que vai de forma alguma deixar os jogadores rendidos mas consegue cumprir o seu propósito, apesar de sofrer ocasionalmente quando estão os quatro jogadores numa sessão.
A presença dos personagens icónicos de Final Fantasy consegue patrocinar bons momentos visuais e apesar do aspecto quase "chibi" dos personagens, Amostra é um mundo que se torna agradável de conhecer. Mesmo que o seu principal seja básico, oscilando entre momentos sem inspiração com pontos de maior fantasia, Explorers permite caçar monstros e desfrutar de algumas boas paisagens, mesmo que vazias.
Um dos maiores problemas que encontrei com Explorers está na forma como gere as missões e sub-missões. As missões são as tarefas principais de Explorers mas o jogador pode ao mesmo tempo aceitar sub-missões. São tarefas básicas como atingir um número de ressonância específico, abater determinados monstros, activar uma Surge em particular ou até entregar itens. Servem para ganhar CP (necessários para adquirir novas habilidades) e permitem manter o jogador focado no mundo de jogo. No entanto, é pena que não seja possível aceitar várias missões ao mesmo tempo ou então que algumas delas não tivessem sido relegadas para sub-missões.
É aborrecido ter que executar uma missão que nos pede para realizar algo para logo de seguida termos que executar uma tarefa altamente similar, se não mesmo igual, quando podiam ter sido cumpridas ao mesmo tempo. Para terem uma ideia, aceitei duas missões seguidas que me pediram para derrotar Ifrit e se na primeira vez foi um momento fixe, na segunda já havia perdido o impacto pois tornou-se num momento previsivelmente banal. Ter que matar vinte inimigos, apanhando o item que deixam, para activar uma surge e cumprir a missão para em seguida ter que matar vinte inimigos para recolher os seus itens é algo que deveria ter sido evitado. Não acontece tanto quanto isso mas ocasionalmente acontece e é pena.
Final Fantasy Explorers é um título competente. Focado na experiência Monster Hunters mas com todo o legado Final Fantasy para o abrilhantar, Explorers é um jogo que brilha ainda mais no cooperativo. Será uma experiência que rapidamente vai cansar alguns jogadores enquanto para os adeptos deste molde, é um prazer garantido. Pena não conseguir um mundo de jogo que não se sinta tão vazio e não sentir-se repetitivo rapidamente. Se conseguisse um melhor equilíbrio no design do mundo, aliado a maior variedade nas missões, teria sido algo muito melhor.