Fire Emblem Warriors - Análise
Heróis de fibra.
Há três anos a Nintendo causou alguma surpresa quando publicou Hyrule Warriors na Wii U e na 3DS. Num desenvolvimento conjunto com a Omega Force, o estúdio responsável pela série Dynasty Warriors, pela primeira vez a Nintendo forneceu à Koei Tecmo as personagens do universo Hyrule, bem como toda a sua temática e universo, para a produção de um "hack'n slash" na linha dos títulos "musou", como também são conhecidos no Japão. O resultado foi francamente positivo, e só não se tornou num sucesso de maiores proporções porque a Wii U não conquistou o mercado e numa posição distante da que os seus responsáveis esperavam atingir, muitas produções acabaram envoltas numa névoa difícil de afastar.
Com Fire Emblem Warriors há um regresso à mesma fórmula, agora com outras personagens e um universo diferente, porventura mais apto à finalidade de um "musou" enquanto jogo de combate puro e uma equipa mais alargada. Tendo em conta a boa prestação da Nintendo Switch, a Nintendo espera alcançar maior audiência e um melhor resultado no Japão, onde a série é muito popular e onde a consola portátil da Nintendo entra nas preferências dos jogadores nipónicos. É uma forma de repor as expectativas depois do trabalho desenvolvido com Hyrule Warriors, seguindo uma série que é uma das mais próximas pela dimensão e estrutura das equipas, à franquia Warriors.
Não é por isso uma surpresa este regresso, onde diferentes e múltiplas personagens convergem numa batalha épica que se trava diante de legiões de soldados inimigos, em campos amplos e zonas preenchidas de sectores defensivos que urge derrubar. Tendo em conta a extensão em termos narrativos e sobretudo de personagens, que fazem de Fire Emblem uma das séries mais abastadas, ganha toda uma renovada dimensão a abordagem táctia. Para além das habilidades especiais de cada personagem, cada uma apresenta uma especificidade, podendo ser forte no uso de uma espada, uma lança ou um machado. Como o sistema triangular de armas é marca em Fire Emblem, os fãs da série sabem como tirar partido do sistema.
Essencialmente, as lanças vencem as espadas, que por seu turno se superiorizam aos machados, sendo estes mais eficazes que uma lança. Há toda uma componente táctica e estratégica que irrompe assim que partimos para o combate, definindo a equipa de heróis de acordo com as armas utilizadas pelos vilões. É verdade que este aproveitamento requer um recurso constante ao menu a fim de obtermos a leitura correcta e precisa dos dados. Uma observação dos inimigos pode não ser suficiente, até porque estas batalhas são muito rápidas.
Aliás, como é habitual em Warriors, várias personagens entram em combate e o dado interessante nisto é que a qualquer instante podemos passar para o controlo de outra personagem. Colocadas em postos distintos do mapa e afectas a diferentes objectivos, esta versatilidade não é só necessária para evitar que alguma lhes aconteça como permite a realização dos objectivos. As missões podem ser concluídas em cinco, 10 ou 15 minutos, mas as solicitações e diálogo entre os heróis tornam-se frequentes, requerendo ajuda quando se dá algum ataque das tropas rivais. As batalhas adquirem por isso uma dimensão hercúlea e épica, quase sobrenatural, nas quais um herói é suficiente para decepar num só golpe um batalhão, como quem sega a erva, uma ceifeira que é pau para toda a obra. No entanto e embora ao começo muitas destas secções sejam quase um passeio na praia, no tarda até introduzirem os generais e figuras mais valentes, dotadas de maior flexibilidade, força e resistência.
É nestes momentos, quando enfrentam os generais e até os temíveis bosses que as coisas ficam mais complicadas mas também mais interessantes. Deixamos de lado a infantaria e apontamos a mira, fixando-a, no rival. Os seus golpes são mais incisivos e letais. Rápido e ágil, é capaz de se esquivar com sucesso, sendo determinante recorrer a diferentes formas de estratégia para o superar, levando a cabo outros ataques para lá dos golpes especiais.
A série Fire Emblem é forte nesse contexto, oferecendo soluções que no contexto Warriors adquirem grande validade, como o sistema "pair up", que permite a duas personagens trabalharem de forma cooperativa, produzindo ataques mais devastadores que os seus especiais. Mas, ao activarem este sistema, reforçam ao mesmo tempo os laços entre as personagens e conduzir a novas situações posteriores. Não é o caso de novos soldados e personagens, mas incrementa as ligações.
Ainda neste plano das habilidades especiais, sempre assinaladas por uma barra de energia que nos indica o momento para a sua utilização, destaque para a opção "awakening" um modo que de forma temporária concede à personagem uma vantagem contra qualquer tipo de arma (não depende do sistema triangular) e ainda garante acesso a um ataque especial (Warrior Special). É fundamental, ao longo das missões, incrementar o potencial das personagens. Finalizando-as com sucesso não só obtemos objectos como unidades monetárias que podem ser afectas à aquisição de equipamento, armaduras e outras coisas, tornando as personagens mais fortes e eficazes, tudo através de uma grelha de evolução.
Este "level up" acontece no "camp", onde temos à nossa disposição o "crest market", onde podemos melhorar as habilidades ofensivas, ataques e defesas, criando objectos através de materiais específicos que angariamos no decurso das batalhas. Os "master seals" promovem a classe das personagens e adicionam novas opções "crest". Além disso, é possível criar novas armas e forjar equipamento adicional, com novos atributos. Em alternativa podemos vender o equipamento criado e obter mais algum ouro.
Respeitando os cânones da série Fire Emblem, não podia faltar a lei capital que determina que uma personagem morta não possa regressar. É assim no role play e pode ser da mesma maneira nesta versão Warriors se aceitarmos essa condicionante, logo ao começo. Contudo, há um templo onde é possível recuperar os camaradas falecidos em combate e obter outras graças e troco da oferta de materiais. Tendo em conta o elevado número de personagens presentes, esta decisão pode causar efeitos maiores, especialmente ao nível táctico, numa fase mais avançada do jogo, quando procuramos uma personagem específica para determinada tarefa e temos mais alguma dificuldade. Mas não será difícil delegar essa missão a outro colega com o mesmo equipamento. Por fim, também podemos despender ouro no "level up" das personagens, elegendo uma série de critérios que nos parecem determinantes.
No que respeita à história o destaque vai para o reino de Aytolis, que tem em Lianna e Rowan os principais protagonistas, personagens que fazem da espada e do escudo o seu principal equipamento. Ambos se empenham a fundo numa resposta implacável ao ataque levado a cabo por uma série de monstros que tomam o castelo e depressa instalam as trevas. Caberá aos dois heróis recuperar o Fire Emblem e assim restaurar a paz no reino. É uma narrativa diferente e depressa ambos contam com o apoio de outros heróis mais conhecidos. Ao todo terão o apoio de mais de vinte personagens, oriundas de vários jogos da série Fire Emblem. Todos apresentam uma série de atributos e lutam envergando armas específicas, embora com variedade suficiente para o tipo de equipamento desejado, não faltando elementos suplentes caso alguns caiam em combate.
Depois de concluída uma missão é possível voltar a jogá-la no modo livre, o que pode ser interessante de forma a praticar as habilidades para o nível seguinte. A juntar à narrativa, os produtores criaram um "modo história" composto pelas clássicas missões dos jogos Fire Emblem, podendo ser acompanhadas por uma nova perspectiva. De resto, é um jogo que herda grande parte do sistema de Hyrule Warriors, com a vantagem da adaptação ao universo Fire Emblem, uma soma que resulta melhor ao promover determinados elementos.
A versatilidade das personagens e a sua presença em considerável número geram margem de manobra suficiente, mesmo quando jogamos na opção que não deixa recuperar membros da equipa perecidos. O combate oferece ainda algumas novidades, por força do sistema "pair up" e das novas habilidades como "awakening", uma espécie de último assalto naqueles momentos mais complicados. Em suma, Fire Emblem Warriors é um jogo que seguindo a estrutura de Hyrule Warriors, encontra mais fundo de reserva e revalida o conceito pela incorporação de uma série de elementos específicos de Fire Emblem. Os combates por turnos adquirem uma nova perspectiva, mais feroz e selvagem, num diferente conceito que não deixa de assentar bem.