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Football Manager 2013 - Análise

Regresso aos dias de glória.

Football Manager é uma série que goza de enorme popularidade em Portugal, não fosse o nosso país verdadeiramente obcecado pelo desporto rei como todos sabemos. Desconfio no entanto que a popularidade do título da Sports Interactive por cá vai muito para lá do seu sucesso comercial. Não sei qual a percentagem de jogadores que utiliza versões pirateadas de FM, mas sinceramente desconfio que é bastante elevada.

A melhor forma de combater este fenómeno, e isto é apenas a minha opinião, é oferecendo valor acrescentado no jogo original, um serviço, uma garantia de conteúdo futuro, ou apenas uma caixa com uma arte cuidada são alguns exemplos do que quero dizer com isto. Outra coisa essencial é ser justo com o consumidor, o que no caso destas sequelas significa proporcionar reais e significativas melhorias ao conteúdo, algo particularmente difícil no caso destas que saem todos os anos.

No passado perdi muitas noites a jogar Football Manager com os amigos, ainda no tempo em que se chamava Championship Manager antes da separação da Eidos. Faço parte do grupo que foi deixando de jogar a série aos poucos até parar completamente, e não sei se isto de deveu apenas ao facto de o jogo ter crescido em complexidade, sim isso provavelmente ajudou, mas não foi só. Sempre me pareceu que apesar de todas as qualidades do simulador, ele falhava em termos de feedback e recompensa, eu não sentia as minhas decisões, mesmo nas vitórias.

Para resolver de vez o problema com a complexidade, Football Manager 2013 traz o modo Classic, provavelmente a maior novidade do título deste ano. Este modo é muito similar à versão portátil do jogo, livra-se de todos os elementos secundários e concentra-se nas mecânicas centrais que fizeram o sucesso do simulador. Como consequência temos acesso a uma experiência muito mais rápida, uma época demora apenas algumas horas, e ideal se querem evitar todas as opções de simulação secundárias que o jogo tradicionalmente impõe.

Este modo consegue ainda resolver aquele que era um dos maiores problemas do jogo, o seu exigente nível de entrada. Não há tutorial que substitua a simplicidade de experimentar o essencial para depois compreender o acessório. Por outras palavras, o modo Classic é perfeito para os novos jogadores por se concentrar no que é essencial em Football Manager, contratar, organizar a equipa e jogar.

Outra das novidades é a forte integração com a plataforma Steam, que além de permitir jogar competições online com os amigos, vai pela primeira vez oferecer tabelas de líderes com uma complexidade admirável para uma estreia, e que permitem finalmente revelar as nossas "skills" de treinador ao resto do mundo. A crescente aposta do simulador no online é a melhor forma de promover a venda de jogos originais e aumentar o compromisso dos jogadores com o conteúdo.

Entrando no jogo propriamente dito, a novidade mais explícita é a reformulada interface (UI), que tem agora um aspeto mais moderno, com as janelas onde se processa a base de dados a surgir através de “pop ups”. Este look vem juntar-se à capacidade de personalização da informação que aparece na página, que foi uma das bandeiras no ano passado.

O motor de jogo das partidas traz mais animações para os jogadores e uma melhoria do comportamento físico da bola, mas isto já é costume todos os anos, não representa nada de inovador. O que faz toda a diferença desta vez é a forma como acedemos às mecânicas, e ao mesmo tempo o modo como o jogo orienta o jogador. Num simulador destes, temos muito pouco controlo direto dos acontecimentos, como os verdadeiros treinadores de futebol, apenas escolhemos a base e as orientações, quem joga de facto são os jogadores no campo.

Gameplay do motor de jogo 3D

"A reformulação do funcionamento das partidas foi das melhores coisas que aconteceu a Football Manager nos últimos anos"

A questão é que para decidir, para melhorar como treinador, o jogo precisa de oferecer orientação. Existem imensas opções táticas e informação estatística em tempo real, ou seja, a profundidade está lá. No entanto, a verdade é que os jogadores não fazem real ideia do que fazer com ela, é aplicar a tática do costume e esperar pelo melhor. Para mudar isto, a interface agora não só permite efetuar mudanças estratégicas, de intensidade de jogo e táticas apenas com alguns cliques, como ela própria orienta o jogador utilizando o treinador adjunto.

Durante as partidas recebemos mensagens de texto constantes do adjunto, feedback contínuo e principalmente específico do que está a acontecer em campo. Ele avisa-nos por exemplo quando um jogador está demasiado agressivo, aconselha mudanças táticas, chama a nossa atenção para algum adversário mais perigoso e até nos dá informação do que está a acontecer nos jogos dos rivais. A reformulação (ou refundação que agora está na moda) do funcionamento das partidas foi das melhores coisas que aconteceu a Football Manager nos últimos anos, permite ao jogo orientar o jogador para uma boa decisão, enquanto garante que ela continua fundamentalmente sua.

De resto podem contar como sempre com o imenso detalhe próprio do simulador da Sports Interactive, com toda a informação incrivelmente detalhada das maiores ligas do mundo, seus clubes, jogadores, equipas técnicas, historial, staff médico, observadores, e agora até existe a figura do diretor desportivo. Em termos práticos esta figura apenas serve para a delegação de ainda mais tarefas, podemos até coloca-lo a controlar completamente as contratações da equipa principal, para nos preocuparmos apenas com as partidas. Custa-me a acreditar no entanto que alguém fosse capaz de tal coisa.

"O último dia em que o mercado está aberto é cada vez mais importante no futebol moderno, e foi por isso que os produtores decidiram adicionar este momento ao jogo"

A razão por que digo isto, é porque as contratações são sem dúvida o aspeto mais gratificante de um Football Manager, e também neste campo existem novidades na versão deste ano. O último dia em que o mercado está aberto é cada vez mais importante no futebol moderno, e foi por isso que os produtores decidiram adicionar este momento ao jogo, onde o tempo no jogo é substituído pelas horas do dia, e quando os empresários redobram esforços para colocar os seus jogadores. É uma boa altura para conseguir bons negócios e empréstimo de alguns jogadores dos clubes maiores.

Outra adição que não é propriamente uma novidade na série é o modo Challenge, que como o nome indica, permite enfrentar uma série de desafios previamente preparados, alguns deles bastante exigentes. Enfrentar uma competição com uma crise de lesões, ou então utilizando apenas um grupo de jogadores jovens das escolas do clube são apenas dois exemplos do que poderão encontrar neste modo, a exigência é geralmente baixa, mas é um modo bastante adequado para experiências curtas de jogo.

Para minha surpresa, acabei por tirar enorme prazer com o jogo, tendo aliás jogado duas épocas completas no modo principal para o propósito desta análise, mais do que planeava originalmente. Joguei com todos os acréscimos supérfluos como as conferências de imprensa ou conversas com a equipa a cargo do meu treinador adjunto, nunca tive paciência para as conversas por mais variáveis que adicionem. Se a qualidade da simulação é determinada pela sua veracidade, importa dizer que lutei por este último título lado-a-lado com o Marítimo, e com o Benfica a doze pontos de distância no terceiro lugar.

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Para terminar, vamos mergulhar num pouco de polémica, nomeadamente sobre os novíssimos “Unlockables” do modo Classic que servem basicamente para comprar “perks” que permitem dobrar o sistema do jogo, por outras palavras, fazer "cheating" em troca de dinheiro. A existência deste sistema para mim é irrelevante tendo em conta que a pontuação na tabela de líderes distingue os jogadores que compram, dos que conquistam de facto determinado objetivo.

Já o seu funcionamento, roça o limite do denominado "pay to win" (pagar para ganhar). É verdade que grande parte destes “perks” são acessíveis por dedicação através dos achievements no jogo, mas alguns deles parecem demasiado "fora do real", afinal, o Belenenses pode comprar o Messi. Este sistema faz do modo Classic basicamente um Football Manager adaptado ao estereótipo do gamer casual que quer completar as épocas rapidamente e aproveitar o essencial, pagando para isso se for necessário.

Resumindo, Football Manager 2013 continua a melhor experiência do mercado no que a um simulador de treinadores diz respeito e vai por isso agradar aos adeptos de futebol em geral. Nunca que um jogo da série trouxe tantas novidades, o que nos deixa a pensar como será o futuro, Miles Jacobsen apontou para um sistema estilo "fantasy draft" na entrevista que nos concedeu, o que aponta claramente para o online. Poderemos um dia ter um FM único, persistente e financiado pela venda de micro conteúdos? Este parece-me um primeiro passo nesse sentido.

9 / 10

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