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Football Manager 2014 - Análise

O melhor emprego de todos?

Se no caso dos simuladores de futebol estilo Fifa ou Pro Evolution Soccer é possível retirar prazer da experiência mesmo quando não gostamos particularmente da modalidade, com os simuladores de treinador a coisa não funciona exatamente assim. Os primeiros são muito mais focados na execução, que por si só é prazerosa e consegue ser imersiva. Já no caso de um título como Football Manager, toda a gratificação vem dos dados estatísticos que o jogo nos atira para cima, e da nossa imaginação ao fantasiar com o vestir a pele de treinador.

Isto para dizer que é muito difícil gostar de Football Manager se não gostarmos de futebol, e é muito complicado sermos competentes também, se não percebermos o desporto rei. O simulador da Sports Interactive é um colosso em Portugal, que como todos sabemos, é um país obcecado por futebol. Não só vende bem, como também é um dos títulos mais pirateados do mercado, questão que a Sports Interactive tem lutado imenso para fintar a cada ano.

A estrutura do jogo promove o lançamento anual, o que quero eu dizer com isto? É um jogo que vive e depende de atualizações, já que não há grande interesse se não tivermos acesso aos novos jogadores, a todas as movimentações no universo do futebol em cada ano. A questão é que nem sempre surgem alterações suficientes que justifiquem um preço novidade, trazendo apenas as normais atualizações e ligeiras mudanças que quase poderiam fazer parte de um simples pacote DLC.

Depois é um jogo de compromisso, que requer várias sessões de jogo. Existem jogos que duram apenas uns dias, outros que se prolongam por alguns meses, mas raramente encontramos os que realmente chegam ao ano de utilização. Isto mudou um pouco com os modos competitivos online, mas se o tempo de jogo é algum indicador sobre se um jogo merece o nosso dinheiro, estou certo de quem gosta mesmo de FM o joga o ano inteiro, até sair a próxima versão.

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Esta versão para 2014 não traz nenhuma grande mudança, mas antes um conjunto de afinamentos, foram efetuadas algumas mudanças ao motor de jogo das partidas é verdade, que têm agora melhor aspeto, particularmente no que à iluminação diz respeito, mas tudo o resto são conjuntos de refinamentos à forma como interagimos com o jogo, à interface que nos faz chegar a informação, e pouco mais. Um dos mais interessantes tem a ver com a melhoria e aumento de opções nos contratos, uma área que passa um pouco ao lado do comum amante de futebol. Com empresários, fundos e cláusulas secretas que conseguem esconder milhões de euros, é difícil até para um simulador da riqueza de Football Manager contemplar todas as particularidades do futebol moderno. Esta versão traz algumas novidades atuais, e que poderão até ser chocantes para alguns, como uma cláusula que garante uma compensação a jogadores, cada vez que temos a ousadia de os deixar no banco, ora bolas.

"É um jogo que vive e depende de actualizações."

Outra novidade que será logo percetível é a forma ativa como os empresários e fundos de investimento se comportam, oferecendo propostas por partes parcelares dos nossos jogadores, tal como vemos a acontecer frequentemente nos dias de hoje (em Portugal acontece muito). Podemos ainda pedir investimentos quando queremos comprar um jogador, dividir o risco propondo que alguém assuma uma percentagem do passe na hora da compra.

Outro momento engraçado são as entrevistas de emprego, que nos permitem transmitir a ideia do que queremos para o clube para convencer o empregador ou melhorar as condições oferecidas. É também possível negociar cláusulas no contrato que temos com o clube, coisas como uma compensação no caso de não cumprirmos a totalidade do contrato, ou prémios de acordo com a obtenção de objetivos. Como sabem temos um salário como treinador principal, mas como este não serve para nada, acabamos por não lhe dar grande importância. A única motivação é a de conseguir um salário cada vez maior, apenas para nos dar uma ideia de progresso. Estas cláusulas não são mais do que um ampliar destes momentos de “ilusão de progressão”. Nunca foi uma direção de design do jogo, mas a verdade é que a Sports Interactive ainda não encontrou uma forma inovadora de incluir algo para fazermos com o salário.

As métricas são muitas vezes criticadas nos videojogos modernos, mas existem certas áreas onde elas podem ser muito úteis, uma delas, a evolução da interface do utilizador. Percebendo quais são as ações mais comuns dos jogadores, é possível tornar o acesso a elas mais simples, rápido e intuitivo. Bem sei que a melhoria da interface é sempre uma bandeira dos lançamentos anuais, mas mais do que parecer diferente, é importante que seja mais acessível, algo que esta versão de 2014 consegue muito bem. Nunca será perfeita, mas é legitimamente melhor do que a anterior.

Para dar alguns exemplos, aqueles quadrados que surgem do lado esquerdo do nome de cada jogador a informar que este se encontra descontente, pretendido, ou indisponível para o próximo jogo, aparecem agora todos sobrepostos, permitindo-nos ter feedback imediato sem ter de trocar de janela. É mais simples definir o papel e instruções dos jogadores no painel da tática. Depois de escolhermos uma instrução individual para um jogador ou posição, o jogo desliga automaticamente aquelas que entrariam em conflito com a primeira, acabando por ser uma boa forma de simplificar o processo e educar o jogador ao mesmo tempo.

Este painel das táticas oferece ainda um feedback imediato através do ranking de cinco estrelas, relativamente à aptidão de cada jogador não apenas na posição que se encontra, mas em cada papel dentro da própria posição. Por exemplo, ao clicar em Lucho González, vemos imediatamente que se adequa mais a um papel de organizador de jogo, do que ao de recuperador de bolas, no caso deste jogador parece óbvio claro, mas à medida que o tempo avança e a nossa equipa começa a ficar populada por nomes menos conhecidos, isto é uma importante ajuda para tirar o máximo proveito da tática.

O staff tem uma importância maior, não porque consigam fazer mais coisas, mas porque o acesso à ajuda dos membros da equipa técnica esteja mais clara e presente. Um pouco por todo o lado temos pequenas janelas de recomendações, com a opção de aplicar a sugestão de imediato, existe até um painel completamente dedicado a isto. Durante os jogos, o treinador adjunto também propõe sugestões que podemos aceitar e aplicar apenas com o pressionar de um botão.

"É difícil até para um simulador da riqueza de Football Manager contemplar todas as particularidades do futebol moderno."

As conversas foram refinadas para oferecer mais opções e ramificações, sendo que agora a imprensa também interage com as equipas adversárias, e por consequência, estas interagem connosco. Quando introduziram estas variáveis secundárias no jogo, eu fui um dos que aplaudiu, por aumentar a fidelidade da simulação, e no fundo, fazerem sentido. A verdade é que têm continuado a crescer em profundidade, e não estou a ver o ritmo a acalmar, agora que os jogadores têm o modo Classics para as evitar totalmente.

O problema, e isto é o que sinto quando jogo, é que rapidamente me aborreço com a interação com a imprensa ou as palestras de fim de jogo, está fora de questão jogar o “save” principal no modo Classics, e por isso acabo por mandar o adjunto fazer todo este trabalho secundário, fazendo-me sentir que estou a fazer alguma coisa de errado.

Claro que posso sempre ir para o modo Classics, a grande bandeira do ano passado, o modo que gerou bastante polémica com os desbloqueáveis, mas que de acordo com os produtores, foi um sucesso. Acho este modo perfeito para aquelas épocas que organizamos com um ou dois amigos numa noitada, aqueles “saves” que depois nunca continuamos apesar das juras iniciais de dedicação. Pelo menos com o Classics, as probabilidades de fazerem 2 épocas é maior.

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A interface deste modo foi totalmente reformulada, está muito melhor, mas neste caso era mais previsível já que se tratava de uma estreia. Oferece um mini tutorial que permite ajustar as indicações táticas de “mão dada” com o jogo, adotou o dia de fecho das transferências do modo normal, sem dúvida uma boa decisão, contratar é das ações mais gratificantes do jogo, perder uma contratação por tempo é das mais frustrantes.

Os desbloqueáveis, a tal forma mágica de fazer “cheating” no FM, tiveram alguns reajustes, mas principalmente é agora possível desligar uma das vantagens conseguidas anteriormente, já não há o perigo de conseguir uma vantagem, e ser obrigado a jogar com ela. Tecnicamente, a velocidade do jogo pareceu-me mais lenta, mais exigente a processar a base de dados em comparação com o anterior. Visualmente está cada vez melhor, em especial durante as partidas, o lado de Football Manager que tem mais espaço para evolução, é a melhor forma de dar feedback acerca das nossas ações no jogo, e quanto maior for a sua fidelidade, mais probabilidade de sucesso terá aquele botão que diz “importar para o YouTube”.

Para resumir, Football Manager 2014 não traz nenhuma grande adição como foi o modo Classics no ano passado, mas antes uma refinação na forma como interagimos com os vários elementos do jogo, com especial destaque para as táticas e interface. Continua o simulador de treinador de futebol mais profundo, complexo e detalhado do mercado, e continua a ser “vício garantido” para o ano inteiro.

8 / 10

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