Freedom Planet - Análise - Dragões no papel de Ouriços
Uma homenagem a Sonic antes de Mania chegar.
Em 2017, a SEGA lançou aquele que se tornaria no melhor jogo de Sonic dos últimos 15 anos, num esforço de Christian Whitehead com a PagodaWest Games e a Headcannon - o primeiro trabalho oficial e original de Sonic criado por fãs. No entanto, vários anos antes, a situação era diferente. Numa altura em que Sonic Mania era apenas uma miragem e Dan Whitehead lutava para mostrar como um jogo de Sonic ao estilo dos clássicos da década de 90 podia resultar, existiam outros fãs que trabalhavam com a mesma postura.
Em 2012, um ano depois de Whitehead ter resolvido a sua disputa legal com a SEGA e apresentar uma versão de Sonic CD para plataformas mais recentes, a Galaxy Trail perseguia esse mesmo sonho, criar um jogo de Sonic que estivesse à altura dos originais - Freedom Planet é o resultado que decidiram perseguir após perderem a vontade em desenvolver um jogo de Sonic que poderia nem sequer chegar a ser terminado, que poucos iriam jogar e que jamais conseguiria ser apresentado em diversas plataformas.
Stephen DiDuro imaginou Freedom Planet, que a todos os instantes parece um jogo para a SEGA Mega Drive, e juntamente com a sua equipa, implementaram novidades e mecânicas que o diferenciam de um Sonic, apesar da linha ser muito ténue. Acima de tudo, o que entregaram é mais uma engenhosa amostra de como os fãs pareciam entender melhor Sonic do que a própria SEGA.
Freedom Planet foi lançado originalmente em 2014, mas a recente versão Nintendo Switch permitiu-nos olhar para este indie e o momento é altamente curioso. Numa era em que Sonic Mania Plus dá continuidade ao sucesso de Sonic Mania, é interessante ver como a realidade era tão diferente há poucos anos atrás. Sonic Mania era o sonho de muitos destes criadores, mas os seus títulos continuam altamente oportunos.
Quando se afastou da ideia de criar um jogo de Sonic, a Galaxy Trail teve de criar personagens originais e descartar os anéis dourados. Lilac, uma mulher dragão, tornou-se na protagonista principal, acompanhada por Carol, uma gata selvagem, e Milla, um cão. O ouriço desapareceu e deu lugar a outros animais que vivem num mundo habitado por animais antropomórficos que se deparam perante uma invasão alienígena.
A forma como trata a história é uma das maiores diferenças para os jogos de Sonic - sequências de diálogos longas que decorrem no início e final de cada nível, que contam uma história com humor no meio de tramas políticas. Nada de muito sério, mas ainda assim bem-vindo e diferente dos jogos com premissas similares, tal como a sua estética Asiática. Tal como Sonic, Freedom Planet assenta na visão de um gameplay rápido onde percorres níveis de forma fluída e dinâmica, com bosses no final.
No entanto, a combinação de elementos claramente derivados de Sonic com mecânicas originais resulta num jogo com altos e baixos, onde terás de enfrentar algumas coisas não tão boas para desfrutar do que tem de bom.
Freedom Planet coloca-te em níveis que a todos os instantes te fazem pensar que estás num jogo de Sonic, mas a protagonista Lilac comporta-se de maneira diferente. Ela não rebola a grandes velocidades, mas pode golpear com a sua cauda como se fosse uma espada. Além disso, ela pode usar um dash poderoso que além de atingir os inimigos, permite-lhe fazer ricochete no cenário e chegar mais alto. Esta mistura entre um derivado de Sonic e algo original tem altos e baixos, mas sem dúvida que nos mostra como os fãs conseguem criar algo verdadeiramente interessante.
O problema de Freedom Planet está mesmo na forma como o design dos níveis nem sempre permite um gameplay fluído e ocasionalmente poderás sentir alguma frustração por parares constantemente, tentando um ângulo de ricochete de sucesso. Os próprios bosses são uma indicação de como Freedom Planet é um jogo de altos e baixos - alguns são altamente divertidos e outros nem por isso.
Quando este gameplay simples permite-te percorrer de forma fluída os cenários, sentes que funciona como desejas, mas em seguida enfrentas paragens que quebram o ritmo. A isto junta níveis que se prolongam de forma quase exaustiva e poderás começar a sentir algo inesperado - um certo cansaço em jogar por muito tempo Freedom Planet. Para um jogo que dura cerca de 4 horas, isso poderá nem ser assim tão mau.
"É no design e longevidade dos níveis que Freedom Planet perde vigor, mas revela algumas ideias muito boas."
Se já terminaste Sonic Mania e Sonic Mania Plus, Freedom Planet poderá ser um bom acompanhamento. Consegue bem mostrar como poderia ser um jogo de Sonic na actualidade, indo mais além do que Mania em alguns aspectos, principalmente na forma como aborda a história. Ao longo do jogo, será frequente ficares com a sensação que é um jogo de Sonic que muda o suficiente para não entrar em sarilhos legais, mas também verás muito de novo. Freedom Planet apresenta boas ideias e momentos muito divertidos, mas o design de alguns níveis afecta imenso o fluir do gameplay e por vezes prolongam-se demasiado.