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Game of Thrones: Iron From Ice e The Lost Lords - Episódio 1 e 2 - Análise

Tão bom quanto a série.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Game of Thrones da Telltale Games é até agora a melhor adaptação aos videojogos da famosa série de George R.R. Martin.

NOTA: Estamos cientes que não escrevemos a análise ao primeiro episódio, isto porque só recentemente, no lançamento do segundo episódio, conseguimos receber acesso ao jogo. Desde então que jogamos os dois episódios disponíveis do princípio ao fim e optamos por publicar uma análise conjunta dos dois em vez de duas análises separadas.

Após dois jogos de qualidade duvidosa desenvolvidos pela Cyanide Studios - um jogo de estratégia chamado A Game of Thrones: Genesis e um RPG simplesmente chamado Game of Thrones - eis que no final de 2014 finalmente surgiu uma adaptação aos videojogos triunfante do mundo criado por George R.R. Martin. Embora um RPG (ou até mesmo um jogo de estratégia) não seja de todo uma má ideia para um jogo inserido neste universo, o estilo da Telltale Games permite não só uma maior aproximação à série da televisão como aos livros. Porquê? Os combates e guerras, que são predominantes num RPG ou jogo de estratégia, existem ocasionalmente em Game of Thrones, mas aquilo que torna esta série excelente são os seus diálogos, personagens interessantes e imprevisibilidade, características que têm mais espaço para brilhar numa história interactiva.

Digo história interactiva porque as criações da Telltale têm de facto poucos momentos nos quais podemos jogar. E quando finalmente assumimos o controlo, dá-mos de caras na maioria das vezes com QTEs (quick-time events). É justo dizer que não há muito por onde fugir na jogabilidade de um point-and-click, mas até para um jogo deste género tenho que admitir que Game of Thrones é extremamente simplista (ainda mais do que Walking Dead). Mas isto não me impediu de desfrutar da experiência. O valor de Game of Thrones da Telltale Games está na sua história, escolha de decisões e criação de empatia com as personagens. Se é disto que estão à espera, não vão ficar desiludidos.

Logo no início fica evidente que estes episódios foram talhados para quem acompanha a série de televisão e acompanha os livros. Os eventos que dão início à intriga começam em pleno Red Wedding (se ainda não chegaram a esta parte dos livros ou da série, não se atrevam a pesquisar no Google o que isto é). Enquanto a série se foca nas principais e mais poderosas familias de Westeros - Stark, Lannister, Baratheon, Frey, Tyrell, Martell e Bolton - o jogo da Telltale foca-se numa família do norte que até agora nunca teve destaque na série da HBO.

Os Forrester, aliados dos Stark e famosos pela sua Ironwood (um tipo de madeira muito resistente e que quando queimada dá origem a uma chama azul), ficam envolvidos em grandes sarilhos depois dos eventos do Red Wedding. Sendo isto um jogo da Telltale, onde a história é para ser saboreada individualmente, nem quero entrar em detalhes sobre o que acontece a seguir, mas posso dizer os traços característicos de Game of Thrones estão bem patentes. O primeiro episódio faz um excelente trabalho na apresentação das várias personagens e tem um final chocante e inesperado que não fui capaz de prever.

Não são apenas personagens novas que vamos encontrar. Há algumas aparições de caras familiares da série, nomeadamente Cersei, Tyrion, Jon Snow, Ramsay Snow e Margaery Tyrell. Estas foram as personagens que encontrei até ao segundo episódio, mas não seria de estranhar se nos episódios seguintes (serão seis no total) aparecessem mais. Mas estas personagens não desempenham aqui mais do que um papel secundário, o foco está realmente na família Forrester.

O primeiro episódio cumpre a sua função, estabelecendo bases fortes para a trama e com o final deixa-nos interessados para o que vem a seguir. O segundo episódio continua a explorar as motivações e sentimentos de cada personagem, mas não tem um final chocante como o primeiro, servindo de ligação para eventos futuros. Com a quinta temporada de Game of Thrones com estreia marcada para abril, seria sem dúvida interessante se os eventos do jogo da Telltale Games se entrelaçassem com os novos episódios e daria aos fãs mais um motivo para conhecer a história dos Forrester.

A estrutura dos episódios é semelhante à da série da televisão e segue um ritmo idêntico, trocando constantemente de personagens, que nos dão várias perspectivas da história e transportam para os vários locais de Westeros. Através de Ethan Forrester conhecemos Ironrath, a casa dos Forrester, com Mira Forrester viajamos até Kings Landing, a capital, e com Gared Tuttle, um escudeiro, somos levados para o gélido Castle Black, mesmo à beira da grande muralha. No segundo episódio será possível controlar mais personagens e ir além de Westeros, mas para evitar estragar surpresas, não digo mais nada.

"A estrutura dos episódios é semelhante à da série da televisão e segue um ritmo idêntico"

Sendo este um jogo da Telltale Games, naturalmente há várias ocasiões para tomar decisões ou escolher o que dizemos. No primeiro episódio, independentemente do que façam ou digam, não conseguem alterar muito o rumo da história. Mas do segundo episódio já não se pode dizer o mesmo. Várias das decisões e falas vão ter consequências futuras. Quando chega o momento de tomar uma decisão, existe sempre aquela incerteza de qual será o melhor rumo para a personagem, pois devido à empatia criada, queremos o melhor para ela, mas nem sempre conseguimos e por vezes o jogo prega-nos rasteiras e mostra-nos que claramente aquela não foi a melhor decisão.

O estilo visual recorrente para Game of Thrones é mesmo que já vimos em The Walking Dead, The Wolf Among Us e outros jogos recentes da Telltale Games. É um estilo que lembra uma banda desenhada e que peca por ser básico, apresentando poucos detalhes e tornando as caras das personagens um pouco estáticas. Isto é bem visível nas caras das personagens que aparecem na série de televisão. Quando estas personagens aparecem no jogo reconhecemo-las imediatamente, mas não são bem a mesma. No entanto, esta linha estética significa que Game of Thrones é idêntico em todas as versões e pode ser jogado em qualquer plataforma, incluindo smartphones e tablets.

Jogar um dos episódios é uma experiência muito parecida à de ver um episódio da série na televisão. Para reforçar este sensação, a Telltale até fez questão de colocar a introdução da série no início de cada episódio (acompanhada pela bela música) e os atores de voz das personagens da série são os mesmos. E tal como a série, no fim de cada episódio ficamos em pulgas para saber o que vai acontecer a seguir, mas não só, conseguimos sentir as emoções das personagens, sofremos com elas e ficamos completamente revoltados se alguma injustiça é cometida. Não restam dúvidas, Game of Thrones da Telltale Games bem que podia levar com um carimbo de autenticidade de George R.R. Martin.

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