Gears of War: Judgment - Análise
A bravura e coragem não se medem ao Kilo.
Gears of War é uma das séries mais ricas que tive o prazer de conhecer nesta atual geração de consolas, que por esta altura vai enviando para as lojas os seus cantos de cisne. Em Novembro de 2006, Gears of War foi uma verdadeira revolução, acompanhado pela chegada do Xbox Live a Portugal, deu-me a conhecer a delícia que é jogar online com amigos e camaradas que tal como nós se querem divertir ao final do dia após um dia de trabalho. Jogar pela diversão e pelo entusiasmo. Gears of War apresentava um jogo de ação na terceira pessoa com uma temática militar e de ficção científica: um futuro devastado por uma ameaça desconhecida que veio debaixo do chão, os Locust, no qual dois jogadores podiam jogar em cooperativo a campanha e até oito podiam partilhar uma sala nos modos online competitivos.
Gears of War foi um jogo sério, que tentava demonstrar as capacidades cinematográficas da consola Microsoft, a Xbox 360 onde foi lançado como exclusivo, e implementar as fundações para um trilogia: personagens com os quais o jogador se iria relacionar, uma jogabilidade e mecânicas de jogo inovadoras e interessantes, modos competitivos e cooperativos revolucionários para a altura e uma quantidade fenomenal de diversão. Tudo o que um jogo poderia ser, repleto com visuais de topo: o estandarte do motor Unreal Engine 3 da Epic Games. Pessoalmente é impossível pensar nesta geração de consolas sem pensar imediatamente em Gears of War.
Apesar da campanha ser verdadeiramente divertida e marcante, Gears of War vibrou com o modo online. Toda uma comunidade nasceu em redor dos combates competitivos entre equipas que tentavam englobar vários tipos de modos desde uma espécie de captura de zonas ao tradicional todos contra todos. Para uma grande parte dos jogadores Gears of War tornou-se sinónimo de multi-jogador, a campanha ficou para segundo plano, e de certa forma foi esta componente que mais fez a série perder fulgor apesar de ser alvo de grande atenção por parte do estúdio.
Se Gears of War era sério, sombrio e de certa forma incoerente e cheio de buracos na história, tal deveu-se à incapacidade da Epic Games contar uma história, especialmente uma tão rica como esta. Antes de se expandir para o mundo da banda desenhada e das novelas escritas que aprofundaram imenso, e de forma interessante, este universo, Gears voltou com a sequela que tentou ser o que o primeiro não foi: um jogo com cabeça, tronco e membros na sua campanha e ao mesmo tempo maior, melhor e mais envolvente. A presença de Joshua Ortega no leme da história ditou um tom mais suave e mais ao estilo de um Comic Norte Americano (Ortega assina os comics desta série) para dar origem a um produto mais envolvente, emocionalmente adequado e correcto, mas feroz e cheio de vida.
Gears of War 3 surgiu em 2011 para dar fim à trilogia de Marcus Phoenix e a série voltou a crescer. A presença de Karen Traviss, escritora das novelas escritas da série, para escrever o enredo ditou novamente um tom mais sério e ainda mais envolvente enquanto o multi-jogador tentava corrigir os erros criticados pela comunidade à sequela. Implementou várias novidades e melhorias para tentar destacar a singularidade desta série e fazer ver que a série Gears é conta mesmo com uma forte aposta nos modos para vários jogadores (campanha cooperativa para quatro foi um estrondo diga-se).
Depois do seu final ficou a questão: 'os fãs querem mais, e melhor (especialmente no multi-jogador), mas será que a Epic quer mais?' A resposta é um claro sim e em menos de dois anos temos Gears of War: Judgment que tenta mostrar como a série pode ser na mesma fiel a si mesma, às suas aspirações mas sem precisar de ser tão série, sem esquecer-se que é um videojogo e não um videojogo a tentar provar que esta indústria é um meio de entretenimento tão válido quanto os outros. Judgment tenta ainda devolver ao modo multi-jogador os dias de glória conquistados em 2006 e coloca mais do que nunca o cooperativo como fundação da sua estrutura.
Judgment retrata a história do Esquadrão Kilo, composto por Damon Baird, Augustus Cole (ambos bem conhecidos dos três jogos da série), que aqui tem a companhia de Sofia Hendrik e Garron Paduk, que vai enfrentar a ameaça de Karn no ataque à cidade de Halvo. Quando o esquadrão desobedece a uma ordem do Coronel Ezra Loomis, vêem-se frente a um julgamento cuja sentença já está há muito declarada. É uma forma bem dinâmica e interessante de contar a história do jogo, cada membro reconta todos os eventos que levaram até aquele ponto e o jogador vai alternando o controlo entre os quatro durante a campanha.
Qualquer aficionado Gears que se preze certamente já sonhou como seria jogar no mundo que imagina ao ler os livros de Karen Travis, já imaginou como seria viver as Pendulum Wars ou o Dia da Emergência na forma de um videojogo. Conhecendo assim mais personagens e conhecendo mais facetas deste mundo tão bem imaginado pelos artistas da Epic. Neste novo jogo Travis dá lugar a Tom Bissell que cumpre um bom trabalho para dar história de fundo aos personagens, para os tornar interessantes e para nos deixar a pensar no seu futuro. Para quem acompanha mais a fundo este universo, personagens como Sofia e Paduk são verdadeiras delícias, especialmente o segundo que lutava contra os COG quando lutava pela UIR.
Até aqui não temos nada propriamente diferente dos anteriores, apenas uma nova fatia desta elaborada linha temporal e presenciar acontecimentos na altura do aparecimento dos Locust até já foi explorado em conteúdos adicionais episódicos em Gears of War 3. Onde Judgment realmente muda e onde o People Can fly coloca o "di" na sua "versão" de Gears é nas mecânicas de jogo na forma como a jogabilidade está desenhada para ser um Gears mais preocupado em ser divertido do que propriamente em ser emotivo ou cinematográfico, diria que Judgment assume mais claramente que é um jogo acima de tudo e que tem todo o prazer nisso.
"Primeiro há uma coisa que quero tirar já do caminho, este é um jogo verdadeiramente assombroso visualmente."
Primeiro há uma coisa que quero tirar já do caminho, este é um jogo verdadeiramente assombroso visualmente. Sem quaisquer reservas digo que é um dos mais belos jogos desta geração de consolas que tive o prazer de jogar até ao momento. O Unreal Engine na sua versão 3.5 mostra uma consola com mais de 7 anos a mostrar que tem todo um enorme poder para dar vida a cenários épicos, lutas incessantes, personagens altamente detalhadas, e uma enorme variedade de efeitos climatéricos que mais do que embelezar a paisagem, afectam a jogabilidade e a postura do jogar perante os vários níveis.
Existe cor por todo o lado, um enorme detalhe nos personagens e cenários verdadeiramente belos, ricos, detalhados e de uma envergadura que impressiona. Poderia passar aqui muito tempo a descrever como Halvo e os seus demais pontos vão marcar e impressionar quem por eles passar mas isso demoraria muito. Este é um jogo que dá gosto de ver e desde o seu trabalho de efeitos aos detalhes visuais e performance, tudo aqui parece afirmar que chegamos ao pico de qualidade desta máquina.